Do gol mais bonito de Pelé aos famosos cannoli: as curiosidades do Juventus

O Juventus, um dos clubes mais tradicionais de São Paulo, não vai mais entrar em campo em 2025. O atual presidente, Tadeu Deradelli, decidiu que o clube não participará da Copa Paulista, torneio que garante acesso aos campeonatos nacionais através da série D ou da Copa do Brasil, sob a justificativa de que o time não tem dinheiro para sustentar a competição.
Além disso, no próximo dia 23 acontece uma eleição que pode mudar a história do clube. O conselho vai decidir entre a chapa "Avante", do atual presidente, e a "Novos Tempos, Renove Juventus", de Marcello Betone. A chapa que está no poder é acusada pela oposição de forçar uma venda do futebol do Juventus, para transformá-lo em SAF. Nesse formato, apenas 10% das ações continuariam com o clube, com os outros 90% sendo vendidos a investidores interessados.
O assunto está em pauta há ao menos três anos, como informou Leonardo Sakamoto, colunista do UOL. Sairiam de cena os sócios e os torcedores, entrariam os acionistas, em um clube lembrado por suas tradições no bairro da Mooca, na zona leste de São Paulo.
Confira algumas delas abaixo:
50 anos de sucesso: os cannoli são estrela em dia de jogo
Antônio Pereira Garcia, 75, é o responsável pelo cannoli - doce tradicional italiano - que forma filas nos jogos da equipe. No estádio do Juventus, ele faz negócios sob um toldo que ganhou da administração para vender seus doces, ao lado da loja oficial do time.
Ele começou a levar tabuleiros de doces para as arquibancadas de vários estádios paulistas quanto tinha apenas 10 anos. Mas nos anos 1970, já adulto, se estabeleceu na casa do Juventus da Mooca, onde passaria a ser conhecido como seu Antônio Cannoli.
São, em média, 600 unidades vendidas por partida. A produção é artesanal, feita por seu Antônio, pela esposa dona Fátima e a família. Todos os seis filhos do casal já estiveram envolvidos com o tradicional negócio do pai.
Já em 2024, antes de o clube se aprofundar ainda mais na crise, Antônio já tinha declarado que queria repassar o trabalho para a próxima geração para cuidar de si mesmo. Em 2010, ele teve que ficar um ano afastado por causa de problemas cardíacos.
Rua Javari virou ponto turístico
Listas para turistas frequentemente indicam o Estádio Conde Rodolfo Crespi, na Rua Javari, como local imperdível. Um dos motivos é a preservação de um futebol "à moda antiga". O estádio, por exemplo, preserva a forma que tinha quando o clube foi fundado, na década de 20.
O estádio, inclusive, tornou-se patrimônio histórico paulistano em 2019. Segundo a prefeitura de São Paulo, ele foi construído em 1925 e inaugurado oficialmente em novembro de 1929. Seu nome homenageia o empresário italiano Rodolfo Crespi, dono do Cotonifício Crespi, estabelecido na zona leste no começo do século 20.
Clube foi criado por funcionários de fábrica
O Juventus surgiu em 1924 como Cotonifício Rodolfo Crespi F.C, fruto da fusão do Extra São Paulo F.C. e do Cavalheiro Crespi F.C, tradicionais clubes da várzea do bairro da Mooca.
Ele foi formado por empregados da fábrica de tecidos da família Crespi, a mesma que dá nome até hoje ao estádio do clube. Eles mantiveram as cores do Extra São Paulo —vermelho, preto e branco—mas com a sede social do Cavalheiro Crespi F.C., também na Mooca. A data simbólica de fundação do clube é 20 de abril de 1924.
Um ano depois, Rodolfo Crespi deu de presente ao clube um terreno na Alameda Javry, nº 117 —atual Rua Javari— para que o espaço, antes utilizado como cocheira de cavalos, fosse usado para que os funcionários jogassem futebol, segundo o próprio site do Juventus.
Juventus quase foi preto e branco
Em 1930, o clube mudou seu nome para Juventus —por sugestão de Crespi— e adotou o grená e branco como cores oficiais.
Mas a ideia inicial não era essa: os diretores queriam usar as mesmas cores do uniforme da Juventus da Itália, preto e branco.
A ideia foi reprovada por muitos pois já existiam vários clubes alvinegros dividindo o campo com o time da Mooca. Corinthians, Ipiranga e Santos eram alguns desses. Além disso, a antiga combinação de cores (preto, vermelho e branco) também era popular, sendo usada pelo extinto São Paulo da Floresta e pelo S.C. Internacional.
Rodolfo Crespi, que já havia sugerido a mudança de nome inspirado em seu time do coração na Itália, acabou apontando o grená e branco, que permanecem até hoje.
Gol mais bonito da carreira de Pelé
Pelé disse ter marcado o gol mais bonito de sua carreira no estádio do Juventus, em uma partida realizada em 1959 entre o Santos e o clube da Mooca.
Era um domingo à tarde e os times se enfrentavam pelo Campeonato Paulista, o Peixe vencia a partida por 3 a 0, mas a torcida juventina insistia em pegar no pé do camisa dez alvinegro e tentavam irritá-lo com vaias insistentes. Foi quando Pelé fez o lance histórico.
O Rei do Futebol recebeu de Dorval e se livrou da marcação de Julinho. Em seguida, deu três chapéus: a primeira 'vítima' foi Homero; em seguida, Clóvis foi driblado; e, por último, o goleiro Mão de Onça ficou sem ação. Com o gol livre à frente, o Rei tocou de cabeça para as redes e fez seu terceiro na partida. Nesse momento, nasceu a célebre comemoração do "soco no ar".
Apesar da beleza do lance, as imagens da jogada se perderam no tempo. Ele teve que se reproduzido em computação gráfica para o documentário "Pelé Eterno", lançado em 2004.
Em agosto de 2006, o Juventus inaugurou um busto de bronze e uma placa comemorativa em homenagem a Pelé. Ele compareceu ao estádio na rua Javari para a celebração.
*Com informações de Estadão Conteúdo e "Gol mais bonito de Pelé e 'recorde de público da Javari' completam 50 anos", de 2/8/2009