Investigando o investigativo: 16 fatos sobre Caco Barcellos
Caco Barcellos é um nome de destaque quando falamos do jornalismo brasileiro. Nesta terça-feira (5/3/2019), ele celebra 69 anos de uma trajetória repleta de prêmios e reconhecimentos. Conheça os livros, as reportagens, os perrengues e muito mais sobre a vida do repórter investigativo que queria ser jogador de futebol, acabou virando taxista e precisou ir para fora do país por conta de ameaças após publicar seu segundo livro. Nesta lista, você descobre os segredos de um casamento bem sucedido, a dieta que se mantém desde a fase hippie e ainda a opção por não usar desodorante, além dos posicionamentos sobre política e debate sobre drogas.
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Antes do jornalismo
Caco Barcellos nasceu na periferia de Porto Alegre (RS). Aos nove anos, atuava como coroinha da igreja e, aos 11, já trabalhava em uma tipografia, fazendo livros. Embora sonhasse com a carreira de jogador de futebol, vindo de uma família de caminhoneiros, aos 18 anos, começou a dirigir táxi pela cidade. Até hoje, jogar bola faz parte de sua rotina, mas a vida de motorista ficou para trás. Durante o curso de Matemática - que começou, mas não concluiu -, ele atuou junto à redação do jornal do centro acadêmico da faculdade. Empolgado, conseguiu um estágio no jornal Folha da Manhã, mas tinha receio de perder o posto caso algum colega o visse no ponto de táxi, que ficava na mesma rua. Por isso, tentava se esconder sempre que possível, até ser visto pelo editor, que resolveu dar uma pauta especial para o novato: contar sobre a vida e os macetes da profissão de taxista
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Talento de principiante
Logo após se formar como jornalista, Caco Barcellos resolveu tentar a sorte em São Paulo. O resultado? De cara, ele conseguiu emplacar uma matéria na primeira página do Jornal da Tarde. O tema em questão foi o terremoto que havia presenciado na Guatemala, no qual morreram 20 mil pessoas. A repercussão foi boa e ele foi escalado para cobrir férias na redação
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Inciativas de um comunicador
Durante os anos 1970, Caco se destacou na imprensa alternativa. Preocupado com a truculência policial, que presenciou desde a infância na periferia, atuava denunciando casos de violência e dando voz a vítimas. Foi um dos fundadores da Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre e criou a revista Versus - que publicava grandes reportagens sobre o continente latino americano. Em contrapartida, também contava as histórias que apurava em veículos de grande alcance, como as revistas Veja e IstoÉ
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Nicarágua
Caco viajou pelo mundo por cinco anos, contando histórias por onde passava, e enviando matérias tanto para a imprensa alternativa, como para veículos da grande imprensa. Em 1979, ao saber sobre as ações dos sandinistas (adeptos do movimento político de esquerda Sandinismo) contra a ditadura de Anastazio Somoza, fez questão de viajar à Nicarágua para cobrir a ofensiva dos guerrilheiros. Nesse período, foi sequestrado por um grupo local formado por garotos de, em média, 13 anos: "Eles me pegaram pensando que eu era americano, espião da CIA", contou à revista Claudia. Assim que conseguiu esclarecer o mal entendido, foi liberado - horas depois - e permaneceu com os jovens até o fim do conflito a fim de contar o outro lado da revolução. Dessa experiência, nasceu o livro "Nicarágua, a Revolução das Crianças" (1982)
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Coração de repórter
Com uma carreira marcada pelo jornalismo investigativo, Caco Barcellos falou sobre os segredos da profissão para o site Memória Globo: "É muito complexo contar bem uma história. O mais complicado e trabalhoso é provar que ela é verdadeira. Porque, mesmo acreditando em uma fonte, temos o dever de desconfiar". A principal preocupação do profissional é contar a melhor história e não contá-la primeiro
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"Rota 66"
Em 1993, Caco Barcellos publicou o seu segundo livro, para o qual passou oito meses pesquisando para basear uma denúncia contra a violência policial nas periferias paulistanas. Com a publicação, ele ganhou o Prêmio Jabuti na categoria Reportagem e respondeu a 18 processos, sendo absolvido de todos. Ainda por conta do livro, ele precisou deixar o país depois de receber uma série de ameaças
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Premiações
Caco Barcellos acumula prêmios com reportagens investigativas que impactaram o público. Em 1995, o seu trabalho de identificar um cemitério clandestino em São Paulo com os corpos de oito vítimas da repressão política, consideradas "desaparecidas" durante o regime militar, levou o Prêmio Caixa Econômica Federal de Jornalismo Social. No ano seguinte, com a reportagem "Riocentro, 15 Anos Depois", conquistou, ao lado do jornalista Fritz Utzeri, o Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos. Em 2001, com a série "Angola, a Agonia de um Povo", recebeu o Prêmio Líbero Badaró. Esses foram apenas algumas das conquistas do jornalista, que ainda se destacou em seus trabalhos como correspondente e escritor
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Correspondente
Caco Barcellos foi correspondente internacional em Nova York, mas, após seis anos, em 2001, deixou o país para trabalhar em Londres, pela Globo. Em 2003, com a descentralização do escritório, foi para Paris. Em 2004, chamou atenção ao cobrir o conflito entre palestinos e israelenses ao lado do cinegrafista Sérgio Gilz e da jornalista Débora Berlinck. Na ocasião, eles tiveram o carro de reportagem alvejado por soldados. Com coberturas famosas, como a dos atentados terroristas em Madri, em 2003, e da morte do papa João Paulo II, em 2005, ganhou destaque e foi reconhecido duas vezes como o Melhor Correspondente, em prêmio concedido pelo site Comunique-se
