Meta está pagando US$ 50 por hora para digitalizar sorrisos e ações

A Meta, gigante da tecnologia dona do WhatsApp, Facebook e Instagram, contratou a empresa de coleta e rotulagem de dados Appen para escanear adultos, por US$ 50 por hora de trabalho. O objetivo é aprimorar suas plataformas de realidade virtual, segundo reportagem do portal Business Insider.
Já na Europa, a empresa encara a atuação de ativistas se não desistir de requisitar dados de usuários que já haviam desistido de cedê-los à Meta.
O que aconteceu
Projeto Warhol é novo plano da Meta. A big tech está pagando trabalhadores free-lancer, de forma terceirizada pela Appen, para gravar, com câmeras e sensores, seus sorrisos, movimentos e conversas casuais.
Materiais de recrutamento convidavam maiores de 18 anos para "ajudar na melhoria dos avatares", sob pagamento. O projeto é dividido em dois estudos: "Movimento Humano" e "Conversas em Grupo", programados para começar em setembro no centro de pesquisa da Meta, em Pittsburgh, EUA.
No estudo Movimento Humano, os participantes são gravados imitando gestos. Neste caso, eles simulavam expressões faciais, leem frases e fazem gestos com as mãos, enquanto câmeras, fones de ouvido e sensores capturam os movimentos de todos os ângulos.
Já o estudo Conversas em Grupo simulava diálogos. Ele tem o objetivo de reunir dois ou três free-lancers para "participar de conversas e atividades leves de improvisação". Assim, os pesquisadores registravam falas, gestos e microexpressões naturais para construir avatares mais "realistas e imersivos".
Movimento coleta dados para o chamado "Projeto Warhol". O nome está sendo usado pela Appen e a Meta é citada como cliente nos formulários de consentimento de dados aos free-lancers.
Meta confirmou iniciativa. Ao Business Insider, a companhia disse que o Projeto Warhol faz parte de seu esforço para treinar os chamados Codec Avatars, réplicas digitais fotorrealistas e atualizadas em tempo real de pessoas para uso nas realidades virtual e aumentada. A iniciativa foi anunciada em 2019. Já a Appen se recusou a comentar sobre o projeto.
Codec Avatars são uma tecnologia-chave para a Meta. O conceito remete à "telepresença métrica", que a gigante das redes sociais diz lear a uma presença digital "indistinguível da realidade".
Novo problema de tratamento de dados na Europa
Ativistas vão contra métodos da Meta. O grupo austríaco de defesa de direitos None of Your Business (NOYB) disse hoje que buscaria uma liminar contra a Meta se a gigante da tecnologia prosseguir com os planos de usar dados pessoais de europeus para treinar seus modelos de inteligência artificial. Isso poderia levar a pedidos de indenização de bilhões de euros.
Empresa pede dados mesmo de quem recusou. De acordo com a NYOB, alguns usuários receberam uma notificação avisando que tinham que revisar suas preferências de compartilhamento até o dia 27 de maio, mesmo que esses perfis já tivessem optado por não fazer nenhum compartilhamento com a empresa. Caso não sinalizassem a recusa nessa segunda solicitação, os usuários poderiam ter suas informações compartilhadas.
Meta AI já faz isso no Brasil. A Meta começou a usar dados de contas do Instagram e do Facebook para treinar sua IA no final do ano passado no nosso país. Em diversos países da Europa, o uso dessas informações ainda não é permitido por lei. A companhia tem até o dia 21 de maio para responder às acusações feitas pelos ativistas da NYOB por meio de um contato com a organização, para um acordo ou por um documento que indique que a empresa desistiu de usar dados de europeus para treinar sua IA.
Água nos planos de longo prazo da Meta
Já faz um tempo que a big tech patina para abrir negócios em novas interações digitais. A Facebook Inc. mudou de nome para Meta em 2021 com a intenção declarada de ser um líder em metaversos, ambientes 3D a serem usados com ferramentas como óculos imersivos de realidade virtual. Mas o conceito nunca decolou.
Em 2022, Zuckerberg foi motivo de piada por causa de seu avatar de metaverso. A imagem, considerada feia demais, foi apreesentada no lançamento do Horizon World, a plataforma de rede social em realidade virtual da Meta, na Espanha e na França.
Em abril deste ano, empresa demitiu funcionários do Reality Labs, unidade de pesquisa para realidades virtual e aumentada. As dispensas afetaram a Oculus Studios, que fabrica óculos de VR, e a Supernatural, app fitness de realidade virtual da Meta.