Ela mentiu para o marido sobre poder doar rins: 'Senti tristeza no olhar'

Rosa de Moraes carrega no sorriso e nas lágrimas a lembrança do dia que mudou sua vida e a do marido, Leonardo Oliveira de Moraes. Diagnosticado com insuficiência renal crônica, ele dependia de hemodiálise três vezes por semana, e esperou por dois anos e meio por um transplante quando Rosa descobriu que era compatível para doar um de seus rins.
Quando peguei o resultado do exame, caí em prantos. Chorei muito, até hoje me emociono ao lembrar que podia salvar uma vida.
Rosa, ainda comovida, em entrevista a Splash
Para aliviar a tensão do marido, ela decidiu pregar uma peça. "Ele estava deitado no quarto, entrei com o resultado na mão e brinquei: 'Olha, infelizmente não vou poder te ajudar, meu tipo sanguíneo não combina com o seu'", relembra.
A reação de Leonardo foi de tristeza visível. "Senti tristeza no olhar dele, e a decepção. Mas não aguentei segurar a verdade e logo disse: 'É mentira, eu posso sim!'", relata.
O momento seguinte foi de pura emoção. "Nos abraçamos e caímos no choro. Até hoje, quando lembro dessa cena, me emociono por saber que pude salvar uma vida", diz Rosa, enxugando as lágrimas.
O transplante foi um sucesso e teve sua história contada no novo episódio de Operação Transplante, que já está disponível na Max. A cada episódio, duas histórias de transplante são mostradas. A produção acompanha desde a preparação daqueles que esperam um órgão, até o processo de exames e a complexa logística.
Hoje, Leonardo vive com saúde graças ao gesto da esposa. Rosa não tem dúvidas: "A maior felicidade é poder olhar para ele e saber que fiz a diferença. Doar um rim não me fez falta nenhuma, mas fez toda a diferença para ele".
"É indescritível, é uma situação maravilhosa", definiu Leonardo sobre a experiência de receber um rim da esposa. "Depois de todos os exames e, enfim, após o transplante ter sido realizado, é uma coisa sublime, uma gratidão imensa", disse Leonardo. "Primeiro a Deus, e depois essa gratidão que eu tenho em relação ao gesto da minha esposa".
O marido não esconde a admiração pelo ato de amor da companheira. "Pensar que com esse gesto ela mudou completamente a minha vida... Se eu for começar a explicar, vou ficar o dia inteiro falando", brincou, visivelmente emocionado. "Tudo de bom que aconteceu é espetacular".
Leonardo também agradeceu a toda equipe médica envolvida no processo. "A gratidão que a gente sente por tudo, né, por Deus, pelo doador e, claro, pelos médicos também", completou.
O transplante foi realizado no dia 17 de julho de 2024, em São Paulo. Foram duas cirurgias simultâneas: uma para retirar o órgão do doador e outra para implantá-lo no receptor.
"Não tem preço"
Com mais de 18 mil pessoas aguardando por um transplante no estado de São Paulo, a Central de Transplantes trabalha diariamente para viabilizar doações e salvar vidas. Francisco Monteiro, coordenador do sistema estadual, explica a Splash sobre o processo: "Aqui na Central, a gente recebe o doador, organiza a busca por órgãos, acolhe a família, explica todo o processo e oferece a opção de doação".
No entanto, a escassez de órgãos gera angústia. "Infelizmente, não temos órgãos para todo mundo", afirma Monteiro. Quando pacientes conseguem um doador vivo, como Rosa e Leonardo, o tempo de espera diminui. "A felicidade deles é a mesma daqueles que recebem um coração, que só pode vir de um doador falecido", diz.
Para o coordenador, cada órgão transplantado é uma vitória. "Ver o sorriso de quem recebeu uma nova chance, como o da dona Rosa e do seu Leonardo, não tem preço", emociona-se. "É por isso que a gente vibra a cada doação efetivada".
O Brasil é o segundo maior transplantador de órgãos do mundo, atrás somente dos Estados Unidos. Mesmo com este número, ainda é preciso criar o entendimento das famílias sobre a importância.
Segundo dados de novembro de 2024 da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), a recusa da família é a principal razão das doações de órgãos serem inviabilizadas, com cerca de 45% dos parentes recusando a doação após morte encefálica. O segundo motivo que impede a efetivação dos potenciais doadores é a contraindicação médica, que corresponde a 18% dos casos, segundo a ABTO.
Monteiro ressalta que a falta de conhecimento ainda é um obstáculo. "Muitas famílias não acreditam, têm dúvidas ou esperam uma recuperação milagrosa, mesmo diante de um quadro irreversível", explica. Segundo ele, a conscientização é essencial para as famílias tomarem a decisão de doar. "Quando o familiar já deixou claro seu desejo em vida, facilita muito", comenta.
Operação Transplante, segundo ele, pode ajudar a esclarecer dúvidas e incentivar a doação. "Com informação, as equipes hospitalares podem dar melhor assistência às famílias nesse momento difícil", afirma.
No Brasil, mesmo que uma pessoa declare em documento seu desejo de ser doadora, a autorização familiar é indispensável. "Já tentamos incluir no RG, mas muitas famílias negavam por medo de que os órgãos fossem retirados à revelia", relata Monteiro.
Ele explica que, em casos de discordância entre familiares, a doação não é realizada. "Respeitamos a decisão da família para evitar desconfortos. Hoje, esse ainda é o melhor sistema para o Brasil, considerando nosso nível de conscientização".
Enquanto a fila de espera cresce, a Central de Transplantes segue na batalha contra a desinformação e na esperança de mais doadores. "Precisamos que as pessoas conversem sobre isso em vida. É a melhor forma de garantir que sua vontade seja respeitada e de salvar vidas", finaliza Monteiro.