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Dono da D-Edge diz que Baby teve fala infeliz e nega apologia à 'cura gay'

do UOL

Tiago Minervino

Colaboração para Splash, em São Paulo

12/03/2025 17h23Atualizada em 13/03/2025 00h24

O empresário Renato Ratier, dono da badalada casa noturna de São Paulo D-Edge, se manifestou após culto evangélico realizado no espaço em que a cantora e pastora Baby do Brasil defendeu que vítimas de abusos sexuais perdoem seus agressores, e um pastor fez discurso em tom de ode à cura gay. A D-Edge tem em boa parte de seus frequentadores o público LGBT+.

O que aconteceu

Ratier definiu a fala de Baby como "infeliz", mas argumentou que a cantora, de quem ele é amigo, "não conseguiu se explicar". Em entrevista a Splash, o empresário ponderou que, ao falar em perdoar abusadores, a artista quis dizer o "perdão de coração". Ele, entretanto, disse defender que as vítimas de abusos sexuais busquem as autoridades e denunciem seus agressores.

Baby foi infeliz porque não pôde explicar o que quis dizer. Acho que ela quis dizer do perdão do coração, mas ela que tem que responder por ela, porque o perdão é uma coisa pessoal. A D-Edge defende que se a pessoa foi abusada, tem que denunciar. Estou chateado com isso porque não é o meu posicionamento, nem da D-Edge.
-- Renato Ratier em entrevista a Splash

Empresário também falou que Baby foi convidada para tocar no culto evangélico, não para pregar. No entanto, em vídeo que passou a circular nas redes sociais, a cantora, ao falar sobre perdão, pediu as pessoas que sofreram abusos para "perdoarem" seus abusadores, sobretudo se o abusador for alguém da família.

Renato Ratier se converteu evangélico no ano passado, após problemas de saúde enfrentados por sua esposa, Sarah Cardoso, que segue hospitalizada. Baby do Brasil, porém, se define como pastora desde o final dos anos 1990. Os dois são amigos de longa data, antes mesmo de o empresário professar o cristianismo como filosofia de vida.

baby do brasil - Reprodução - Reprodução
O empresário Renato Ratier, dono da D-Edge, ao lado de Baby do Brasil, de quem ele é amigo
Imagem: Reprodução

Ode à cura gay

Em outro momento polêmico do culto evangélico na D-Edge um pastor subiu ao palco e falou sobre o processo de "cura gay" pelo qual ele passou. Pedro Santana contou sua trajetória de vida "pecaminosa", imersa na prostituição, até vivenciar um "milagre" e mudar sua vida. Ele, que na época se identificava como transformista, atendia pelo nome de Michele e usava roupas femininas para realizar programas, alega que foi "curado" ao "aceitar" Jesus.

Pedro Santana chegou a fazer piada com sua suposta "cura gay". "Mona não morre, vira purpurina. Mas Jesus me pegou pelas mãos", falou o pastor, que atualmente vive uma relação heterossexual.

Discurso do pastor que se intitula "ex-gay" repercutiu de forma negativa entre o público LGBT+ que frequenta a D-Edge. "O pastor disse no culto que foi curado, que era trans e foi curado. Isso nunca deveria ser falado embaixo do teto do clube. Eu me senti extremamente acuado quando ouvi. Como vou voltar a frequentar a casa sabendo que o dono colocou essas pessoas para pregar dentro do clube?", postou um internauta em publicação da própria casa noturna no Instagram.

"Que triste fim. Nunca poderíamos imaginar isso: a casa transformada num culto com gente que prega contra a comunidade LGBT+", escreveu outro. "A religião do proprietário só interessa a ele, mas o que acontece dentro do estabelecimento é responsabilidade também do proprietário. Foi sua escolha levar esse 'evento' com pessoas que não toleram a diferença para a casa que se firmou com outra proposta", argumentou mais um.

