Xabi Alonso estreia no Real Madrid com novo futebol contraponto a Guardiola

O tropeço do Real Madrid na estreia do Mundial de Clubes, com empate contra o Al Hilal, não tira o otimismo em relação ao futuro do time e à transformação pretendida com a chegada do novo técnico.
Xabi Alonso retorna ao Real Madrid em nova função carregando a tradição de quem ganhou a décima Champions League pelo clube sob o comando de Carlo Ancelotti. Mas com a expectativa de ser a nova revolução do futebol moderno, contraponto a Josep Guardiola. Em vez de apenas marcação por pressão e posse de bola incessante, seu jogo campeão alemão pelo Bayer Leverkusen, em 2024, apoia-se num conjunto de ações por blocos. Da construção para sair da defesa e chegar ao ataque à contrapressão e contra-ataques, treinados para momentos em que o adversário consegue sair de sua estratégia.
As referências de Xabi
Xabi Alonso acumula e experiência e as transformou em seu estilo próprio. Foi treinado por seu pai, Periko Alonso, por um curto período na Real Sociedad, em 2000. Depois, passou pelo galês John Toshack, o espanhol Rafa Benítez no Liverpool, campeão da Champions em 2005, José Mourinho e Carlo Ancelotti, no Real Madrid, Pep Guardiola no Bayern. Sua revolução passa por combinações de tudo o que aprendeu com todos estes técnicos.
Ele admitiu que a atuação contra o Al Hilal foi ruim no primeiro tempo. Entendeu que melhorou no segundo tempo, Para isso, entendeu que melhorou a amplitude do time, com jogadores alargando o campo bem perto das linhas laterais, para abrir a defesa rival. E com mais deslocamentos que abriram espaços entre as linhas de defesa do time árabe.
O modelo de jogo se apoia no desenho 3-2-4-1 e na polivalência: "Mbappé não é um centroavante, não é um jogador de área", disse em sua coletiva pré estréia contra o Al Hilal. Disse o mesmo sobre a mobilidade de Vinicius Júnior. Sobre Bellingham: "É um jogador que pode ocupar muito espaço no campo. Extremamente dinâmico. Só precisa encontrar sua posição correta para render mais." Diz isso sem parecer deselegante com seu antecessor, Carlo Ancelotti, com quem tem tão bom relacionamento a ponto de terem conversado sobre o futuro dos dois e da seleção brasileira depois das duas contratações, de Xabi pelo Real, de Ancelotti pelo Brasil.
As mudanças constantes de posicionamento são a chave. Na construção defensiva, abre linha de quatro, mas o movimento apoia-se em caixas de seis jogadores do lado em que a bola sai. A lógica é contrapor as marcações por pressão orientadas. A aproximação com passes curtos dificulta o adversário de pressioná-lo e o obriga a levar mais atletas para tentar o desarme, o que permite que um dos laterais carregue a bola e inverta o lado da jogada, onde haverá espaço sobrando.
Carlo Ancelotti aprendeu o pressing com Arrigo Sacchi, Guardiola com Johan Cruyff. Xabi Alonso carrega um pouco de cada um. Ancelotti soube de Sacchi como usar marcação por zona, tendo a bola como referência. Xabi traz de volta das perseguições individuais em situações específicas das partidas. Especialmente na saída de jogo do adversário. Para isso, sobe seu time num 5-2-3. Cada um tem responsabilidade por um rival específico e determinado nos treinos. A ideia é impedir a saída pelo meio encaixando quatro meias com quatro defensores do rival. Ao mesmo tempo, os laterais sobem para dificultar a fuga da pressão pelos lados. Quando, mesmo assim, consegue-se quebrar sua primeira linha, o novo Real recuará formando uma linha de cinco defensores e outra de quatro meio-campistas. Versatilidade e rapidez nas transições ofensivas e defensivas.
Sua primeira palavra na entrevista coletiva pré-jogo de estreia no Mundial foi: distância. Indica que ele entende que o time precisa ser mais curto ou, em outras palavras, subir a linha de defesa e baixar a linha de ataque até deixar o adversário espremido num espaço de 12 a 15 metros. Para compensar isso, o rival teria de alargar o campo com pontas. É um dos princípios do jogo aprendido por Carlo Ancelotti, no pressing do Milan de Arrigo Sacchi nos anos 1980. Mas Sacchi deixava o espaço em um terço do campo. Hoje, menos de um quarto. Se o gramado tem 105 metros de comprimento, com quinze metros entre as linhas espreme-se em menos de um quinto do espaço total.
Não é proibido lançamento longo. Ao contrário, na recuperação de uma escapada do adversário, a contrapressão exige lançamentos para o homem de referência servir como pivô para os contragolpes. Contra pressão, chamada gegenpressing no dialeto de Jurgen Klopp, também está incorporada ao repertório de Xabi Alonso. Muito deste cardápio tático se pode ver em ações de Abel Ferreira, no Palmeiras, ou Filipe Luís, no Flamengo. O próprio Abel Ferreira já se referiu ao tipo de marcação indiviudalizada que faz nos tiros de meta de seus rivais citando o Bayer Leverkusen, campeão alemão sob o comando de Xabi, na temporada 2023/24. A informação circula rapidamente e já se sabe o que Xabi Alonso é capaz de fazer.
Não é imbatível. Também por isso, perdeu a final da Liga Europa para a Atalanta, dirigida por Giampiero Gasperini, adepto da marcação individual. Levou 3 x 0, inapelavelmente, embora fosse o grande favorito. Sua última temporada pelo Bayer Leverkusen também não foi suficiente para ganhar o bicampeonato. O Bayern, de Vincent Kompany, foi campeão. Mas a mistura de escolas táticas de Xabi Alonso parece pronta para fazer muita coisa no Real Madrid e ser contraponto de Pep Guardiola.