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A mulher sente dores na hora do sexo? A causa pode ser vaginismo; entenda e saiba como tratar

A mulher que detecta problemas na vida sexual não deve ter medo de procurar ajuda - iStock
A mulher que detecta problemas na vida sexual não deve ter medo de procurar ajuda Imagem: iStock

Bárbara Forte

Do BOL, em São Paulo

04/05/2017 09h17

Uma em cada dez mulheres sente dores durante a relação sexual, segundo pesquisa divulgada pela London School of Hygiene and Tropical Medicine e pela University of Glasgow em janeiro de 2017. Grande parte destas mulheres pode estar sofrendo de um problema pouco conhecido, mas que prejudica a saúde íntima da mulher: o vaginismo. 

Segundo a ginecologista Mariana Maldonado, membro da Febrasgo (Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia), da SGORJ (Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Estado do Rio de Janeiro) e da SBRASH (Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana), é importante que a mulher que sente dores durante o sexo busque ajuda de um especialista para fazer o diagnóstico correto.
 
“O primeiro profissional a ser consultado deve ser o ginecologista. Ele verá se há alguma coisa que explique o desconforto, como uma irritação local por produtos inadequados, inflamações vaginais, ou alterações anatômicas”, diz Mariana. 
 
De acordo com o ginecologista Eliano Pelini, membro da SOGESP (Associação de Obstetrícia e Ginecologia de São Paulo), o próximo passo é entender as queixas da paciente: “É preciso levar em consideração a história clínica e a dificuldade que a mulher tem em realizar o exame físico e ginecológico”.
 
Os dois especialistas, porém, alertam que a classe médica nem sempre identifica a disfunção sexual. “Por incrível que pareça, o médico, que está mais do que habituado a cuidar da parte íntima da mulher, nem sempre está preparado para identificar esse tipo de situação e encaminhar ao profissional correto para tratar. Muitas mulheres que sofrem com o problema acabam fazendo uma verdadeira peregrinação até encontrar a ajuda necessária”, revela Mariana. 
 
“Falta conhecimento do problema em sua plenitude, faltam ambientes adequados para discutir esse assunto, o atendimento é feito de forma inadequada por ginecologistas não preparados para atendimento dessas disfunções”, completa Eliano. 
 
Vagina, mulher, sexo, problemas - Getty Images - Getty Images
O vaginismo faz com que a mulher sinta dores durante a penetração
Imagem: Getty Images
Sintomas 
 
Segundo a ginecologista Mariana Maldonado, uma contração involuntária da musculatura pélvica – a qual a mulher não consegue controlar ainda que queira muito –, desencadeada pelo medo da dor da penetração vaginal, podem ser alguns dos sintomas do vaginismo. 
 
“A maioria das mulheres que sofre do problema é fisicamente normal, sem nenhuma característica na genitália que possa provocar dor ou desconforto na penetração, mas costumam ser bem ansiosas e têm dificuldades com o corpo, principalmente em se manipular. Elas costumam ter pouca ou nenhuma intimidade com o próprio corpo”, revela. 
 
Causas 
 
A ginecologista Mariana Maldonado explica que o principal estímulo para disparar a reação é o medo que a mulher tem da dor que a penetração pode causar.
 
"Este medo pode ser real, principalmente se existe alguma causa física como, por exemplo, uma infecção vaginal, alergias ou alterações na anatomia. Também pode estar relacionada, de forma consciente ou inconsciente, a lembranças de experiências sexuais passadas traumáticas, como ter sofrido um abuso ou violência sexual. Uma educação sexual repressora, religiosidade extrema, falta de informação sobre o que é o ato sexual e de conhecimento do próprio corpo também podem causar medo e estresse na hora H". 
 
Tratamento 
 
Eliano Pelini lembra que o tratamento deve ser acompanhado por um especialista da confiança da paciente e que deve ter apoio. “Com esse apoio, exercícios fisioterápicos de aprendizado do relaxamento dos músculos do assoalho pélvico, além da colaboração da paciente, com exercícios vaginais de dilatação, a disfunção pode ser cessada”, diz. 
 
Ele também ressalta que a terapia sexual é fundamental no tratamento, associada ao apoio multidisciplinar. “O médico ginecologista compreensivo, a fisioterapeuta adequada, os exercícios bem orientados somam-se ao grupo de terapia”, afirma. 
 
O CORPO DA MULHER MUDA APÓS A PRIMEIRA RELAÇÃO SEXUAL? ? - Didi Cunha/UOL - Didi Cunha/UOL
Conhecer o próprio corpo é importante para melhorar a disfunção
Imagem: Didi Cunha/UOL
Para Mariana Maldonado, conhecer o próprio corpo é parte importante no processo. “Costumo dizer que quando a mulher consegue completar todas as etapas dos exercícios de autoconhecimento, manipulando sua vagina (por fora e por dentro) com toda a desenvoltura e naturalidade necessárias, 70% do tratamento já está feito”, diz. 
 
Terapia sexual  
 
Com relação à terapia sexual, a especialista revela que a busca por ajuda ainda é vista como tabu no Brasil: "A mulher tem vergonha de falar sobre o assunto". 
 
"Na maioria dos casos, a mulher pensa que é a única que sofre com isso e acaba não buscando ajuda por achar que não existe algo que possam fazer por ela. Mas, a partir do momento que ela consegue conversar com alguém, seja uma amiga ou a própria ginecologista, e descobre que o que ela tem pode ser tratado, um novo mundo de possibilidades passa a existir", explica.
 
Diferentemente da terapia tradicional, a sexual tem como proposta ser breve e com foco no problema, de forma clara e objetiva. Durante as sessões, são trabalhados exercícios sexuais para estimular o autoconhecimento e o erotismo, com uma psicoterapia breve para trabalhar dificuldades emocionais e comportamentais. 
 
"Todo o processo trabalha na aproximação dessa mulher com seu próprio corpo. Quando ela passa a entender o que sente e se sentir mais confortável na relação, grande parte dos problemas deixa de existir", finaliza Mariana.
 
Ajuda gratuita

O Hospital das Clínicas de São Paulo tem um projeto que auxilia, gratuitamente, mulheres com problemas ou disfunções sexuais que buscam tratamento. Por meio do Prosex (Projeto Sexualidade), do IPQ (Instituto de Psiquiatria), pacientes podem se consultar e buscar tratamentos relacionados à sexualidade. 

Telefone: (11) 2661-0000
Endereço:  R. Dr. Ovídio Pires de Campos, 785 - Cerqueira César - São Paulo (SP)
Site: http://ipqhc.org.br  

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