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'Inaceitáveis': ex-líder da Meta diz por que saiu após ações de Zuckerberg

, Helton Simões Gomes e Ruam Oliveira
do UOL

Colunistas de Tilt e Colaboração para Tilt

15/04/2025 05h30

(Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre tecnologia no podcast Deu Tilt. O programa vai ao ar às terças-feiras no YouTube do UOL, no Spotify, no Deezer e no Apple Podcasts. Nesta semana, o assunto é: A executiva que disse adeus; Zuckerberg e a 'energia masculina'; Best-seller irrita império das redes; Eleições 2026, Trump e Big Tech)

Mark Zuckerberg, CEO da Meta, pegou muita gente de surpresa quando anunciou o fim da checagem de fatos e da moderação automática, além do retorno do conteúdo político para Facebook, Instagram e Threads. Isso inclui os funcionários da empresa.

Descontentes com a novidade, muitos deles saíram silenciosamente da empresa. Não foi o caso de Daniela Scapin, ex-head de políticas públicas do WhatsApp no Brasil. Em seu último dia de trabalho, Scapin expôs a situação no LinkedIn. Agora, ela conta com exclusividade a Deu Tilt, o podcast do UOL para humanos por trás das máquinas, por que tomou a decisão.

Uma corporação se alinhar política e economicamente a um governo poderoso recém-eleito não é novidade pra ninguém. Porém, a velocidade e a intensidade dessa virada retórica da Meta, e a adesão a uma base ideológica tão distinta dos valores que orientavam meu o trabalho até então -pensando nas medidas de integridade e segurança implementadas no WhatsApp nos últimos anos? Isso simplesmente não é algo que eu possa compreender, muito menos apoiar
Daniela Scapin

A executiva lembra que outros fizeram o mesmo. É o caso do advogado Mark Lemley, considerado o Lebron James da sua área. Ele "demitiu" a Meta, já que atuava na defesa dela em um processo de violação a direitos autorais no treinamento do Llama, modelo de IA da empresa. Ele disse não conseguir representar a companhia e continuar com a consciência limpa.

Tenho lutado para responder à decadência de Mark Zuckerberg e do Facebook rumo à masculinidade tóxica e à loucura neonazista.
Mark Lemley

Cruzando fronteiras

Em entrevista ao Deu Tilt, Scapin ressaltou que é preciso entender que existem limites que não podem ser cruzados e que algumas coisas são "inaceitáveis".

Quando entrei na Meta, eu fiz um compromisso próprio de estar conectada com minha ética pessoal enquanto fizesse esse trabalho. E, muitas vezes, o trabalho só pede para ser feito. Não é uma questão de ter um espírito contestador, não é nada disso. Precisa ter uma linha da sua ética profissional, do que é uma possibilidade para você avançar enquanto profissional e do que não fazer enquanto profissional
Daniela Scapin

Para ela, os anúncios de Zuckerberg significaram cruzar essa linha.

A empresa, diz ela, adotou uma retórica alinhada a um espectro político em torno de Donald Trump para tratar como "censura" uma prática de moderação ou de checagem de fatos que tornavam a rede social mais saudável. O mesmo vale para o enviesamento de "liberdade de expressão".

Foi muito difícil ouvir que o trabalho que era feito por tantas equipes diferentes da Meta, por tantos anos, [estava] sendo qualificado dessa forma sem olhar o contexto macro

Acho compreensível a necessidade de tomar decisões empresariais que te levam para mais perto do lado vencedor, que de certa forma era o que estava acontecendo ali, a questão é adotar todo o arcabouço retórico desse lado, trazer isso pra dentro de uma forma tão rápida, de uma hora para outra
Daniela Scapin

'Energia masculina' na Meta: 'Mark deve desculpas às mulheres', diz ex-executiva

A Meta colocou fim aos checadores de fato, à moderação automática e decretou o retorno do conteúdo político. Ainda que analistas tenham visto no movimento um aceno ao governo republicado de Donald Trump, a Meta não é uma empresa progressista, diz Daniela Scapin. O que acontece é que Mark Zuckerberg "já defendeu ideais liberais quanto há um posicionamento na Meta a favor de diversidade e inclusão". Havia, completa a executiva.

Ela se demitiu após Zuckerberg anunciar as mudanças em janeiro. Mas as alterações vieram acompanhadas de um discurso que ela classifica ofensivo a parte das pessoas que carregam a empresa nas costas.

De repente você substitui isso pela retórica de que está faltando energia masculina. No dia seguinte a essa frase, conversei com mulheres da empresa. A Meta é uma empresa de liderança masculina carregada por muitas mulheres. A minha sensação é que o Mark deveria pedir desculpas para as mulheres que trabalham aqui
Daniela Scapin

'Careless people': por que Meta tenta soterrar livro sobre origens do Facebook?

Sarah Wynn-Williams, ex-executiva de políticas globais do Facebook, irritou muitos executivos na Meta com o livro "Careless People". O best-seller traz o olhar de Sarah sobre a ascensão da rede social rumo ao posto de gigante global da comunicação. E mostra como os executivos não só abraçaram o poder político decorrente do novo status como se sentiram muito confortáveis com ele. E dá nome a todos eles.

Para Daniela Scapin, há ali também uma coleção de fofocas. Tudo isso conecta o momento em que as histórias foram vivenciadas pelo Sarah, demitida da empresa em 2017, com a empresa hoje, diz Scapin, que se demitiu após Mark Zuckerberg colocar fim aos checadores de fato, à moderação automática de posts polêmicos e decretar o retorno do conteúdo político.

Trump e Big Tech vão influenciar eleições 2026 no Brasil, diz ex-executiva da Meta

Para Daniela Scapin, ex-head de políticas públicas do WhatsApp no Brasil, Donald Trump já anunciou suas intenções e as plataformas digitais mostraram o que pretendem fazer. Como o Brasil vai reagir? Ainda mais diante do desafio das discussões sobre a regulação das Big Tech e na véspera das eleições de 2026? "A Europa exporta regulação, os Estados Unidos exportam tecnologia, e a gente aqui consumindo? Já houve momentos no Brasil em que a gente estava numa posição diferente. eu acho que é possível retomar esse momento", comenta.

DEU TILT

Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre as tecnologias que movimentam os humanos por trás das máquinas. O programa é publicado às terças-feiras no YouTube do UOL e nas plataformas de áudio. Assista ao episódio da semana completo.

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