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Medalha de Caio Bonfim rompe barreira do preconceito contra marcha atlética

do UOL

Do UOL, em São Paulo

16/02/2025 05h30

Caio Bonfim emocionou o Brasil ao conquistar a primeira medalha olímpica da marcha atlética no país. A prata que o atleta ganhou na prova dos 20 km nas Olimpíadas de Paris, em 2024, mudou tanto a própria vida como a imagem da modalidade, muitas vezes tratada com preconceito.

Em entrevista ao UOL, Caio celebrou o aumento do número de praticantes de marcha atlética, além da abertura de portas graças à conquista em Paris, e contou sobre os projetos de curto, médio e longo prazo que tem planejado em prol da modalidade. O marchador quer que a medalha gere conquistas para outros atletas no futuro.

"A vida está bem diferente. Tudo mudou, transformou desde que eu passei aquela linha de chegada em Paris. Eu sabia que um resultado tão expressivo desse poderia abrir muitas portas, mas não sabia que a medalha era uma chave tão grande também. Para a marcha atlética era muito importante, porque era um esporte sem visibilidade. A gente chegava nos lugares e as pessoas não entendiam direito", comentou Caio.

Logo após a conquista da prata em Paris, Caio desabafou sobre os olhares tortos que a marcha atlética despertava nas pessoas. Era comum ouvir xingamentos durante os treinos pelas ruas. Hoje, o atleta celebra o aumento no número de jovens interessados na modalidade que representa sua família.

"Tanto nos Jogos da Juventude, como nos Jogos Universitários e Escolares, nós tivemos um número legal de praticantes. Soube até que em uma das competições precisou fazer mais de uma bateria. Então a gente viu que essa medalha gerou algum incentivo. Deu coragem para que esses meninos pudessem se inscrever e estar nessa prova, além de encorajar os treinadores a trabalhar com isso também", destacou.

Caio quer mudar o cenário

A medalha, segundo Caio, não deve ser uma conquista única e exclusiva dele, mas sim para o esporte. Além do aumento no número de praticantes da marcha atlética no país, o marchador trabalha para que, no futuro, existam projetos de incentivo financeiro pela evolução da modalidade e outros esportes.

"Queremos conversar com deputados, com o Comitê Olímpico do Brasil, o Ministério do Esporte, para que possamos sistematizar projetos de incentivo e gerar mudanças positivas. São os trabalhos que a gente tem feito para que daqui 10 anos lembrem que algo mudou lá no dia que o Caio foi medalhista", projetou o atleta.

"Em Brasília, a gente tem muitas consequências positivas da medalha do Joaquim Cruz na década de 80. A bolsa atleta olímpico do Distrito Federal é a mais alta e foi idealizada quando o Joaquim Cruz ganhou medalha. Ele foi lutando por isso. Então são reflexos de uma atitude que ele tomou lá atrás. Ele foi ouvido por causa da medalha de ouro e conseguiram montar um esquema que eu, Caio, estou me beneficiando hoje", acrescentou.

Novo ciclo olímpico

O ano começou com mais um ciclo olímpico e, agora, Caio divide os treinos e a vida de pai com os novos compromissos publicitários e palestras que é convidado para liderar pelo país graças à medalha. Os treinos, segundo o marchador, estão a todo vapor visando ao Mundial deste ano e, claro, os Jogos de Los Angeles em 2028.

"Eu participei de quatro Olimpíadas, que ao todo dá três ciclos olímpicos. Todo ano tem a sua demanda, a gente trabalha sempre assim. Esse ano tem o Campeonato Mundial, no seguinte tem o Mundial de Marcha, 2027 é um ano pré-olímpico com Jogos Pan-Americanos. E aí vem o ano das Olimpíadas. Você tem que se preparar. Vai criando o ambiente", disse.

"Não adianta falar nada sobre essa Olimpíada sem construir. Agora é hora de se organizar, de planificar tudo e aprender. É uma escada. Eu espero que eu consiga manter, porque a gente sabe que chegar entre os melhores do mundo é difícil. Eu espero que nesse próximo ciclo, a gente consiga a experiência de 10 anos entre os primeiros e o treinamento para conseguir montar o caminho. Mesmo com a prata em Paris, agora é o momento de construir tudo de novo", analisou Caio.

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