Ratier afirma ser contra discursos que fazem apologia à "cura gay". A Splash, ele disse que a pregação de Pedro Santana "não fazia parte" da programação, mas que Baby teria concedido o microfone ao religioso, que deu seu testemunho. Renato, porém, admitiu que ele responde por aquilo que acontece dentro de seu estabelecimento.

Essa coisa de 'cura gay' não tem nada a ver com o que fiz até hoje. Óbvio, aconteceu dentro do clube e eu respondo por isso. Essa repercussão causou uma coisa que não tinha [sido planejada], o teor [do culto] não era abordar esses temas. Estou passando um momento difícil com minha esposa e ter que responder coisas das quais não falei e não concordo... Mas estou tranquilo porque sei do meu posicionamento, de como eu me posicionei e me posiciono. Ter me convertido não muda meu posicionamento sobre isso. Na D-Edge os gays são bem-vindos".

Discursos em apologia à "cura gay" são comumente usados por pastores evangélicos. No Brasil, terapias de conversão sexual são proibidas desde 1999 por resolução do Conselho Federal de Psicologia, que não considerada a homossexualidade uma doença.

Splash entrou em contato com Baby do Brasil para pedir posicionamento, mas não obteve retorno. A reportagem não conseguiu localizar o pastor Pedro Santana. Em ambos os casos, o espaço segue aberto para manifestação.

Nas redes sociais, a D-Edge publicou posicionamento sobre o culto. Veja a íntegra:

Na última segunda-feira, 10 de março, realizei pela primeira vez um culto no D-EDGE em São Paulo para promover o amor, o respeito e a transformação. Durante o evento, algumas falas isoladas repercutidas não condizem com o que eu acredito e é sobre isso que eu gostaria de esclarecer.

Antes de mais nada, quero expressar meu profundo respeito a todas as pessoas que foram atingidas por declarações de terceiros durante o culto e reafirmar os valores que sempre guiaram minha trajetória. Jamais foi minha intenção ferir ou desrespeitar qualquer pessoa.

Minha intenção ao abrir as portas do D-EDGE para esse culto foi criar um espaço de conexão, acolhimento e fé.

Infelizmente, algumas falas isoladas de convidados vão contra aquilo que acredito. Deixo claro que sou absolutamente contra qualquer tipo de abuso e discriminação e que todo crime deve ser denunciado e apurado.

Entendo a gravidade das palavras que foram ditas, não por mim, mas por um convidado chamado a falar de última hora sem o meu consentimento. Estou conversando com a Baby do Brasil e os outros para justificarem suas falas publicamente, já que elas não refletem meus valores nem os do D-EDGE.

Sempre defendi que a justiça deve ser feita e que nenhum tipo de violência pode ser minimizada ou tolerada. Este é um problema grave que exige uma resposta contundente e a implementação de políticas públicas que protejam as vítimas e punam os agressores.

Também quero reforçar que não acredito na chamada "cura gay" - essa ideia não existe e jamais fez parte dos meus valores. Minha trajetória sempre esteve pautada no respeito e no apoio à comunidade LGBTQIAPN+, algo que se reflete, inclusive, na programação do próprio D-EDGE, que sempre abriu espaço para a diversidade.

Importante ressaltar que o D-EDGE não alterou sua proposta. O evento do culto foi uma exceção isolada e não irá mais acontecer. A casa continua com suas atividades normais, oferecendo a cada noite um espaço de música eletrônica, como sempre fez ao longo dos seus 25 anos de história.

Além disso, acredito na liberdade de crença e no direito de cada um expressar sua fé, independentemente da religião, desde que isso não fira, humilhe ou desrespeite outras pessoas. O respeito às diferenças sempre foi um pilar essencial na minha caminhada, tanto na música quanto na vida.

Quero, mais uma vez, reforçar que a minha intenção jamais foi gerar qualquer tipo de discurso que pudesse causar sofrimento, especialmente para aqueles que já sofreram abusos ou qualquer outro tipo de violência.

Estou comprometido em continuar a promover um ambiente de respeito, inclusão e acolhimento, que sempre foram os pilares da minha trajetória.

Todo o meu amor e respeito a todos.

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