Safras fortes, pressão, tensão dos pênaltis: atletas de Vasco e São Paulo lembram final da Copinha de 92
Nesta sexta-feira, às 15h30, a 50ª edição da Copa São Paulo de Futebol Júnior terá como seu último ato um duelo que traz grandes recordações para apaixonados pelo futebol. Há 27 anos, Vasco e São Paulo também mediam forças na busca pelo título da Copinha. Após o empate em 1 a 1, o Cruz-Maltino deu a volta olímpica no Pacaembu, com um triunfo por 5 a 3 nos pênaltis.
Zagueiro vascaíno em 1992, Tinho revelou ao LANCE! como foi o clima que antecedeu a decisão:
- A gente tinha aquele desejo de buscar um título inédito para o clube. Sabíamos que íamos enfrentar a maioria da torcida do São Paulo, que era uma equipe muito forte, muito segura, mas sabíamos o que fazer. O nosso time do Vasco tinha ganho a Taça BH e o Carioca. Estávamos com muita sede de vitória nessa final da Copinha.
Defensor do São Paulo naquela edição, Sérgio Baresi também evidenciou o equilíbrio entre as equipes:
- Nós (O São Paulo) tínhamos a melhor defesa e o melhor ataque da competição. Mas o Vasco fez uma grande partida. E em finais, estes detalhes são cruciais. Foi uma pena, porque acabamos vice-campeões sem ter perdido nenhuma partida no tempo normal.
SAFRAS MUITO FORTES EM CAMPO
A sensação de que a decisão do Pacaembu se tornou um celeiro de craques passa pelos corações de jogadores de São Paulo e Vasco. Autor do gol do Cruz-Maltino, Valdir lista o elenco e valoriza a forma como a equipe foi bem montada:
- A gente conseguiu um entrosamento muito bom e era uma geração ótima. Tinha o Pimentel, o "China" (apelido do zagueiro Alex), Caetano, o Hernande, que formava a dupla de ataque comigo... E o Gaúcho (treinador) sempre foi um cara muito tranquilo, soube trabalhar bem o nosso grupo.
De acordo com Tinho, coube ao técnico ser decisivo para montar a equipe:
- Ele lançou como titulares o Leandro Ávila, que praticamente não jogava, o Denílson e o Hernande. Além disto, subiu outros jogadores.
Porém, nem mesmo a boa safra fez o Cruz-Maltino chegar com tamanho otimismo à Copinha. Segundo Leandro Ávila, a confiança começou a entrar em campo durante a competição:
- Quando a gente viajou, achávamos que íamos fazer uma boa campanha. Mas só com o decorrer dos jogos é que ganhamos um ambiente muito propício para conseguir o título. A gente se entrosou, os jogadores novos foram entrando com o passar do tempo e fomos tentando o título degrau por degrau.
Já do lado do São Paulo, o meio-campista Mona exalta o que pesou para a equipe se fortalecer:
- Nossa base já jogava junto desde o infantil. Tínhamos gente como o Sérgio (Baresi), o Alexandre, o Catê, o Andrey no time. A gente se conhecia muito, tinha um entrosamento. E como não tínhamos oportunidade com o Telê (Santana), porque o profissional era muito bom, voltávamos para os aspirantes. Tanto que, teve uma vez, que o São Paulo não contratou ninguém.
Para o zagueiro Sérgio Baresi, este equilíbrio tornava o Tricolor paulista uma equipe capaz de disputar bem todas as competições da categoria:
- Nossa safra sempre ia para as finais. Com isto, tornamos cada vez mais nosso jogo equilibrado. Ganhamos força, inclusive, para voltarmos à final da Copinha em 1993 e sermos campeões contra o Corinthians.
Volante que entrou em campo pelo São Paulo no decorrer do segundo tempo, Doriva valorizou o desafio que foi enfrentar aquele duelo:
- Tanto Vasco quanto São Paulo tinham grandes jogadores, que confirmaram isso depois tendo uma carreira boa. A gente lembra muito daquele momento. Mas a partida foi equilibradíssima, no jogo e na prorrogação.
PÊNALTIS: DA PRESSÃO ADVERSÁRIA À FRUSTRAÇÃO QUE É SEMPRE LEMBRADA
Com o empate em 1 a 1 tendo persistido, a disputa do título entre Vasco e São Paulo ficou mesmo para os pênaltis. E algumas lembranças persistem, até mesmo quando um atleta já virou a página de uma decisão.
- Assim que o Vasco ganhou, falei para o meu cunhado, que estava vendo a partida ao meu lado: "agora é que vão mostrar minha imagem perdendo pênalti toda hora na televisão" (risos) - revelou Mona.
O meio-campista bateu para fora a primeira cobrança do Tricolor paulista.
- Não tem como esquecer. Eu já tinha batido pênalti durante a Copinha e tinha ido bem durante o jogo. Lembro que um jornalista falou para mim: ou você ou o Valdir Bigode vai sair como herói, pois eu tinha feito a jogada para o gol do Andrey. Aí eu vou, bato para fora e a gente perde. Fica aquela sensação de culpa, de que não valeu nada.
Segundo cobrador de pênalti do Vasco, Tinho não escondeu que foi um desafio e tanto encarar o Pacaembu:
- Ah, pênalti é sempre uma responsabilidade e tanto. A gente teve de se concentrar, mesmo ouvindo a pressão da maioria de torcedores do São Paulo.
O zagueiro daquele Cruz-Maltino contou o que pesou para ele ter mais concentração diante do goleiro Alexandre:
- O Gaúcho chegou para os cinco cobradores e falou: "Olha, eu confio em vocês. Pênalti acontece de tudo". Isto deu uma tranquilidade para a gente. Eu mesmo mandei uma "varada" e acertei o canto.
