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Candidato à CBF diz por que é apto ao cargo e nega elo com Gilmar Mendes

do UOL

DO UOL, no Rio de Janeiro

17/05/2025 20h04

Como um dirigente de Roraima — e, até esta semana, desconhecido — se tornou favorito a comandar a CBF? O próprio Samir Xaud, hoje provável presidente da entidade, conversou com o UOL na noite deste sábado (17) e explicou.

O cartola de 41 anos disse que nem conhece o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes e atribuiu a confirmação do seu nome a uma "escolha coletiva".

O bloco agora encabeçado por Samir diz ter assinatura de 23 federações e dez clubes — o que inviabilizaria o registro da chapa concorrente, mobilizada pelo presidente da Federação Paulista de Futebol, Reinaldo Carneiro Bastos.

O plano é registrar a candidatura de Samir já na manhã deste domingo, pensando no pleito confirmado para o próximo dia 25.

Na noite deste sábado, ele esteve presencialmente com dirigentes de algumas federações, como Goiás (Ronei de Freitas e André Pitta), Rio Grande do Sul (Luciano Hocsman), Paraná (Hélio Cury Filho), Distrito Federal (Daniel Vasconcelos) e Pará (Ricardo Paul).

Como você foi parar na condição de provável presidente da CBF?

Samir: Foi uma construção em conjunto das federações, pelo fato que estava acontecendo, em relação ao ex-presidente Ednaldo. Assim que foi afastado do cargo, as federações se uniram. Inicialmente, 19 federações. Definimos formar um bloco em conjunto para escolher um nome, e dentro desse nome a gente partir para as mudanças necessárias e devidas que precisam ser feitas dentro da CBF. Então não foi uma escolha pessoal, foi uma escolha em conjunto, em grupo, e assim a gente permanece.

Você disse 'eu quero' ou foi uma decisão do grupo? Como é que chegaram à escolha por você?

Samir: Não, eu não falei "eu quero". Foram cogitados alguns nomes. Cinco nomes, de início. Depois, três. E acabou que definiram o meu nome. Então, pelo grupo, pelo projeto, pela proposta, eu topei. E hoje eu estou aqui representando 23 federações, mais 10 clubes de futebol, pois todos acreditam e pedem essa mudança que a CBF e o futebol brasileiro precisam.

Por que as federações se desgarraram tanto, tão rápido assim do presidente Ednaldo? Em março tava todo mundo supostamente unido nesse processo.

Samir: Na verdade, não foi deixar o presidente Ednaldo. Foi uma questão jurídica, né, que ele foi retirado do seu mandato, foi retirado do poder. E nessa sequência, como foi uma decisão judicial, a gente precisava se mover e definir uma estratégia o mais rápido possível para que escolhêssemos o nome que viesse a dirigir a CBF. O que a gente está buscando já há muitos anos é uma estabilidade dentro da instituição. A CBF não suporta mais essas guerras jurídicas, brigas. Eu acho que o futebol brasileiro precisa crescer, ele precisa voltar ao protagonismo mundial e isso passa muito pela reestruturação interna da CBF.

Agora tem também uma ala que questiona muito: o Samir nem presidente de federação ele era, estava como presidente eleito, ele iria assumir o mandato do pai, um dos mais longevos, inclusive. Por que você pode ser um gestor adequado para a CBF dentro desse processo todo? O que você carrega de experiência para estar capacitado para ocupar esse cargo hoje no futebol?

Samir: Na verdade, eu tenho 12 anos de vida de gestão pública no meu estado. Já fui secretário de saúde, diretor de hospital, presidente dos sindicatos médicos. Então, gestão nasceu comigo. O futebol também nasceu comigo desde pequeno. Fui crescido dentro desse meio. E assim, me sinto capaz. Ali (CBF) é uma instituição como uma outra qualquer, onde o que a gente precisa é fazer gestão. Hoje a CBF, ela precisa de uma pessoa pacificadora ali dentro, que consiga agregar as pessoas, que consiga fazer um trabalho interpessoal muito bom. Acredito, sim, que estou capacitado para assumir esse cargo. Tenho o apoio das federações, dos clubes. E esse trabalho vai ser feito em conjunto. Fazer uma gestão descentralizada. Precisamos descentralizar o poder da CBF. Nós precisamos aproveitar mais os profissionais capacitados que temos ali dentro. Só que dando autonomia. Autonomia de trabalho, de diálogo, de conversa. Então, acredito que a CBF precisa disso. É mais uma pacificação e uma organização ali interpessoal dentro da instituição.

Presidentes de Federações se reúnem com Samir Xaud em hotel no Rio - Igor Siqueira/UOL - Igor Siqueira/UOL
Presidentes de Federações se reúnem com Samir Xaud em hotel no Rio
Imagem: Igor Siqueira/UOL

Você já tem os nomes fechados dos vice-presidentes?

