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Forças Armadas deixam Maré após 15 meses, 8 mortes e incontáveis tiroteios

do UOL

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio

30/06/2015 06h00

Em um ano e três meses de ocupação, que termina nesta terça-feira (30), com a transferência do patrulhamento para a Polícia Militar, mais de 23 mil militares das Forças Armadas atuaram no complexo de favelas da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro. Dentro de uma das regiões mais violentas da cidade, alvo de disputas entre facções criminosas rivais, eles integraram a chamada Força de Pacificação, com poder de polícia.

Neste período, no entanto, a paz se limitou ao nome dado ao conjunto de tropas, trocadas a cada dois meses. Casos de violência, tiroteios, agressões de militares contra civis e mortes se acumularam nas comunidades, levando moradores a afirmar na última semana que a operação das Forças Armadas falhou.

Durante os 15 meses, foram registradas oito mortes violentas nas 15 comunidades da Maré ocupadas pelos militares. Uma delas foi a do sargento Michel Augusto Mikami, em novembro do ano passado, durante um patrulhamento na Vila dos Pinheiros. As outras sete vítimas eram moradores do complexo. Não foi informado quantas delas estavam envolvidas com o crime.

Segundo a Força de Pacificação, 27 integrantes das Forças Armadas foram feridos a balas em ações de confronto com criminosos, sem gravidade. Na noite do último dia 17, três deles foram alvejados em uma troca de tiros que resultou na morte de um morador da Vila dos Pinheiros. Vanderlei Conceição de Albuquerque, 35, estava dentro de casa quando foi atingido por uma bala perdida.

A primeira morte registrada durante a ocupação ocorreu ainda no primeiro mês da operação. Em abril do ano passado, Terezinha Justina da Silva, 67, foi atingida por dois tiros no peito e no abdômen e não resistiu aos ferimentos. Em setembro, o líder comunitário Osmar Paiva Camelo, presidente da Associação de Moradores do Morro do Timbau, foi morto com sete tiros à queima-roupa na sede da associação.

No mês de outubro, em uma cena emblemática registrada em vídeo, militares da Força de Pacificação se abrigaram em um mercadinho durante um tiroteio na favela Salsa e Merengue (Conjunto Novo Pinheiro).

Em fevereiro deste ano, um homem passou cinco dias em coma e teve a perna amputada depois de ser atingido por tiros de fuzil disparados pelo Exército quando voltava para casa de carro de um jogo de futebol com outros quatro amigos.

E o comportamento dos integrantes da Força de Pacificação também provocou transtornos. Ao longo da ocupação, foram instaurados quatro Inquéritos Policiais Militares para apurar denúncias de suposta prática de agressão por parte dos militares contra civis. Os processos estão em andamento e, até o momento, ninguém foi punido.

Outros números divulgados pela Força de Pacificação ajudam a demonstrar por que a ocupação transcorreu longe da tranquilidade. Do dia 1º de abril do ano passado até o último dia 23, as tropas federais informaram ter efetuado 672 prisões, 252 apreensões de menores e 1.352 apreensões dentre drogas, armas, munições, veículos, motos e materiais diversos.

Ao todo, foram realizadas mais de 82,3 mil ações, entre elas revistas de pessoas e veículos, patrulhamento ostensivo e postos de bloqueio.

Em resposta a questionamento da reportagem, a Força de Pacificação informou na última quinta-feira (25) que o número de confrontos entre as tropas federais e criminosos ainda estava sendo contabilizado.

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