CPI vai pedir indiciamento do tio de Paquetá e confirma pix a Luiz Henrique

A CPI das Apostas esportivas pedirá o indiciamento de três pessoas. Entre elas, Bruno Tolentino, tio do meia Lucas Paquetá. A alegação é a suspeita de participação em manipulação de partidas.
A investigação da comissão parlamentar também confirmou um pagamento suspeito ao atacante Luiz Henrique, ex-Botafogo, em fevereiro de 2023.
Como o UOL revelou em setembro, o jogador recebeu o dinheiro quando ainda atuava pelo Betis, dias depois de receber um cartão amarelo no Campeonato Espanhol.
Os outros dois pedidos de indiciamento são para o empresário William Rogatto, autodenominado o "Rei do Rebaixamento", e Thiago Chambó, já envolvido na investigação do Ministério Público de Goiás (MP-GO).
O UOL apurou que o indiciamento de Luiz Henrique chegou a ser discutido dentro da CPI. Mas, no final, a decisão foi por não incluir o jogador na lista.
Esse é o desfecho do relatório que será apresentado à CPI formalmente nesta terça-feira (11), pelo senador Romário (PL-RJ).
No texto, Romário diz que as movimentações financeiras de Bruno Tolentino "são incompatíveis com o patrimônio declarado para a Receita Federal".
O indiciamento é com base no artigo 199 da Lei Geral do Esporte, pelo crime de "dar ou prometer vantagem patrimonial ou não patrimonial com o fim de alterar ou falsear o resultado de competição esportiva ou evento a ela associado". A pena é de dois a seis anos de prisão e multa.
O relatório final da CPI está previsto para ser votado na quarta-feira (12), mas existe uma movimentação de estender a duração da CPI para que William Rogatto seja extraditado ao Brasil. Ele foi preso em Dubai.
Tolentino e os outros indiciados só serão réus se o Ministério Público e, depois, a Justiça acatarem.
Como a investigação aconteceu
O relatório da CPI feito por Romário tem 692 páginas.
Tolentino foi alvo de quebra de sigilo bancário e telemático na CPI, após ter sido convocado para depor e optado por ficar em silêncio.
O olhar sobre ele aconteceu porque o UOL revelou a existência de pagamentos suspeitos para o atacante Luiz Henrique, ex-Botafogo e à época no Bétis-ESP, em 2023.
Da conta de Bruno saíram R$ 30 mil. O UOL mostrou que Luiz Henrique recebeu, via pix, mais um repasse de R$ 10 mil. A origem foi a conta de Yan Tolentino, filho de Bruno.
O próprio tio de Paquetá confirmou ao UOL as movimentações, mas não quis dar detalhes à CPI.
'Movimentações incompatíveis'
O relatório da CPI traz ainda mais informações bancárias do tio de Paquetá e aumentam a dimensão da movimentação financeira dele e de outros parentes do jogador.
O tio de Paquetá está em uma lista de apostadores suspeitos. Além de pagar R$ 30 mil a Luiz Henrique, a CPI localizou 258 transações dele para ele mesmo, totalizando R$ 839.696,44.
Entre as transferências, Bruno Tolentino recebe valores de exatos R$ 10 mil das seguintes instituições de pagamentos:
Dinar Facilitadora de Pagamentos Internacionais Ltda - 1 transação
Facilpag Serviços Administrativos Ltda - 2 transações
Dornel Facilitadora de Pagamentos Ltda - 1 transação.
Foram identificados outros pagamentos de R$ 5 mil de empresas semelhantes (Interpag Serviços Administrativos Eireli, Toledo Cobranças e Pagamentos Ltda).
Há também o movimento de saída de dinheiro da conta de Bruno Tolentino:
A Okto Pagamentos recebeu R$ 113.698,91 de Tolentino (em 66 transações).
A Dornel Facilitadora de Pagamentos recebeu R$ 23.085,00 de Tolentino (em oito transações).
Segundo o relatório da CPI, há outras empresas semelhantes recebendo valores de Tolentino, geralmente acima de R$ 10 mil.
Pay By Betano, forma de pagamento disponível na casa de apostas Betano, recebeu R$ 26.431,92 de Tolentino (20 transações).
O delator e quem deu a dica da aposta casada
O fio de investigação entre Paquetá, os parentes do jogador e até Luiz Henrique foi reforçado à CPI por Bruno Lopez de Moura.
Bruno é pivô de outro caso de manipulação, o que foi descoberto pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO) e resultou na operação Penalidade Máxima.
Ele disse em depoimento que ganhou uma aposta casada que envolvia Luiz Henrique e Paquetá, em março de 2023. Esse mesmo jogo foi o que despertou alerta na Europa e virou motivo de denúncia da Federação Inglesa contra Paquetá, que joga no West Ham.
Ao descrever o caso, Bruno citou quem deu a dica sobre essa combinação: Marlon Bruno Nascimento da Silva.
A quebra do sigilo bancário do tio de Paquetá mostrou que Bruno Tolentino repassou a Marlon um total de R$ 97 mil, em cinco transações diferentes. Marlon foi citado como suposto responsável por cooptar jogadores para manipulações.
O depoimento de Bruno traz ainda uma questão que envolve outro membro da família de Paquetá: o irmão do jogador, Matheus Paquetá.
Pelo relato, quando Marlon disse a Bruno que deveria fazer a aposta casada nos cartões amarelos, em 12 de março de 2023, veio o motivo:
"Seu contato, conhecido como Marlon, informou que Paquetá comunicou que daria 'um presente de aniversário' ao seu irmão, Matheus Paquetá", apontou o relatório.
O que seria esse presente? Um cartão amarelo. Matheus completou 28 anos no dia do jogo alvo de investigação.
"Marlon não deu detalhes sobre a cooptação de Luiz Henrique, mas informou que também receberia cartão amarelo na mesma rodada", disse outro trecho do relatório.
Os jogos dos outros cartões de Luiz Henrique
As transferências de janeiro e fevereiro de 2023 ocorreram dias após Luiz Henrique levar cartões amarelos em partidas pelo Campeonato Espanhol.
O atacante foi advertido no dia 28 de janeiro em vitória por 1 a 0 contra o Getafe.
Em 4 de fevereiro, ele levou cartão na derrota por 4 a 3 contra o Celta, em que esteve em campo por 11 minutos.
Luiz Henrique foi fundamental para o Botafogo em 2024 e se transferiu para o Zenit, da Rússia.