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Federação Espanhola defende Vini e chama chefe de La Liga de irresponsável

do UOL

Do UOL, em São Paulo (SP)

22/05/2023 10h00

O presidente da Federação Espanhola de Futebol, Luis Rubiales, convocou uma coletiva de imprensa nesta segunda-feira para falar sobre o caso de racismo sofrido por Vini Jr. ontem, além de criticar duramente Javier Tebas, chefe da La Liga.

O que ele disse

Fatos de ontem: "Quero fazer uma declaração institucional. Decidi aparecer como o chefe do futebol espanhol. Esta é uma questão que assumiu uma dimensão para além do futebol. O que aconteceu ontem, e não é a primeira vez, me levou a aparecer e dar uma explicação, temos um problema. A primeira coisa é reconhecer que temos um problema em nosso país de comportamento, educação, racismo."

"Enquanto houver um único torcedor, um indesejável ou um grupo de indesejáveis a um clube, a um hobby, a um país inteiro. Somos um país acolhedor que recebe milhões de visitantes todos os anos, pessoas de todo o mundo."

Apoio a Vinicius Junior: "Vinicius Jr e qualquer jogador ou jogador de futebol que receber uma ofensa, neste caso por racismo, tem o meu apoio e o da Federação. Estamos aqui para apoiar e ajudar, mas também para pedir que nos ajudem a melhorar. Há quem fale do comportamento de certos jogadores. Não vou entrar nesse assunto porque é para isso que servem os árbitros e as comissões. Mas não podemos comparar um problema que envolve um grão de areia com um problema que envolve todo um deserto."

"Repito, mesmo que seja um indesejável, mesmo que seja um grupo de indesejáveis, é um problema que mancha todo o futebol espanhol. Certamente, Vinicius está mais certo do que pensamos. E todos podemos mais, também a Federação. O objetivo que estabelecemos para nós mesmos é que Vinícius e os demais jogadores que sofreram esse problema possam dizer publicamente que isso não é mais um problema na Espanha o mais rápido possível. Espero que esse dia chegue o mais rápido possível. É para isso que vamos trabalhar."

Brasil e Tebas: "Quero mandar um recado ao presidente da CBF. Em primeiro lugar, haverá poucos países no mundo como a Espanha que admiram e respeitam o futebol brasileiro. Mas não só os jogadores de futebol brasileiros, mas também todos os jogadores que vêm de outras partes do mundo: Ásia, África, América Latina. Temos que fazer com que esse esporte continue sendo um espetáculo e que todos gostem. Quero pedir ao presidente da CBF que venha na casa da Federação Espanhola ou irei para Brasil."

"Convido o presidente da CBF a checar, verificar, propor, e ver in loco o que a Federação está fazendo para resolver esse problema. Também quero pedir que ignorem o comportamento irresponsável do presidente da LFP (Javier Tebas), que entra nas redes sociais em um envolvimento com um jogador de futebol que algumas horas antes havia recebido graves insultos racistas. Os gestores não estão aqui para se envolver em redes sociais, estamos aqui para resolver problemas. Não era a hora."

Procedimento: "Isto exige uma resposta firme da Federação, de todos os agentes. Em outras ocasiões, a Federação Espanhola constatou que outros agentes de futebol não nos deixaram. A RFEF sancionou e essas sanções não puderam ser executadas. Com a lei anterior existiam conflitos jurisdicionais que faziam com que a RFEF pudesse sancionar, mas também poderia ser penalizada por via administrativa e a ação da RFEF foi invalidada. Houve estádios fechados em que a sanção foi adiada por muito tempo ou o poder da RFEF foi retirado. Só peço aos clubes que não atrasem os trâmites. Se houver uma penalidade, mesmo que doa, a penalidade não deve ser adiada no tempo."

"A lei atual não nos permitia agir da maneira que gostaríamos. Na Federação Inglesa, que é usada como exemplo, existe uma sanção, todas as partes são ouvidas. Geralmente existe a possibilidade de rememoração e é aí que se resolve. Assim também será na nova lei, embora haja um órgão superior de arbitragem. Estamos ansiosos por esse momento. A comissão vai agir e tenho certeza que vai ter que sancionar. Para além de outras áreas jurisdicionais, deve existir a resposta firme da Federação".

Mensagem final: "Para concluir. Um indesejável ou um grupo de indesejáveis espedir com a condição de que juntos conseguiremos. Me despeço retribuindo o carinho, a admiração e o respeito que sentimos pelo futebol brasileiro e de todos os países que ajudaram a engrandecer o nosso futebol".

Veja as declarações do presidente da Federação Espanhola de Futebol:

Como começou

Aos 15' do segundo tempo, torcedores lançaram outra bola em campo, e Cömert chutou na direção do brasileiro, que acabou sofrendo uma falta no momento em que estava preparando uma jogada de ataque.

Ao levantar e se direcionar para a lateral do campo, alguns torcedores do Valencia gritaram 'Mono' (macaco) contra o brasileiro.

Vinicius Junior discutiu rapidamente com alguns torcedores, mas a partida continuou.

Cerca de 10 minutos depois, o jogo foi paralisado, visto que os torcedores do Valencia voltaram a repetir o gesto.

O locutor do estádio pediu para que os gritos fossem encerrados sob ameaça do jogo ser suspenso.

Logo depois, o brasileiro identificou o torcedor que cometeu o ato racista e ao tirar satisfação foi insultado por outros torcedores presentes.

Poucos minutos depois, já nos acréscimos, jogadores de Valencia e Real Madrid trocaram empurrões após Vini Jr. ser chamado de macaco pelo goleiro rival e receber um mata-leão de Hugo Duro.

Na reação, o brasileiro atingiu o rosto de Mamardashvili e acabou expulso.

Vinicius se encara con aficionados por, según parece, haberle dicho "mono". El Valencia CF NO es esto, por muy provocador que sea, esto NO debe tolerarse pic.twitter.com/VsCErEnrwE

-- SG_94 (@Ivan_Miron_SF) May 21, 2023

Vini Jr sofreu racismo o jogo inteiro, levou um mata leão nessa briga no final do jogo, e adivinhem quem foi expulso?

A La Liga é uma VERGONHA pic.twitter.com/ylZiz6LNcu

-- Central do Braga (@CentralDoBrega) May 21, 2023

Racismo x injúria racial

A Lei de Racismo, de 1989, engloba "os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional". O crime ocorre quando há uma discriminação generalizada contra um coletivo de pessoas. Exemplo disso seria impedir um grupo de acessar um local em decorrência da sua raça, etnia ou religião.

O autor de crime de racismo pode ter uma punição de 1 a 5 anos de prisão. Trata-se de crime inafiançável e não prescreve. Ou seja: no caso de quem está sendo julgado, não é possível pagar fiança; para a vítima, não há prazo para denunciar.

Já a injúria racial consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião ou origem a fim de atacar a dignidade de alguém de forma individual. Um exemplo de injúria racial é xingar um negro de forma pejorativa utilizando uma palavra relacionada à raça.

Violência contra negros no Brasil

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2021 (levantamento mais recente feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, com dados do ano de 2020), 75,8% das vítimas de homicídio no Brasil eram pessoas negras.

Entre as pessoas mortas por policiais, 78,9% são pessoas negras.

Na esfera do poder público, não existe uma divulgação transparente de dados oficiais nacionais sobre homicídios ou sobre mortes provocadas por policiais em todo o Brasil. O governo brasileiro também não disponibiliza dados nacionais sobre as investigações e punições de homicídios.

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