Designado para ser o batedor que veio logo em seguida do erro de Mona, Doriva exaltou ter deixado o seu. Porém, disse que a tristeza acabou pesando.
- Fui o segundo a bater, consegui fazer, mas depois perdemos a decisão. Aquilo na época foi uma tristeza para mim, ao menos momentânea. Só que, felizmente, consegui seguir com minha carreira, assim como ocorreu com outros jogadores do São Paulo.
Já para o volante Leandro Ávila, o controle da tensão pesou na hora de bater o pênalti:
- Eu não estava acostumado a bater pênalti. Então nessa hora, você tem de respirar fundo. Quando as coisas estão conspirando a nosso favor, tudo ajuda. Quando você fica preocupado, acaba não acertando.
O APRENDIZADO DE UMA DECISÃO
A final de 25 de janeiro de 1992 surgiu como um aprendizado para quem esteve em campo no Pacaembu. De acordo com Leandro Ávila, seu período na base do Vasco o ajudou até a mudar de posição para garantir uma vaga entre os titulares:
- Quando eu estava na base, eu atuava como meia, mas a disputa lá no Vasco era muito grande. Aí, o Gaúcho disse que tinha uma vaga de volante. Inicialmente, eu subia mais, deixava alguns buracos. Mas, depois, fui me adaptando para me especializar na marcação e consegui me firmar.
O volante contou uma história inusitada sobre o momento em que subiu para os profissionais:
- Como a equipe do Vasco era muito forte, metade dos jogadores era emprestada. Aí, eu fui cedido para o Americano. Depois de um mês, fiz as malas, voltei para o Vasco e o Eurico (Miranda) me deixou treinando em separado. Só que, na época, a equipe jogava com o "Expressinho". O Alcir (Portella) me improvisou de lateral-esquerdo no lugar do Ayupe e eu marquei um gol. O Nelsinho (Rosa), que era técnico dos profissionais, gostou e me chamou para jogar.
Do lado são-paulino, a sensação de que haveria novos caminhos pela frente passou por Mona. Mesmo após o Vasco se sagrar campeão:
- Depois do jogo, muita gente me abordou. Eles falaram que eu não merecia passar pelo pênalti perdido, por aquela lembrança. Foi bom que a gente conseguiu voltar à final da Copinha em 1993, quando o nosso time estava voando. E, depois, segui minha carreira - disse o meio-campista, que ainda venceu uma Copa Conmebol em 1994 pelos profissionais.
Já para Doriva, a perseverança é a maior lição que ficou do duelo da Copinha de 1992:
- Quando se perde uma final como aquela, a gente é forjado. Com certeza, aquele tudo que vivenciou, eu estava fora dos planos. No final, devido aos treinamentos, eu estava fora da final. Além da maturidade, a lição que me deu foi a perseverança. Entrei na decisão, bati pênalti. Em nenhum momento, me deixei desanimar.
EQUILÍBRIO E LEMBRANÇAS DE 1992: PALPITES SOBRE DUELO DE SEXTA
Passados 27 anos, jogadores de São Paulo e Vasco não escondem sua expectativa por mais uma disputa de título na Copa São Paulo de Futebol Júnior. Atualmente técnico do Criciúma, o ex-volante do São Paulo, Doriva, não esconde sua alegria com a proximidade da reedição do duelo:
- É bacana ter uma repetição da final. As duas equipes são muito qualificadas, acredito que será uma decisão de muita qualidade que vamos assistir.
Então zagueiro do Tricolor paulista, Sérgio Baresi aponta as qualidades dos adversários:
- O São Paulo tem este histórico de chegar muitas vezes em decisões do sub-20. Além disto, nesta Copinha vem vencendo com muitos méritos cada competição. Mas o Vasco tem um lado ofensivo muito forte. Com jogadores que podem desequilibrar a partida. Quem estiver melhor emocionalmente fará a diferença.
Mona ratifica a opinião do seu ex-companheiro de clube:
- Embora o São Paulo tenha superioridade técnica, o Vasco está com muitos jogadores bons de frente. O Lucas Santos é bom de bola, o Tiago (Reis) tem faro de gol. Será um jogo equilibrado - diz o atual técnico do sub-15 do Votorantinense.
Os ex-jogadores do Vasco não escondem que o embate será bem intenso. Inclusive, o artilheiro Valdir Bigode vê semelhanças com o duelo de 1992:
- Eu vejo este atual São Paulo com um jogo bem parecido com o daquela época que a gente se enfrentou. É uma equipe muito difícil, que chega muito forte à final, com resultados bastante expressivos. O Vasco tem de cair dentro, se impor, como fez em outros jogos e criar oportunidades para lutar pela vitória - diz o ex-atacante, que foi auxiliar fixo do Cruz-Maltino até o início deste ano.
Para Tinho, o clube da Colina tem que mostrar sua força desde o início:
- A equipe tem jogadores de qualidade, com condições de chegar aos profissionais do clube. O Marcos Valadares tem condições de garantir que estes meninos se consolidem, mostrem de vez sua força amanhã (sexta-feira).
Aos olhos de Leandro Ávila, há um equilíbrio entre as equipes e alguns resquícios do panorama que o Vasco encontrou 27 anos atrás:
- O time do São Paulo é muito forte. Já a trajetória do Vasco é muito parecida com a que gente sentia. A gente foi ganhando jogo a jogo, subindo aos poucos. Agora, tudo pode acontecer.
Resta saber quem escreverá uma história vencedora no São Paulo e Vasco desta sexta-feira.
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