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"Abusado"
"Abusado, o Dono do Morro Dona Marta" (2004) é outro livro de sucesso do jornalista e escritor. A história - que garantiu ao autor o Prêmio Jabuti na categoria Não Ficção e o Prêmio Vladmir Herzog de Anistia e Direitos Humanos - tem como base uma reportagem romanceada sobre o tráfico de drogas dos morros cariocas. Ao todo, foram sete anos de pesquisa para a publicação do livro, que se tornou um best-seller. "Foi o trabalho de reportagem que mais me marcou do ponto de vista pessoal. Passei muito tempo envolvido com aquelas pessoas e aprendi bastante sobre como as coisas funcionam ali", revelou Caco em entrevista à revista Claudia. O jornalista contou a história do Comando Vermelho sob a ótica do traficante Marcinho VP, que foi morto pouco depois da publicação do livro
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Luta contra as injustiças
Os temas espinhosos sempre estiveram presentes na vida profissional de Caco Barcellos. Em entrevista à revista Claudia, ele afirmou saber exatamente o que é ter medo. "Eu acho que o medo é um sentimento muito importante porque ajuda a ter juízo e bom senso. Se pudesse escolher, preferiria não correr riscos, mas acho fundamental tocar nas questões nacionais mais delicadas. Fico indignado com certas situações e não consigo passar batido por elas"
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Globo
Barcellos entrou para a Globo em 1980 e marcou presença em programas como Jornal Nacional, Fantástico, Globo Repórter e, o mais recente, Profissão Repórter. Sobre este último, afirmou, em entrevista à Claudia: "Quem é jovem se surpreende muito mais do que os veteranos com tudo e vai querer contar aquelas histórias com mais ênfase. Acho importante manter essa inquietude intelectual, que é uma característica mais do começo da vida profissional". Além de apresentar, o repórter é também o idealizador do programa, que estreou em 2006, ainda como um quadro do Fantástico. Em 2012, a atração foi finalista do Emmy na categoria atualidades
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Casamento em casas separadas
O jornalista nutre um casamento de mais de 20 anos com a estilista Beatriz Fragelli, com quem teve os dois filhos mais novos, Iuri e Alice. O primogênito, Ian, é fruto do relacionamento anterior do repórter. De acordo com o profissional, o segredo para a união de sucesso que mantém atualmente é justamente a vida dinâmica que ambos levam: "Acho importante ter histórias independentes. A rotina dos dois é bem intensa e vivemos em casas separadas. Quando nos encontramos, é para ficarmos juntos mesmo", pontuou
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Alma hippie
Em conversa com a revista Claudia, Caco ainda revelou os cuidados com a saúde - que tem desde a juventude - e que garantem a aparência jovial, que conquista ainda mais fãs. O jornalista viveu uma fase hippie na década de 1970 e, desde então, é adepto da alimentação macrobiótica. Além disso, não usava xampu até os 25 anos e, até hoje, dispensa desodorante: "Não vejo necessidade. Dependendo dos alimentos que você ingere, o odor do corpo muda", garante o profissional. Tantos hábitos saudáveis, segundo ele, são para "não morrer antes da hora": "Envelhecer não me incomoda; é a parte do morrer que preocupa"
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Um dos melhores
Ao ser questionado pela revista Trip se considerava ser o melhor repórter da TV, garantiu: "Sem falsa modéstia? Eu estou entre os melhores. No mínimo eu mereço estar entre eles. Tenho consciência de como as pessoas me veem na rua. O melhor do trabalho é isso de carinho e de atenção. Adoro quando alguém lembra de coisas que eu fiz em 1989. Eu tenho consciência de que não sou nada, mas tem gente que acha que eu sou, né? E é melhor que achem que eu seja, porque senão eu não teria emprego, né? [Risos.] Fico mal quando alguém fala que está uma m****, que eu errei a mão. Quando elogiam, acho normal, eu já esperava. Quando você começa a fazer um trabalho bom você fica refém dele... Fica totalmente. Você quer que o trabalho seguinte seja sempre melhor. Mas acho bom, fundamental que não se perca isso. E também, às vezes, a gente tem que ter a coragem de ir contra a maioria. Eu já tive barras difíceis que enfrentei, mas fiz o meu papel"
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Posicionamento político
"Você se considera um cara de esquerda?". Essa foi a pergunta que fez Caco Barcellos ponderar ao ser questionado em entrevista à Trip. A resposta? "Se é que esse termo faz sentido hoje em dia... Talvez faça, mas eu nunca fui vinculado a nada. Nunca tive partido, ONG... não precisa. Talvez pela maneira de eu ver o mundo, sim, sou de esquerda"
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Debate sobre as drogas
Ainda em entrevista à revista Trip, Caco Barcellos falou sobre a legislação de drogas no Brasil: "Não tenho opinião formada, mas eu defendo firmemente o debate sério, público e consequente. Que busque soluções e que seja bem realista. Por exemplo, não adianta debater, no momento, a cocaína. Que envolve relações bilaterais, outros países. Se você legalizar a cocaína, como é que fica pra comprar? No tráfico internacional? A legalização implica a produção, e aí a gente não tem matéria-prima... Mas a maconha, por exemplo, eu sou favorável à discussão. Se legalizada, a gente transforma o traficante em comerciante. Sugiro que tudo fique dentro da lei, assim como vender cachaça é legal e causa um dano pra saúde. Eu detesto cachaça, acho que é a droga que mais faz mal no Brasil. Mas não deve ser proibida senão vai ter um traficante vendendo cachaça e de pior qualidade". Caco ainda afirmou que o pai fumava muito cigarro e que se decepcionou ao oferecer um ao filho, quando ele fez 18 anos e receber uma recusa à oferta
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