Repórter troca TV por Uber após trauma e faz sucesso com loja itinerante
Guilherme Ludwig foi jornalista por 17 anos até que um baque em sua vida o afastou das redações. Em fevereiro de 2023, ele trabalhava na CNN Brasil quando seu irmão Leonardo sofreu um infarto e morreu precocemente, aos 42 anos. A perda do ente querido, somada à rotina intensa da profissão, resultou num colapso da saúde mental, o que levou o repórter a pedir demissão em outubro.
No mesmo dia em que assinou a rescisão com a emissora, Guilherme pegou seu carro e passou a trabalhar como motorista de aplicativo, ciente da responsabilidade financeira com a família. Meses depois, a esposa Thaisa também precisou se afastar da empresa em que atuava havia 16 anos após sofrer um burnout.
Pensando numa forma de aumentar a renda, que havia caído pela metade com os últimos eventos ocorridos na família, o casal teve a ideia de acrescentar uma vitrine itinerante nas corridas de Guilherme. Durante suas viagens, o jornalista passou a vender perfumes e produtos da Granado aos passageiros e hoje faz o maior sucesso.
"Como eu sempre tive um carro que se encaixa na plataforma, no mesmo dia que eu saí da CNN, liguei para a minha esposa e falei que já iria trabalhar. Liguei o aplicativo e passei a tarde inteira rodando. Não foi muito difícil, eu pensei mesmo na questão da saúde financeira da família. Aqui eu me sinto tranquilo, a cobrança é um pouco menor, parte mais de mim mesmo, porque eu tenho que tratar o trabalho como uma empresa", destacou Guilherme
"Foi o suficiente para descansar a cabeça mentalmente, estar em paz e poder cuidar até mais da minha família, da minha esposa, dos meus bichinhos. Hoje eu não trabalho no fim de semana. As escalas que eu tinha no jornalismo, às vezes, consomem a gente. Foco muito de segunda à sexta para não trabalhar no fim de semana. Não tive dificuldade ou problema de adaptação. Eu sempre me preocupo em sustentar a minha família. O que eu tiver para fazer, sendo digno, eu vou fazer", acrescentou o jornalista.
Antes dos produtos da Granado, Guilherme começou a vender perfumes que se inspiram em fragrâncias de grandes marcas numa caixinha de madeira pensando em complementar a renda e passar tranquilidade para a esposa que cuidava da saúde mental. Com ajuda de Thaísa, a lojinha evoluiu e ganhou até prateleiras que ficam penduradas nas costas do banco do passageiro.
"A Thaisa falou que precisávamos deixar mais bonito, colocar mais produtos... Aí vem o toque feminino da coisa. Ela achou aquele modelo na internet, já comprou de imediato, criamos um CNPJ, compramos produtos da Granado, somados aos perfumes, e começamos a vender os dois", contou Guilherme.
A caminhada de Guilherme no jornalismo esportivo começou em 2006, com um estágio na Federação Paulista de Futebol. Depois, ele teve uma passagem rápida pela Bandeirantes até que chegou à RedeTV! em 2008, onde trabalhou com automobilismo e atuou como repórter de campo nas transmissões da Série B do Brasileirão com Silvio Luiz. O comunicador ainda passou pelo portal Terra e ESPN Brasil e, enfim, chegou à CNN Brasil em 2020.
Assim como Guilherme se reinventou depois de sofrer a perda do irmão, a esposa Thaisa - que é farmacêutica - encontrou motivos para trabalhar feliz novamente ao compartilhar todo o conhecimento que adquiriu ao longo dos anos atuando hoje no mercado de coaching e aperfeiçoando a lojinha itinerante do marido.
"A gente nunca teve medo do trabalho e de se reinventar. A vida traz seus altos e baixos. E a pandemia veio para deixar isso mais escancarado. A gente sempre lidou com tudo com muito companheirismo, união e planejamento. Saí de uma empresa onde eu já estava havia 16 anos, ocupava um cargo de coordenação. Mas lutamos com a mentalidade de crescer, e com disposição de começar de novo e sem ter medo de ir para o trabalho e meter as caras", comentou.
O retorno às antigas profissões
Hoje recuperados, Guilherme e Thaísa não descartam o retorno ao jornalismo e à indústria farmacêutica, respectivamente. Ambos entenderam que precisavam de uma pausa para cuidar da saúde mental e não comprometer o profissionalismo, mas nunca deixaram de amar o que faziam.
"Eu amo o jornalismo, amo o que eu faço, especialmente o jornalismo esportivo. Tenho muito conhecimento, estudo bastante, acompanho, vejo meus companheiros e bate aquela saudade de estar com eles ali. Mas chega uma hora na vida que a gente tem que deixar de pensar só em nós. Se a gente casou, é para que sejamos uma equipe. Acima de tudo, amigos, companheiros. Eu volto quando ela estiver bem ou tiver uma oportunidade que supra a nossa necessidade de renda", destacou Guilherme.
"Eu também estou totalmente aberta a oportunidades na minha área agora que a gente já passou aquele período de turbulência pessoal. O conhecimento que eu tenho hoje agregaria muito", complementou Thaisa.