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Biógrafo de Roberto Marinho diz que Globo entendeu brasileiro médio

Roberto Marinho nos estúdios da Globo - Acervo/Roberto Marinho
Roberto Marinho nos estúdios da Globo Imagem: Acervo/Roberto Marinho
do UOL

De Splash, em São Paulo

10/05/2025 05h30

O escritor e jornalista capixaba Leonêncio Nossa, 50, lança o segundo volume da biografia do fundador da Globo: "Roberto Marinho - A Globo na Ditadura: Dos Festivais às Bombas no Riocentro". Se no primeiro volume, em 2019, o biógrafo narrou a história do empresário do seu nascimento ao nascimento do JN, agora ele foca na ascensão da emissora.

O livro conta como Marinho transformou a Globo em uma das principais emissoras do Brasil entre os anos de 1967 e 1981. A obra busca revisitar a história do canal desde o início, durante a ditadura militar, até o atentado no Riocentro, episódio que expôs as tensões internas do governo.

Esse segundo volume da biografia do Roberto Marinho entra muito na TV, porque é justamente nos anos 1970 que a Globo vai dar o seu grande salto e se tornar uma empresa hegemônica no país. O grupo do Roberto Marinho saiu do quinto lugar para o primeiro. Para entender o personagem, precisei entender o que foi a Globo naquele período.
Leonêncio Nossa, escritor do livro, em entrevista para Splash

Natural de Vitória, Leonêncio Nossa se formou em jornalismo e foi morar em Brasília para cobrir política. Inspirado por "Chatô, o Rei do Brasil", biografia de Assis Chateaubriand lançada por Fernando Morais em 1994, ele nutria, desde a época de faculdade, o desejo de biografar Roberto Marinho. "Sempre no sentido de interpretar o Brasil. Esse foi o meu desafio", conta. Em 2013, ele conseguiu tempo para se dedicar ao projeto, entrevistou mais de 160 pessoas em mais de dez anos e dividiu a biografia do empresário em três volumes.

Ele criou a Globo e tem uma história muito ampla. Roberto Marinho viveu quase 100 anos. Então, resolvi fazer três volumes: o primeiro vai do nascimento, em 1904, no Rio, até a estreia do Jornal Nacional [em 1969]. O segundo volume tem a ascensão da Globo, os festivais e a ditadura, até 1981, quando houve a bomba do Riocentro. O terceiro volume, que vou lançar ainda, vai das eleições 1982 até a morte dele, em 2003.

A ditadura militar e a censura às novelas

Roberto Marinho deu o pontapé oficial na TV Globo em 1965 —um ano após o início da ditadura militar no Brasil. O jornalista narra que a emissora apoiava o golpe militar, mas, com a censura às novelas e o prejuízo que veio junto, as relações estremeceram. "Quando tem a explosão das novelas, a Globo começa a fazer muito sucesso nos anos 1970, o que atrai a censura. Teve uma novela inteira, que é o primeiro 'Roque Santeiro', que não foi ao ar."

Roberto Marinho tinha papel fundamental na articulação com os militares  - Nelson Di Rago/Globo - Nelson Di Rago/Globo
Roberto Marinho tinha papel fundamental na articulação com os militares
Imagem: Nelson Di Rago/Globo

Essa burocracia da ditadura é muito ruim para a TV. É tanto que a Globo foi ganhar dinheiro mesmo só quando terminou a censura, porque passou a produzir à vontade, o custo era muito mais baixo. O choque dele com a ditadura é, justamente, uma questão de mercado, de negócio. A ditadura foi um empecilho para todos.

"Globo entendeu o brasileiro médio"

Roberto Marinho não era um aventureiro no ramo da televisão. Após o sucesso com o projeto do jornal O Globo, o empresário embarcou na ideia de criar o canal de TV Globo, mas não contou com o apoio da família. Ele, no entanto, já tinha conhecimento de como iniciar o projeto após uma experiência fracassada de uma produtora do pai, Irineu Marinho.

Roberto Marinho negociava com censores para não impedir crescimento da Globo - Divulgação/Globo/Dario Zalis - Divulgação/Globo/Dario Zalis
Roberto Marinho negociava com censores para não impedir crescimento da Globo
Imagem: Divulgação/Globo/Dario Zalis

"Os irmãos eram sócios dele no jornal, mas na Globo não foram. É um negócio louco, né?", conta o autor. "Dizem que o Roberto apostou tudo na história oficial, mas ele tinha uma base. O pai investiu em produtoras de filmes no Rio de Janeiro, no início do cinema, e o próprio Roberto Marinho atuou, ainda um menino de 9 anos, em filmes. Fizeram um filme sobre um bandido que descia o Pão de Açúcar, aí um corpo caia... um dos figurantes era o Roberto", cita o escritor.

Essa produtora, a Veritas, foi um fracasso, mas havia ali o desejo do pai de entrar no audiovisual. Então, essa entrada dele tem uma explicação familiar. Podem falar: 'isso aí está muito distante do que vai ser a Globo'. Mas ele tinha um embasamento, tinha base, ele não foi um aventureiro. Isso fazia parte do Rio de Janeiro que ele viveu quando menino.

Existe explicação para o sucesso da Globo em 60 anos no ar? Para o escritor, Roberto Marinho soube entender, junto aos seus aliados, o perfil do público brasileiro e acompanhou sua evolução ao longo dos anos. "A grande explicação desse sucesso da Globo é justamente entender esse brasileiro médio. Esse brasileiro que, às vezes, os campos políticos não entendem."

Nós estamos falando de um brasileiro conservador? Nem tanto, porque as novelas da Globo são bem de mudanças, de rupturas de costumes. Você tem uma certa religiosidade, uma certa questão familiar. Tem vários elementos, mas a capacidade de quem fez —não só da família Marinho— de entender esse brasileiro é decisiva. Essa compreensão do que é o brasileiro médio é crucial.

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