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Neymar pai e Santos queriam criar um novo Ayrton Senna | podcast Neymar #1

do UOL

Do UOL, em São Paulo

23/04/2025 05h30

Em agosto de 2010, uma reunião na sede do Banco Santander, em São Paulo, reuniu Neymar da Silva Santos, o Neymar pai, o presidente do Santos, Luís Álvaro de Oliveira Ribeiro, o Laor, o executivo de marketing Armênio Neto, o agente Wagner Ribeiro e outros gestores do clube.

A conversa era para discutir o futuro de Neymar Jr., então maior revelação do futebol brasileiro, e começou com uma cadeira extra vazia, colocada de propósito na sala.

"Essa cadeira está vazia desde a morte de Ayrton Senna e pertence ao próximo ídolo brasileiro, que será seu filho", disse Armênio a Neymar pai.

A fala era ensaiada. O Santos havia preparado uma apresentação para manter Neymar Jr. no clube diante do assédio europeu, oferecendo ao pai dele um plano de carreira.

O primeiro slide da apresentação mostrava justamente uma cadeira vazia.

"Existe um espaço vazio no coração do Brasil, que não é ocupado desde a morte do piloto Ayrton Senna", diz o texto.

"Nosso objetivo é, mais do que um plano de carreira, construir um plano de vida para o atleta (Neymar). Que lapide a pedra, e dê o brilho eterno."

Slide do Projeto Neymar mostra cadeira de Ayrton Senna vazia - Divulgação - Divulgação
Slide do Projeto Neymar mostra cadeira de Ayrton Senna vazia
Imagem: Divulgação

Era o projeto Neymar.

Essa é uma das histórias contadas no primeiro episódio de "Neymar", novo podcast original UOL Prime que investiga a trajetória de Neymar Jr. e de seu pai, Neymar da Silva Santos.

Lançado ontem, o podcast terá mais cinco episódios, publicados sempre às terças no canal de YouTube do UOL Prime e em todas as plataformas de podcasts (Spotify, Apple Podcasts e Deezer) e às quartas no YouTube de UOL Esporte.

O podcast revela como Neymar pai construiu um império bilionário em torno do talento e da imagem do filho, fazendo dele não apenas um jogador de renome mundial, mas uma megacelebridade.

Neymar pai e Neymar filho posam juntos em 2010 - Caio Guatelli/Folhapress - Caio Guatelli/Folhapress
Neymar pai e Neymar filho posam juntos em 2010
Imagem: Caio Guatelli/Folhapress

Um projeto pioneiro

Em 2010, Neymar tinha só 18 anos, mas, em pouco mais de um ano como profissional, já tinha confirmado ao mundo o que todos no Santos já sabiam: era o próximo grande craque brasileiro.

Clubes europeus o monitoravam desde a base, e o Chelsea procurou seu pai avisando que queria pagar a multa rescisória de 35 milhões de euros para tirar o garoto do Santos.

A oferta era tentadora. O Santos nunca teria condições de competir com salários oferecidos pelo clube inglês, na época propriedade do empresário russo Roman Abramovich.

Neymar pai, entretanto, sabia que alguns anos de amadurecimento no Brasil aumentariam as chances de sucesso do filho na Europa.

Por isso, sinalizou ao clube brasileiro que não descartaria permanecer, mas precisava saber quais eram os planos para o "Juninho".

Foi nesse contexto que o Santos elaborou o projeto Neymar, em uma força tarefa comandada por Armênio Neto.

A iniciativa era pioneira no futebol brasileiro e previa remunerar Neymar e seu pai com salário europeu por meio de publicidade.

Naquele momento, o objetivo era manter o atacante no país, mas os efeitos seriam bem maiores e transformariam a trajetória da família de Neymar.

Ali foi plantada a semente que transformaria o jogador em um das pessoas mais famosas do mundo e um dos maiores garotos propaganda do país, fazendo do pai um empresário de renome global.

Neymar em 2010 - Almeida Rocha/Folha Imagem/Folhapress - Almeida Rocha/Folha Imagem/Folhapress
Neymar em 2010
Imagem: Almeida Rocha/Folha Imagem/Folhapress

Um Neymar sempre exposto

Depois da cadeira de Ayrton Senna, o projeto avançou para trazer exemplos do que Neymar deveria se tornar.

As imagens de Michael Jordan, Pelé, Maradona, Senna e do golfista Tiger Woods foram projetadas como exemplos.

Foram estabelecidas as bases do modelo de carreira, que passava pela capacitação do pai para atuar como agente e gestor da imagem do filho.

A apresentação trazia ainda uma visão quase megalomaníaca do que Neymar, seguindo o projeto, se tornaria.

"Craque. Descolado. Irreverente. Inspirador. Ousado. Sex appeal. Mais do que um ídolo, ele deve ser um WELL LOVED GUY (um cara bem amado). Não ser apenas o melhor do mundo, mas o MAIOR DO MUNDO. UM MITO."

A hiperexposição publicitária da imagem de Neymar Jr. o acompanhou até os dias atuais.

Em seu auge na Europa, o atacante chegava a fazer "bate e volta" em países como Japão e Emirados Árabes para cumprir agendas comerciais durante a temporada.

Entre torcedores do Santos, não há dúvida de que Neymar Jr. se tornou ídolo.

Para outros torcedores e outros segmentos da sociedade brasileira, no entanto, ele se tornou uma figura controversa.

Neymar - Guilherme Dionizio/Ag. Estado - Guilherme Dionizio/Ag. Estado
Imagem: Guilherme Dionizio/Ag. Estado

No centro das críticas está a sua dedicação constante a compromissos comerciais fora de campo.

O contraste ficou ainda mais evidente desde 2022, período no qual ele sofreu com lesões crônicas e não conseguiu uma sequência em campo, mas continuou onipresente na mídia.

A própria apresentação de 2010 tinha uma ressalva: compromissos fora de campo seriam dosados para priorizar o desempenho esportivo. Quinze anos depois, é questionável se isso de fato ocorreu.

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