
A primeira edição europeia do South by Southwest (SXSW) chegou a Londres com fôlego novo e números expressivos. Entre os dias 2 e 7 de junho, 20.505 participantes de 77 países circularam por Shoreditch, zona leste da capital inglesa, reafirmando o potencial do evento como ponto de encontro global para criatividade, cultura e inovação. Representantes de mais de 50 setores diferentes —de tecnologia à música, de publicidade ao design— participaram dos seis dias de programação intensa que ocupou casas independentes, bares, clubes, centros culturais e espaços públicos da região.
O que rolou
A chegada do SXSW à Europa representa uma nova fase para o festival, que, além de Austin e Sydney, agora estabelece uma base em Londres. O evento contou com a presença de líderes de peso, como Sua Majestade, o Rei, o prefeito Sadiq Khan e a presidente do comitê de cultura e mídia britânico, Dame Caroline Dinenage MP, além de representantes do Parlamento e da cena criativa local. A dimensão política e econômica do festival levou muitos a compararem seu impacto inicial ao dos Jogos Olímpicos de 2012 —com destaque para a revitalização urbana, projeção internacional e estímulo direto à economia criativa da região.
O Brasil apareceu entre os dez países com maior número de participantes, ao lado de EUA, Alemanha, França, Austrália, Holanda, Suécia, Noruega e Espanha —um sinal da força e da curiosidade global em torno da nossa cena cultural e tecnológica. Ao todo, foram cerca de 150 brasileiros presentes, número ainda distante dos mais de 3.000 que costumam integrar a edição norte-americana, mas representativo para uma estreia.
Nesta edição, o Brasil não contou com showcases musicais ou palestrantes de destaque na programação oficial, evidenciando um espaço ainda a ser ocupado em Londres. Apesar disso, o interesse do setor foi visível: profissionais da AFROPUNK, Rock The Mountain, Carvalheira, Sympla, Deezer Brasil, ABMI, além das equipes do UOL Para Marcas e do TOCA UOL, marcaram presença e acompanharam de perto as discussões e experiências.
A cena musical local também se destacou. O SXSW London foi vitrine para o neo soul britânico, com artistas como NAO, Sasha Keable, Demae, Lizzie Berchie, Ego Ella May e Tawiah, além de nomes de peso do hip hop, como Ryan De La Cruz, Loyle Carner e a aclamada Little Simz, que lançou seu sexto álbum, Lotus, durante o festival.
E Londres não parou. Paralelamente ao SXSW, a cidade recebeu outros eventos de peso —entre eles os primeiros shows da turnê europeia de Beyoncé com Cowboy Carter, o LIDO Festival, com apresentações de Air (França), 57 Soul (Palestina) e uma performance histórica do Massive Attack, que assumiu um forte posicionamento político com a mensagem #FreePalestine. Outro evento relevante foi o Earth Fest, que discute sustentabilidade e música, também acompanhado pelo TOCA UOL.
O posicionamento político, inclusive, marcou o SXSW London. A pauta #FreePalestine esteve presente em falas, painéis, projeções, performances e declarações públicas —refletindo a força do debate político-cultural na capital britânica.
Entre os temas mais debatidos, a Inteligência Artificial (IA) ocupou lugar central nas conversas sobre o futuro da música. Embora dominante nos painéis, o tema ainda se apresenta como um "campo cinzento", cheio de dúvidas sobre autoria, ética, remuneração e criatividade. A ausência de grandes empresas chinesas e americanas, protagonistas do desenvolvimento de IA, foi notada —e levanta questões sobre a disposição real de se debater o tema de forma transparente em fóruns como o SXSW.
Já no consumo e comportamento, três tendências chamaram atenção:
- O "sold out" real está mais raro: mesmo shows como os de Beyoncé não esgotaram totalmente. Nenhum dos eventos acompanhados teve todos os ingressos vendidos;
- O vinil segue firme: todo lançamento com peso artístico é prensado em vinil (e, às vezes, em CD);
- A margarita é o novo negroni: o drink mexicano está em alta, seja em versões artesanais, enlatadas ou RTD (ready to drink).
O SXSW London 2025 foi, ao mesmo tempo, símbolo e estrutura. Uma estreia promissora, com espaço para crescer na representatividade de vozes latinas, africanas e periféricas —e também na escuta sobre os rumos éticos e econômicos das novas tecnologias. Como afirmou Ayesha Qureshi, ex-integrante do comitê dos Jogos Olímpicos de 2012, a semente foi plantada. O festival pode, sim, tornar-se um pilar duradouro da inovação criativa no Reino Unido —e no mundo.
Que nos reencontremos em 2026 no SXSW —seja em Londres, Austin ou Sydney.