Samir: Não. A gente está costurando ainda, vamos definir tudo essa noite. Temos um panorama e amanhã vamos, se Deus quiser, fazer a efetivação da nossa chapa para concorrer a esse pleito.

Como você viu essa movimentação do Reinaldo? Tenta ser o seu concorrente nesse processo.

Samir: É normal num pleito eleitoral, democrático. Eu acho que cada um tem o seu posicionamento. O presidente Reinaldo é uma pessoa que já vive futebol há muito tempo, presidente da maior federação de futebol do Brasil. E tem meu respeito, mas eu acredito que é normal do jogo político. É uma grande honra estar disputando um pleito eleitoral com ele.

Como é que você pretende reconstruir essas relações com os clubes? Porque hoje muitos clubes fizeram esse manifesto aí apoiando o Reinaldo, reclamando que não foram inseridos nessa discussão inicialmente sobre a chegada ao seu nome. O que fazer a partir de agora caso se confirme de fato a tua eleição?

Samir: Na verdade eu já tenho contato com alguns clubes, conheço pessoalmente alguns gestores, alguns presidentes. Tentei fazer uma interlocução, sim, com o pessoal das ligas. O processo eleitoral não fui eu que montei. Isso foi uma decisão judicial. E nela pediram celeridade do processo. Então, o interventor que tomou essa decisão. Então, não foi uma coisa tomada por mim. Então essa interlocução tem que ter. O que eu quero, se conseguir chegar à frente do comando da CBF, é fazer uma integração, trazer os clubes para perto da CBF, trazer os presidentes das federações para dentro dessa discussão e, em conjunto, fazer uma discussão para melhorar o futebol brasileiro. Essa união é necessária. E já tem que ser feita já. A gente não pode perder mais tempo com isso.

Mas você acha que você pode sair atrás, pelo fato dessa maioria deles estar com o Reinaldo ou ter apoiado o outro lado, não necessariamente a sua candidatura?

Samir: Não. Faz parte do processo eleitoral. Não quer dizer que, se clube A ou B ficou do lado dele, não vamos tentar uma conversa. Pelo contrário. Se for efetivada a questão eleitoral, se eu for escolhido presidente, a gente vai fazer um contato direto, vai aproximar. É isso que precisamos: ter uma estabilidade dentro da gestão da CBF. Então, é o que eu estou buscando, é o que vamos buscar e o que vamos fazer.

Como é que você vê a contratação do Ancelotti e como é que você espera, se confirmada a sua eleição, lidar com esse processo dentro da Seleção Brasileira?

Samir: Carlo Ancelotti é o ícone dos técnicos de futebol mundial. Já tivemos uma primeira conversa na parte jurídica. A gente conversou para dar uma segurança jurídica para ele, para vir desempenhar o seu papel de treinador, blindar ele, dar autonomia para a gestão dele junto com as pessoas que vão estar ao lado dele. Para ter autonomia de convocação, sem interferências externas, sem interferência do presidente da CBF. Eu acho que cai muito naquilo que eu acabei de falar: a gente tem que dar autonomia para as pessoas executarem seu trabalho. E precisamos disso. Ele vai precisar desse apoio, ele vai precisar dessa estrutura e a gente vai dar todo apoio e suporte para que ele consiga colocar a nossa seleção de novo no topo das seleções mundiais.

Foi você pessoalmente ou foi com o pessoal da sua equipe?

Samir: Não, foi da equipe, da equipe jurídica que entrou em contato e deixou ele mais tranquilo porque a gente vai permanecer com o contrato, vamos permanecer com ele à frente da nossa seleção caso venha a ser eleito no próximo pleito.

O seu antecessor, nesse caso Ednaldo, tinha uma característica de centralização de poder. Você mencionou a descentralização, mas como efetivamente executá-la?

Samir: Exatamente isso, é voltar a ser organizado pelas diretorias, eu acho que a gente precisa formar um conselho gestor ali onde cada um vai ter sua função, é aquilo que eu já falei, a gente tem que procurar os profissionais capacidades corretas para estarem ocupando os lugares certos e dar autonomia para eles trabalharem. Então, a descentralização de poder de gestão é isso. Pegar os profissionais que temos, muitos profissionais, excelentes profissionais dentro da CBF, só que dar autonomia nos locais onde ele vai render o seu trabalho.

Um assunto que também cercou a CBF nos últimos dias é o quanto há de influência externa dentro do ambiente do futebol. Influência política, de Brasília, tem gente citando ministro da STF, tem gente citando famílias tradicionais do mundo jurídico brasileiro, enfim. Como é que a gente pode entender isso hoje, esse contexto dentro da sua candidatura, da sua ideia de gestão da CBF? É o Gilmar que tá mandando? Não é?

