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Nu frontal e 18+: como é peça que narra vida de autor francês ‘marginal’

Após sucesso no Rio, espetáculo "Marginal Genet" chega a São Paulo - @arielcavotti
Após sucesso no Rio, espetáculo 'Marginal Genet' chega a São Paulo Imagem: @arielcavotti
do UOL

De Splash, no Rio

05/07/2025 05h30

O francês Jean Genet (1910-1986) foi um controverso escritor, poeta, dramaturgo e ativista francês do século 20. Sua trajetória é contada no espetáculo "Marginal Genet", que estreou ontem em São Paulo, a partir de recortes de sua juventude marginal, de seus desejos proibidos e de sua solidão.

Espetáculo biográfico

Com nu frontal e classificação indicativa para maiores de 18 anos, o espetáculo traz erotismo, violência e poesia para contar a história de um homem que fez da marginalidade sua principal bandeira. A peça fica em cartaz em São Paulo no teatro Ruth Escobar, o mesmo que recebeu o autor francês em sua única passagem pelo Brasil em 1970. As apresentações acontecem às sextas-feiras e sábados do mês de julho.

A peça apresenta o autor em diferentes fases da vida, desde os tempos de garoto de programa e ladrão em Paris até os dilemas existenciais que marcaram sua literatura. Em cena, o público acompanha Genet em encontros com outros marginalizados: o policial Bernardini, o garoto de programa René, o mendigo Lucien e a cantora Charlotte Renaux — todos são personagens do livro "Diário de um Ladrão", escrito por Genet em 1949. A obra também é inspirada em "Saint Genet", biografia escrita por Jean-Paul Sartre.

A poesia de Jean Genet em seu 'Diário de um Ladrão' me fascina por exprimir desejos e fantasias sem pudores, propondo uma imersão na sua intimidade tendo como atrativo uma irresistível obscenidade. Francis Mayer, criador e diretor da montagem

Para o diretor, o erotismo e a violência são elementos centrais da narrativa de Genet, mas não estão ali apenas para chocar. "Busquei nos marginais santificados uma beleza profunda, tendo como alvo transformar violência em ternura."

A nudez dos personagens em partes do espetáculo é encarada pelo diretor como parte essencial da proposta artística. "Segundo Jean Genet, os homens voltados para o mal possuem os recursos da virilidade e seu universo fede a suor, esperma e sangue. A nudez faz parte desse banquete".

Um 'personagem' genial com imaginação alegórica e febril abre o seu diário e convida o público a participar da sua intimidade, compartilhando histórias de seus encontros e amores de uma vida vagabunda, austera e miserável. Francis Mayer

'Marginal Genet' é estrelado por Thiago Brugger, Fernando Braga, Samuel Godois, Vinicius Moizes e Yago Monteiro - @arielcavotti - @arielcavotti
'Marginal Genet' é estrelado por Thiago Brugger, Fernando Braga, Samuel Godois, Vinicius Moizes e Yago Monteiro
Imagem: @arielcavotti

Desafio físico e emocional

Interpretar Genet exigiu entrega total do ator Thiago Brugger. Ele revela que precisou equilibrar tecnicamente os impactos físicos e emocionais do papel. "Pude sentir uma exaustão física por causa do teor das cenas mais agressivas e também emocional, devido à obra marginal de Genet. Não é fácil, não é leve".

O ator destaca que a peça aborda temas que seguem atuais no debate sobre afetividade e solidão no universo LGBT+. "O quanto isso pode ser complexo na nossa sociedade até hoje, quando se trata do que é o amor para um homem gay, com todos os traumas e repressões que vivemos. Existe uma banalização das relações de afeto no meio LGBTQIAPN+ disfarçada de liberdade".

A recepção, segundo Thiago, tem sido marcada por choque e identificação. "O público gay se identifica nas relações apresentadas e se questiona. As pessoas relatam uma certa revolta, torcem por Genet como se torcessem por si mesmas."

Para ele, a peça cumpre seu papel de provocar reflexão. "O papel da arte é esse: plantar questionamentos. Fico feliz de poder apresentar Genet para mais pessoas e provocar essas discussões."

"Marginal Genet"
Onde:
Teatro Ruth Escobar (Rua dos Ingleses, 209 - Bela Vista)
Quando: Até 26 de julho, sextas-feiras, 20h30, sábados, 20h
Ingressos: a partir de R$ 55, meia-entrada (via sympla)