Danilo critica perda de tempo da CBF na seleção e se desculpa com torcedor
Capitão da seleção brasileira, Danilo mais uma vez usou sua eloquência para tocar em algumas feridas. Até envolvendo a CBF.
O lateral-direito criticou o que classificou como perda de tempo por parte do comando da entidade com o planejamento da seleção brasileira. E aponta isso como motivo para a equipe estar em desvantagem em relação às principais seleções do mundo.
A resposta fez parte de uma reflexão sobre o posicionamento da seleção brasileira, considerando qualidade de jogadores e organização.
"Separo por duas colunas: a primeira que é a qualidade dos jogadores, do material humano. Continua sendo dos melhores do mundo. Jogo no futebol europeu e tenho alguma propriedade para falar, estou seguro sobre a matéria prima. Mas tem algo que evoluiu em todos os países que é organização, planejamento, enxergar adiante".
Estou seguro que deixamos a desejar há algum tempo. Nos últimos dois ciclos fizemos muito bem e não conseguimos vencer. Se não conseguirmos vencer com tudo minuciosamente bem, estamos um passo atrás. A gente eu falo como seleção brasileira no geral. Muita instabilidade, nomes, jogadores, estratégia, planos. Total renovação ou não. Perdeu-se tempo e agora estamos um passo atrás das principais potências. Nosso conjunto ainda não está bem feito. Dorival desde março alcançou um caminho de planejamento claro e bem feito. Depois da Copa do Mundo perdemos tempo e deixei isso bem claro ao presidente. Por isso estamos um passo atrás. Danilo, lateral-direito e capitão da seleção
O jogador aproveitou a coletiva para se desculpar por um episódio na Copa América no qual discutiu com um torcedor que estava na arquibancada. O homem criticou os jogadores após o empate por 0 a 0 com a Costa Rica, na estreia da competição. Neymar até estava no estádio e ajudou a afastar o jogador das proximidades à arquibancada.
"Sobre palavras ao vento e atitudes, gostaria de voltar ao primeiro jogo da Copa América e pedir desculpa pelo meu encontro com o torcedor ao fim da partida. Futebol é passional, sempre à flor da pele, e o torcedor tem que cobrar, criticar, expor pensamentos. Sou humano e reconheço que tive uma atitude que não deveria ter acontecido como pai, atleta e capitão. Pedir desculpas na câmera e me colocar à disposição e vulnerável nesse assunto. Torcedor pode cobrar, paga ingresso e tem emoções à flor da pele assim como nós".
Como convencer o torcedor, então? "Temos que encontrar equilíbrio de luta, raça, em campo. É o que esperam. Nossos jogadores da frente voltaram rápido atrás da linha da bola, bonito de ver, e também por isso sofremos poucos gols. Temos que ter entrega, luta, esse espírito de empenho, determinação. Manter uma linha, sem oscilar. E com a nossa qualidade tudo vai fluir de maneira natural".
'O negócio futebol se tornou incompatível com a paixão'
Danilo ainda fez outra reflexão. Sobre a relação entre o torcedor comum e os protagonistas do futebol atual, que parecem cada vez mais distantes do povo. Ou da paixão nutrida no esporte.
"Vai muito além da seleção brasileira. Eu enquanto garoto adorava ver o Brasil golear, ganhar de 2 a 0 não me deixava satisfeito. Mas vai além da seleção. O negócio futebol, business, é incompatível com o futebol da essência: a paixão, amor à camisa, o drible, uma coisa digamos mais irresponsável em campo. Por isso a janela de distância entre os profissionais do futebol e os torcedores, os leigos, os apaixonados pelo futebol. Uma coisa triste que eu penso é que só vai aumentar. Se trata futebol quase como matemática, com seriedade, de forma industrial. Esse gap tende sempre a aumentar. Qual é a nossa maneira de tentar diminuir? Entrar em contato com torcedor, com as pessoas que não têm acesso a tudo isso para que vejam nossa história, que estamos de corpo e alma. O negócio futebol se tornou incompatível com o que é a paixão do futebol na essência. Vai ser difícil se aproximar do que já foi um dia".
'A comparação é o ladrão da felicidade'
Danilo ainda usou outra frase de peso ao ser perguntado sobre quando a seleção brasileira voltaria a ser aquela respeitada mundialmente. Para o jogador, só quando o Brasil voltar a ganhar uma Copa do Mundo.