Samir: Primeiro que eu nem conheço o ministro Gilmar Mendes, né? Então, em relação ao IDP (que comanda a CBF Academy), eu também não tenho relacionamento, acredito que... 'Ah, eu tenho contrato'. Quando a gente entrar, vamos avaliar todos os contratos. E o que for de benéfico para a CBF, vamos manter, e o que não for, vamos procurar as medidas cabíveis para tentar resolver os problemas.

Qual é o caminho para melhorar a imagem da CBF como empresa, como instituição, para o torcedor?

Samir: Eu acho que o marketing é importantíssimo nisso, mas a relação interpessoal, ela é importantíssima, a conversa, o contato, mostrar para os grandes empresários, para as grandes empresas, o nosso objetivo, o nosso projeto, começar a captar mais esses patrocínios para a gente cada vez mais ser autossuficiente, conseguir colocar mais recursos e a gente poder investir mais no futebol brasileiro.

Uma questão em relação ao seu cotidiano em Roraima é que você lida com uma estrutura muito pequena. De clubes, de campeonato estadual, de demanda do dia a dia. Mas qual é a sua visão em relação ao macro, ao calendário, por exemplo, do futebol brasileiro?

Samir: Na verdade, o calendário afeta todas as regiões, até as pequenas. A gente precisa sentar, a gente precisa entrar num consenso de calendário. Eu acho que essa formação da liga, ao qual eu sou pró-formação da liga, ela contribui para esse ajuste de calendário. Então, hoje, Série A e Série B são autossuficientes, já têm condições de estarem com essa liga formada. É um dos meus objetivos como presidente da CBF, a gente organizar, tirar do papel. E a gente conseguir deixar que a CBF cuide só do futebol de base, do futebol feminino e dos estaduais, que é o que fomenta o futebol brasileiro. Então, estou imbuído nessa missão. Acredito, sim, que a gente vai conseguir chegar no consenso e a gente conseguir colocar a liga para sair do papel aqui no Brasil.

Você fez o compromisso com as federações de preservar os estaduais de alguma forma?

Samir: Com certeza, e não tem hipótese nenhuma de a gente acabar com os estaduais. Os estaduais, eu que venho de uma região do extremo norte do Brasil, eu sei as dificuldades que nós passamos lá por pouco recurso, poucos clubes. Mas é o que fomenta o futebol, os estaduais é o que gera emprego, é o que age na vida das crianças, tem um papel social importantíssimo. Então os estaduais, pelo menos sob a minha gestão, não têm chance nenhuma de acabar.

Mas qual o tamanho deles? O que você acha que eles devem ter dentro do contexto geral?

Samir: Eles são muito importantes, é de onde começa tudo.

Mas eu digo: 10, 15, 12, 16 datas? Existe algum tipo na sua cabeça hoje?

Samir: Existe, por exemplo, em Roraima. Antigamente, antes de eu entrar profundamente ali na federação, a gente tinha uma média de 21 a 22 datas. Há dois anos atrás eu reduzi, já estamos com 14 datas. Então a intenção, se a gente conseguir ajustar para 8 ou 12 datas, seria os números ideais para que a gente conseguisse liberar e desafogar esse calendário do futebol brasileiro.

Tem algumas situações que já envolvem você pessoalmente. Você tinha contrato de prestação de serviços médicos para a CBF. Qual foi essa situação especificamente? O contrato vigora, vigorou até quando?

Samir: Na verdade, esse contrato foi feito antes mesmo de eu entrar na federação, então não foi feito através da federação, foi feito como um profissional liberal que fez o projeto, eu apresentei a CBF, porque sou médico da medicina esportiva. Esse contrato durou um ano, eu fiz a cobertura de todos os meus clubes do estado de Roraima, com atendimento médico, com tratamento de lesão, com a questão da performance, melhora da performance. E infelizmente foi usado de má fé, né? Foi usado de má fé pra tentar rebaixar ou me vincular a algum tipo de serviço ou me dizer coisa errada, mas eu sou bem tranquilo em relação a isso. Apresentei todas as justificativas, todas as provas, o trabalho foi executado e graças a Deus a gente teve um resultado muito positivo enquanto esse contrato durou. Durou apenas um ano e eu não fazia parte da estrutura da federação.

Então você entende que não tinha qualquer tipo de conflito pelo fato do seu pai ser o presidente da federação?

Samir: Não, até porque sou profissional liberal. Trabalho com medicina. Não teve problema algum.

Olhando para lista de presidentes da CBF, Teixeira renunciou por conta de acusação de corrupção. Marin, banido da Fifa, Del Nero, banido da Fifa, Rogério Caboclo afastado. Ednaldo, afastado. Você não tem medo de entrar nessa lista também, não?

Samir: Não, medo nenhum. Tenho minha postura, minhas decisões. Sou um profissional como outro qualquer, mas tenho minha conduta ética, sempre tive, mantido os meus relacionamentos. E não tenho, não tenho nenhum medo não.

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