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Mapa das facções no Brasil: PCC e Comando Vermelho disputam hegemonia do crime em 9 estados

PCC e Comando Vermelho são as duas maiores facções criminosas do Brasil - Divulgação/Folhapress
PCC e Comando Vermelho são as duas maiores facções criminosas do Brasil Imagem: Divulgação/Folhapress
do UOL

Flávio Costa e Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

22/08/2018 04h00

Maiores facções do país e ex-aliadas no mundo do crime, o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o CV (Comando Vermelho) estão em confronto direto pelo domínio da rota de tráfico de drogas e dos presídios em pelo menos nove estados brasileiros: Acre, Amapá, Alagoas, Ceará, Pará, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima e Tocantins.

É o que mostra o mapeamento realizado pelos pesquisadores do NEV/SP (Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo) Camila Nunes Dias e Bruno Paes Manso, autores do livro recém-lançado "A Guerra --A Ascensão do PCC e o Mundo do Crime no Brasil" (veja o mapa abaixo).

Dos nove estados listados acima, sete estão entre os que tiveram as maiores taxas de mortes violentas em 2017, de acordo com pesquisa divulgada no 12º Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

Para a dupla de estudiosos, o projeto de expansão da facção paulista pelo Brasil se chocou com os planos do CV e de facções locais e tem relação direta com o alto índice de homicídios nesses locais.

"A chegada do PCC no mercado de drogas de outros estados produziu enorme instabilidade dentro e fora dos presídios, promovendo alianças e rivalidades violentas, tendo um reflexo no aumento das taxas de homicídios, como ocorreu principalmente nos estados do Norte e Nordeste", afirmam.

A expansão nacional do PCC teve impulso nos últimos quatro anos, quando autoridades estimam que o grupo conseguiu batizar cerca de 18 mil novos membros, sendo 3.000 em cidades paulistas e outros 15 mil nos outros estados. Neste outro mapa, é possível ver a influência do PCC em cada estado brasileiro. 

O Ceará é um caso emblemático da guerra de facções. Fortaleza tem o segundo maior índice de mortes violentas entre as capitais brasileiras: 77,3 vítimas a cada 100 mil habitantes.

Além das duas grandes facções, a gangue local GDE (Guardiões do Estado) também disputa a hegemonia nas prisões e nos pontos de venda de drogas cearenses. Atualmente aliada ao PCC, a GDE foi responsável por uma chacina em janeiro que resultou na morte de 14 pessoas.

Dias depois, presos ligados ao CV mataram dez rivais do PCC em uma cadeia do estado, como forma de represália.

"Com dois portos importantes, Pecém e Mucuripe, o Ceará é muito importante dentro da logística do tráfico internacional de cocaína para países europeus e africanos", afirma um agente da Polícia Federal que investiga o crime organizado na região Nordeste.

Guerra de facções começou em 2016

Fundado em 31 de agosto de 1993, no Anexo da Casa de Custódia de Taubaté (130 km da capital paulista), o PCC tinha como inspiração o lema "Paz, Justiça e Liberdade". As palavras de ordem são originalmente do Comando Vermelho, grupo criminoso do Rio de Janeiro, nascido no final dos anos 1970, ainda durante a ditadura militar.

As duas facções eram aliadas até o segundo semestre de 2016, quando entraram em confronto definitivo por, entre outros motivos, disputarem batismos de criminosos em presídios.

"Tem algumas facções nos estados, que estão querendo bater de frente com nós [PCC], e elas dizem que fizeram uma aliança com vocês [Comando Vermelho]", lê-se no salve (comunicado) enviado à época pelos líderes da facção paulista a um dos chefes do Comando Vermelho Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP. Ele recebeu o bilhete em sua cela no presídio federal de Catanduvas (PR).

O PCC desejava que o traficante carioca intermediasse um acordo, o que não aconteceu. Segundo investigações policiais, Marcinho VP recusou-se a interceder ao afirmar que cada filial do Comando Vermelho nos estados tem autonomia de
ação.

Pichação feita com sangue das vítimas em muro de presídio de Manaus - Reprodução - Reprodução
Pichação feita com sangue das vítimas em muro de presídio de Manaus
Imagem: Reprodução

A partir daí iniciou-se uma série de confrontos em presídios do país, cujo ápice foi o chamado massacre de Manaus: no primeiro dia de 2017, membros da FDN (Família do Norte), então aliada do Comando Vermelho, assassinaram 56 presos (exatos 26 eram filiados ao PCC). 

"Se está ocorrendo essa guerra, não chegou ao meu conhecimento. Mas é lamentável preso destruindo preso", desconversou Marcinho VP, em entrevista ao UOL.

Mapa revela facções regionais

O mapa foi obtido com exclusividade pelo UOL e será apresentado nesta quarta-feira (22) durante o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, realizado em Brasília. Ele fará parte de uma versão especial do Anuário Brasileiro de Segurança Pública. O mapa mostra também quais são as facções de alcance regional em cada estado brasileiro.

Além do projeto de expansão da facção paulista, os pesquisadores identificam outros três fatores que influenciaram o processo de surgimento desses grupos criminosos, a partir do começo dos anos 2000. Os dois primeiros são a migração de especialistas de roubos a bancos para outros estados do país e a abertura de franquias do Comando Vermelho.

O terceiro fator foi o surgimento de facções estaduais inspiradas, sobretudo, no exemplo do PCC, mesmo aquelas que foram criadas para se opor ao grupo paulista, a exemplo da Okaida, na Paraíba, e do Sindicato do Crime, no Rio Grande do Norte.

Presídios pelo Brasil - Luiz Silveira/Agência CNJ - Luiz Silveira/Agência CNJ
Facções brigam por rotas de tráfico de drogas e pelo domínio dos presídios
Imagem: Luiz Silveira/Agência CNJ

"O crescimento do mercado consumidor de maconha, cocaína e crack em todas as regiões brasileiras, nas grandes, médias e pequenas cidades, permitiu a costura das redes carcerárias às malhas urbanas em todo o país," afirmam os pesquisadores Camila Nunes Dias e Bruno Paes Manso.

"A porta giratória da prisão, girando freneticamente, foi tecendo essa rede e conectando esses indivíduos entre si, produzindo vínculos, identificações, alianças. Mas, também, competição, rupturas, conflitos, violência e mortes."

Para combater as facções, os estudiosos defendem a implementação de políticas de segurança pública que integrem ações de repressão qualificada (com inteligência e investigação) às de caráter preventivo. 

"É preciso oferecer serviços públicos de qualidade, a exemplo de saneamento básico, saúde, educação etc, e focar nos segmentos da população mais vulneráveis à violência das facções, da polícia e do sistema carcerário: os jovens, pobres e negros", afirmam.

No último dia 20 de julho, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, afirmou que será criada uma Comissão Nacional de Inteligência e Operações contra o crime organizado. 

“Hoje o sistema penitenciário brasileiro, que já é o terceiro maior do mundo, está sob o controle das facções e grupos criminosos", disse Jungmann à Agência Brasil.

Ainda não há previsão para o início dos trabalhos da comissão.

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