Com Trump como aliado, Fifa tem desafio político diante do conflito EUA-Irã

Era um 21 de junho quando Estados Unidos e Irã entraram lado a lado no gramado do estádio Gerland, em Lyon, na França. Os iranianos entregaram flores brancas, as duas seleções posaram juntas para foto, e o jogo virou um dos maiores símbolos de paz e diplomacia da história das Copas do Mundo.
A cena parece utópica 27 anos depois.
Também em um 21 de junho, o governo americano, sob o comando de Donald Trump, fez um ataque a bombas em instalações nucleares iranianas.
Tensão elevada e problema político para a Fifa, enquanto acontece o Mundial de Clubes em solo americano.
E tem mais: o Irã já é um dos países classificados para a próxima Copa do Mundo, que será justamente nos Estados Unidos — além de Canadá e México.
Por enquanto, ainda não houve uma declaração formal de guerra entre os dois países. Mas o Irã alega ter o direito de uma resposta proporcional ao que considerou uma agressão flagrante dos EUA.
Procurada, a Fifa não se manifesta oficialmente sobre a situação toda.
A gestão atual da entidade é uma parceira próxima do governo Trump. Gianni Infantino tem no presidente americano um aliado para colocar em marcha o projeto atual de Mundial de Clubes e a maior fatia da Copa 2026.
O evento do ano que vem será o primeiro com 48 seleções e 11 das 16 sedes são americanas. Serão 78 dos 104 jogos nos EUA, incluindo a final.
Segundo o UOL apurou, não houve uma discussão tão direta sobre o assunto entre os presidentes das confederações continentais e a Fifa — esse bloco forma o concílio da entidade.
Por enquanto, o Mundial de Clubes se desenrola como se nada como se nada tivesse acontecido no Oriente Médio — salvo um aumento de rigor na revista nos estádios. Ao mesmo tempo, os planos para a Copa do Mundo de 2026 continuam.
Nos bastidores, há quem veja como atenuante o fato de não haver qualquer conflito em solo americano ou ocupação no território iraniano das tropas dos EUA.
Outro assunto controverso sobre o qual a Fifa não se manifesta é a política imigratória de Trump.
A entidade, no entanto, se vê resguardada em relação à Copa porque a Casa Branca deixou claro que haverá exceções. Uma delas envolve "qualquer atleta ou membro de uma equipe esportiva, incluindo treinadores, pessoas que desempenham uma função de apoio necessária e parentes próximos, viajando para a Copa do Mundo, Olimpíadas ou outro grande evento esportivo". Mas e os torcedores iranianos?
E a punição à Rússia?
Quando a Fifa validou as sanções à Rússia, tirando a seleção das Eliminatórias da Copa 2022 em diante, um dos elementos usados pela entidade foi o fato de que houve invasão de território ucraniano pelas tropas russas.
No processo que chegou à Corte Arbitral do Esporte (CAS), a Fifa deu mais detalhes da argumentação jurídica para manter os russos punidos.
Uma delas foi a reação da comunidade internacional e as sanções econômicas contra os russos. A Fifa também pontuou que seleções de outros países, como Suécia, Polônia e Tchéquia, se recusaram a enfrentar os russos na ocasião. Foi nessa que a Uefa também entrou no barco pró-sanções aos russos.
Esse combo, segundo a alegação da Fifa no processo, impediria o "bom funcionamento" das competições. Sobretudo da Copa do Mundo.
Nada disso parece acontecer com os Estados Unidos — tirando Rússia e China, que não têm força no futebol. O que gera certa tranquilidade para a Fifa não reagir às tensões da política de Trump.
A Fifa até hoje também não deu qualquer sanção em razão do conflito entre Israel e Palestina.
Na última vez que a Fifa tirou um torneio de seleções de algum país, foi o Mundial Sub-20 de 2023. Ele deveria acontecer na Indonésia, mas o país se viu em meio a protestos contra a participação de Israel e falta de condições de segurança.
O torneio mudou para a Argentina. A seleção de Israel eliminou o Brasil nas quartas de final, inclusive.