"A comparação é o ladrão da felicidade, como diria Augusto Cury. Existe uma coisa que é: enquanto o Brasil não voltar a ser campeão mundial vai existir essa expectativa da seleção voltar, de quantos gols de diferença vai ganhar, eu como garoto via dessa forma. Tenho falado aqui aos jogadores, não os mais novos, mas sim aos de idade mais média, não vão chegar jogadores que vão fazer o time ganhar. Dorival não vai tirar todos para trazer 23 novos. A base é essa. É entender isso, a responsabilidade e privilégio são nossos. Entrar em campo sabendo que se o resultado for positivo seremos aplaudidos e apoio, mas se não for positivo ocorrerá o contrário. Futebol é assim".
O que mais Danilo disse?
Momento complicado
"Resultado era importante. Vínhamos de mau humor, de tristeza, pelo resultado não alcançado na Copa América e a posição nas Eliminatórias. Importante vencer, subir, dar um sinal. Fica mais fácil corrigir. Ambiente melhora. Facilita para encontrar o caminho. É o primeiro passo, claro que queremos jogar bem. É mais fácil corrigir vencendo".
Como melhorar contra o Paraguai
"É curioso isso. A expectativa aumenta, todo mundo espera um tipo de jogo, um desafio acima do que vem acontecendo. Paraguai sempre foi muito físico, é como a Libertadores. Jogos das Eliminatórias são especiais e diferentes do futebol europeu. Jogo faltoso, muitos momentos de confusão, árbitro para, chama atenção, jogo não anda e isso prejudica desempenho. Vencemos 2 a 0 nas Eliminatórias e fazia não sei quantos anos que não vencemos. Estamos acostumados, sabemos da expectativa por desempenho mais vistoso, mas jogos são difíceis. Paraguai joga em casa querendo se recuperar. Espero e desejo que a estratégia funcione, que tudo que treinamos apareça em campo, com mais posse, mais jogadas. Vai ser truncado, muita falta, e temos que nos habituar a isso também".
O que trazer do jogo contra o Paraguai na Copa América
"Se fizer análise profunda do que foi o jogo, o Paraguai quase abriu o placar de fora da área e estávamos mal posicionados. Mas furamos o bloqueio e fizemos gol. É difícil no futebol analisar, mas pensando em euforia, empolgação, o jogo trouxe o que o Brasil tem de alegre, mesmo correndo riscos evitáveis, em um jogo solto. Isso faz falta. Estudo e tática são importantes, mas também é importante um jogo mais solto, assumindo mais riscos".
Dorival
"Tenho certeza que uma das coisas que influencia nisso é o número de novos jogadores. Tivemos inúmeros novos jogadores e isso demanda um mínimo tempo para criar conexão, sinergia, ainda mais que tenhamos que ser conscientes do campo reduzido. Não é desculpa, paciência, mas é um tempo reduzido em local de privilegiados. Temos que entender o quanto antes o que o Dorival pede. Tudo está caminhando de um jeito que vai ficar tudo claro. Todos entendem o que ele pede, vai nos ajudar a ficar mais confortáveis em campo, com um futebol mais fluído".
O que está faltando?
"Conforto é mínimo, não existe. Não podemos querer conforto. Não podemos querer bom ambiente e brincadeiras sempre. Há momento para tal, mas também haverá a pressão por fazer e não levar gols. É assim que funciona. Quando entendermos que não há tanto conforto assim, vamos nos habituar com o que acontece na seleção. Não vão chegar outros jogadores, então temos que assumir, ganhar jogos, ter consciência, assumir responsabilidade de cair nas quartas da Copa América. Há detalhes que influenciam, viagens, treino, é tudo justo, mas não podemos mudar e precisamos ir a campo cientes das dificuldades para subir de nível".
Nova safra
"Eles vêm de geração que se adapta mais fácil às novidades, talvez pela tecnologia, talvez pela quantidade de informação. Facilidade de adaptação a tudo muito rápido, seja as ideias do treinador, as exigências, tudo. Pode ser muito positivo para as carreiras deles, com facilidade de adaptação maior em relação à minha geração, que precisava mais tempo, informação e conversa para se adaptar".
Vai dar tempo para a seleção?
"Tem que dar, a paciência é diferente. Falta quanto? Nesse um ano e meio temos que otimizar tempo, data, treino, para chegar na frente o mais preparado possível para competir de igual para igual com as potências".
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