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'Para David': norueguesa corre no Rio por filho que teve morte trágica

Irene Hegre participou da Maratona do Rio com homenagem ao filho - Reprodução Instagram
Irene Hegre participou da Maratona do Rio com homenagem ao filho Imagem: Reprodução Instagram
do UOL

Do UOL, no Rio de Janeiro (RJ)

21/06/2025 05h30

Quando Irene Hegre ultrapassou a linha de chegada, a medalha que colocou no peito teve um valor especial. Afinal, percorreu os 10 km da Maratona do Rio com o nome de David às costas. As corridas, inclusive, se tornaram uma forma de reconexão com o filho.

Depois que meu amado filho morreu inesperadamente, a vida ficou muito difícil e pesada. Sempre gostei de correr. Ajuda-me quando estou frustrada, estressada, deprimida. Além disso, David era um bom corredor. A professora de educação física me contou que ele, simplesmente, corria sem parar pela pista e não cansava.
Irene Hegre

David morreu em outubro de 2023, quando tinha 10 anos, ao cair em um penhasco de cerca de dez metros, segundo a imprensa norueguesa, em uma trilha até Hilleknuten, em um local que fica ao lado do teleférico de Fidjeland.

Morávamos em um ótimo bairro, mas tudo ao meu redor me lembrava terrivelmente que David não estava mais aqui: nossa casa, seus amigos e pais que eu encontrava na rua, a escola, o campo de futebol, os lugares onde costumávamos fazer trilhas, tudo.

Através de Paal Larsen, marido de Irene, a família — pai, mãe e um filho de 12 anos — teve a oportunidade de se mudar. Dentre opções como Cingapura, Canadá e Inglaterra, escolheram o Brasil. "Era longe, muito diferente da Europa, e com o Rio de Janeiro urbano, emocionante. No início da minha vida, também queria ir para a África ou América Latina para trabalhar com ajuda humanitária, mas a vida não me deu a chance antes".

Chegamos aqui, e foi bom andar pelas ruas sozinha, observando os outros levarem suas vidas como sempre. Depois de perder um filho, você não se encaixa em lugar nenhum, as coisas nunca mais serão as mesmas, então você se torna uma observadora da vida dos outros, ou finge 'ser normal', quando não é.
Irene

Ela sempre foi ligada aos esportes. Além da corrida, jogou handebol por quase 25 anos. Paal ainda a apresentou ao ciclismo. O gosto pelas atividades físicas foi passado a David, e ajudou a mãe após o trauma do adeus precoce.

David gostava muito de futebol e era o jogador mais inclusivo e com fair play. Ele sempre ajudava os que tinham dificuldades, e nunca reclamava ou ficava bravo com os outros. Em um torneio nacional no verão anterior à sua morte, ele foi escolhido pela equipe competidora e pelos juízes para receber o chamado "Green Card" pelo jogador com mais fair play, logo na primeira partida.

"Depois da morte de David, no início, não consegui correr. A equipe de crise (apoio após acidentes/traumas graves) recomendou-me que caminhasse todos os dias, apenas para respirar ar fresco e movimentar o corpo, pois isso comprovadamente fazia bem à saúde mental. Depois de alguns meses, passei de caminhadas para corridas curtas, embora sentisse que o meu corpo nunca mais conseguiria funcionar. Mas funcionou. Usei fones para bloquear os meus pensamentos (quer corresse ou andasse), e isso tornou-se a única coisa mais importante para mim, me ajudava a sair da cama. Se não tivesse tido esta paixão, não sei se estaria funcionando hoje", conta.