Padaria virou 'do Botafogo' após aposta de Garrincha e atrai torcedores
No Centro do Rio de Janeiro funciona uma padaria que ficou conhecida pela relação com o Botafogo. Ela se tornou alvinegra graças a uma aposta de Garrincha e, com azulejos em preto e branco, atrai torcedores do Glorioso de todos os cantos do Brasil.
Coincidentemente, a Bassil, especializada em comida árabe, é pertinho da Rua Buenos Aires. A capital da Argentina será palco do duelo entre Botafogo e Atlético-MG, pela final da Libertadores. O jogo vai ser realizado neste sábado (30), às 17h, no Monumental de Nuñez, estádio do River Plate.
Iran José, de 66 anos, é quem está à frente da padaria desde 1998. Antes, teve um escritório de advocacia. Ele é a terceira geração da família a gerenciar o local, que foi fundado pelo avô dele, o libanês Tufi Bassil, em 1913, e passou também pelo pai Mauricio Bassil.
O pessoal já chega aqui e pergunta: 'É a padaria do Botafogo?', 'é a padaria do Garrincha?'. Muitos vêm por ser preta e branca, nem sabem o nome (risos). Essa semana mesmo, tinha muita gente de fora [do Rio] e muitos vieram aqui para conhecer. Até mesmo de outros países.
Iran José
A Cidade Maravilhosa foi palco do encontro da cúpula do G20, e houve diversos encontros e debates relacionados ao evento. A Bassil fica na Rua Senhor dos Passos, no Saara (sigla de Sociedade dos Amigos das Adjacências da Rua da Alfândega). A história da região está ligada à imigração de sírios, libaneses, judeus, gregos e turcos, que chegaram ao Rio a partir de meados dos anos 1890.
Iran é torcedor do Glorioso, mas não vai a Buenos Aires justamente devido ao funcionamento da padaria. "Vamos estar abertos até às 15h. Depois, vou para casa ver o jogo. Um dos motivos de não ir é esse, pois vamos funcionar".
A aposta de Garrincha
Outrora brancas, as paredes da padaria ganharam os tons preto e branco devido a uma aposta que Garrincha, ídolo alvinegro, ganhou. O "Anjo das Pernas Tortas" e Jordan, então lateral-esquerdo do Flamengo, eram amigos, frequentavam o local e se enfrentaram na final do Carioca de 1962.
"Na decisão de 1962 já era o meu pai [na gestão]. O Garrincha e o Jordan frequentavam aqui, e perguntaram a ele se podiam apostar: se o Flamengo ganhasse, o Garrincha pagaria a reforma nas cores preta e vermelha, e se o Botafogo ganhasse, o Jordan pagaria em preto e branco. Foi 3 a 0 [Botafogo], com dois de Garrincha. Então, a padaria é preta e branca desde 1962".
A causa da padaria ser alvinegra está registrada perto de um balcão destinado aos clientes: um quadro com uma foto daquela partida, do arquivo do Jornal dos Sports. Acima, é possível ler: "a última grande atuação de Mané: Botafogo 3 x 0 Flamengo, na decisão do Campeonato Carioca, no Maracanã lotado". Logo abaixo, escrito à mão: "15 de dezembro de 1962, sábado, 16h".
A legenda evidencia que a imagem mostrava os dois responsáveis pela mudança da Bassil: "Gérson: o futuro canhotinha de ouro está no chão. Jordan vem correndo desesperado para cobrir o companheiro. Obra de Garrincha na final contra o Flamengo".
O curioso é que Jordan foi apontado como o melhor marcador de Garrincha. O lateral atuou no Rubro-Negro por 11 anos e esteve em campo em 609 oportunidades sem nunca ter sido expulso. É o quarto jogador na lista dos que mais vezes vestiram a camisa do Fla, atrás apenas de Junior, Zico e Adílio.