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OPINIÃO

Luis Miranda sobre contrato fixo na Globo: 'Gostam porque sou pontual'

Luis Miranda no espetáculo "Cabaré", em Salvador - Divulgação/ @leawry
Luis Miranda no espetáculo "Cabaré", em Salvador Imagem: Divulgação/ @leawry
do UOL

Colunista de Splash

12/02/2025 05h30

Enquanto um verdadeiro pelotão de atores, diretores, roteiristas e outros mais foi dispensado e não tem mais contrato fixo, Luis Miranda é dos poucos com garantias e tudo assinado por mais dois anos com a TV Globo. Além do talento que grita a cada participação sua em novelas, seriados ou programas humorísticos, ele é considerado um talento estratégico: uma categoria muito necessária na empresa. E faz muito sentido: Luis é humorista, ator, criador, faz barulho por onde passa. Suas personagens são sempre marcantes.

Logo na chegada para nosso almoço em Salvador, ele vai logo falando que é super pontual —e que esse deve ser um dos motivos para a Globo o manter contratado depois de tanto tempo. Modéstia (é claro!), mesmo porque esse é apenas um "plus a mais" na ficha desse que manda muitíssimo bem em qualquer papel, seja em novela, cinema, seriado, humorístico.

Em teatro, sucesso absoluto: eu, pessoalmente, sou testemunha, porque assisti várias vezes, em Salvador, a um espetáculo que ele fazia durante os verões por 13 anos: plateias lotadas, espectadores vibrando. Na verdade, cheguei a assistir mais de cinco vezes durante esse período nas minhas férias no verão baiano. O nome do espetáculo era "Sete Contos" e eram sete histórias de personagens bem brasileiros, cada um com a sua característica bem reforçada e todos trazendo uma crítica social bem forte, acirrada —e um humor muito afiado.

Sete personagens inesquecíveis que ele resgatou em alguns momentos no espetáculo ainda embrião que ele batizou de "Cabaré", que ele mostrou em uma noite de janeiro em Salvador, numa festa fechada. Suas críticas são sempre contundentes, afiadas. Ele toca em pontos nevrálgicos, fruto das experiências vividas desde a infância pobre na Bahia. Pobre, sim, mas com direito a estudos, família unida. Adolescente, foi morar com uma tia em São Paulo, onde passou no vestibular e entrou na mítica Escola de Arte Dramática, a EAD, da ECA (Escola de Comunicação e Artes) da USP.

Luis Miranda - Divulgação - Divulgação
Luis Miranda no espetáculo "Cabaré", em Salvador
Imagem: Divulgação

Deu aula em escolas de teatro, fez espetáculos alternativos e começou a dar certo de verdade quando participou do grupo que fazia a "Terça Insana", com as atrizes Gracie Giannukas e Graziella Moretto. Foi em São Paulo que ele deu certo, justamente na cidade inóspita e cinza. Ele, com alma toda colorida e o olhar crítico sobre o mundo que lhe era bastante inóspito também.

Quando foi chamado pela TV Globo, fez novelas e Zorra Total. Fez "Mr. Brau", com Lázaro Ramos e Taís Araujo, "Sob Nova Direção", com Ingrid Guimarães e Heloísa Perissé, e ainda está no ar em "Encantado's, em nova temporada. Por onde passa, ele faz a diferença.

Experiências pessoais viram recheio dos personagens. Em seu grande sucesso no teatro, "Sete Contos", ele vivia, entre outros personagens, um flanelinha cheio de tretas, uma mãe cheia de filhos na favela, sem ter o que dar de comer a eles. Tinha também um tipo de pregador de multidões, talvez um pastor e minha personagem favorita: uma mulher muito muito rica, Sheila, que no decorrer do sketch vai bebendo champanhe demais e vai trocando as bolas, fala com desdém total de seus empregados e só preza pelo que é muito difícil de conseguir e só ela tem.

Luis diz que gosta de cutucar a sociedade porque ela também gosta de ser cutucada. Nesse novo projeto, "Cabaré", as tristezas que chegaram com o fim de uma história de amor foram o mote do que já virou um projeto em andamento com a diretora Monique Gardenberg, para estrear em São Paulo.

Luis mora perto de Salvador mas não em Salvador. Cansou de cidade com muitos estímulos, sejam culturais ou das pessoas mesmo. Ele prefere uma pequena chácara na beira de um rio perto do mar, com muitas mangueiras e um terreiro de candomblé pertinho. Afinal, estamos na Bahia e, segundo ele, "todo artista é macumbeiro". Muitas risadas no salão!

Luis Miranda - Divulgação - Divulgação
Luis Miranda no espetáculo "Cabaré", em Salvador
Imagem: Divulgação

Ele gosta da vida que leva na Bahia, gosta de São Paulo, mas o movimento da cidade grande o incomoda, e vida calma com mergulhos no rio e no mar é o que lhe interessa. Montou toda a sua vida por lá. Quando é necessário, vai a Salvador, ao Rio para trabalhar, a São Paulo. É um cara cuidadoso que foca, principalmente, a sua profissão e a qualidade de sua produção artística, sempre com o olhar crítico.

Luis Miranda é muito baiano no jeito de encarar o sucesso, de viver a vida , de olhar para o que interessa. Tem aquela brejeirice, aquela "nonchalance" que só mesmo um baiano tem. Não lhe interessa nada essa vida de glamour das grandes metrópoles, assim como não lhe interessa ficar postando em redes sociais seu dia a dia. Ele vive, ele trabalha, ele se cuida, ele tem amigos, ele ama. E usa tudo isso nos textos que cria. Até as dores e amores.

Ah, e se é sobre cavar espaço num mundo até então muito branco, é com ele mesmo: ele vai lá. E coloca o dedo na ferida.

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