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99 adota estratégia 'kamikaze' para emplacar mototáxi em São Paulo

Motociclista transporta mulher em mototáxi na cidade de Salvador, na Bahia - Getty Images
Motociclista transporta mulher em mototáxi na cidade de Salvador, na Bahia Imagem: Getty Images
do UOL

De Tilt, em São Paulo

20/01/2025 05h30Atualizada em 20/01/2025 09h42

A 99 está em clara rota de colisão com a Prefeitura de São Paulo ao fornecer a modalidade de moto por app na cidade. Mesmo com a Justiça mantendo a suspensão ao serviço, a companhia segue atuando.

De um lado, a prefeitura cita um decreto de 2023 que proíbe mototáxi e moto por app na cidade, citando ainda preocupação com a saúde pública, pois há muitos acidentes na cidade com motociclistas. De outro, a 99 cita uma lei federal de 2012, que regulamenta o serviço, e que permite a funcionalidade em várias cidades pelo Brasil.

A estratégia "kamikaze" da plataforma de transporte chinesa parece ter sido inspirada na briga que a Uber comprou em 2015, de colocar o serviço na rua e ver que apoio vai receber.

"Hackeando o governo"

A Uber chegou ao país em 2014, durante a Copa do Mundo no Brasil, e não fez tanto barulho. A situação começou a ficar hostil contra a plataforma no ano seguinte ao estrear a modalidade UberX, que oferecia carro por aplicativo a um preço mais acessível que táxis.

Na época, taxistas chamavam o serviço de "clandestino" e diziam que UberX era um "táxi pirata". Dos protestos a situação escalou para a violência contra motoristas, o que trouxe mais publicidade ainda para a empresa e o apoio da população, sobretudo de classe média, que passou a ver a Uber como alternativa real de transporte: do trabalho nos dias úteis à balada no fim de semana.

A briga foi tanta que em 2015 o então prefeito Fernando Haddad tornou ilegal a plataforma, e regularizou os chamados "táxis pretos". Conclusão: a Uber continuou funcionando e acabou forçando a prefeitura a criar um decreto autorizando os chamados "serviços de transporte individual por aplicativos" em 2016.

Um detalhe: anos após essa briga toda, o jornal britânico The Guardian publicou os "Uber Files". Arquivos vazados expunham a estratégia da empresa de "hackear" os governos e convencê-los a aceitarem o serviço. Em uma troca de mensagens, Travis Kalanick, fundador e primeiro CEO da Uber, dizia, por exemplo, que a "violência garante o sucesso".

E a 99 com isso?

A 99 se apega à lei federal e ignora a Prefeitura de São Paulo. A empresa não aposta na violência, mas na opinião de um grupo específico de usuários. Ao lançar a plataforma fora do centro expandido, a companhia quer convencer quem mora em regiões mais periféricas que a moto por app (que a empresa não quer que chame de mototáxi) é barata e resolve a ida ao terminal ou estação de trem, ou metrô mais próxima.

Segundo a própria 99, a maioria das corridas dura até 11 minutos, é de até 6 km e tem como destino um modal. Em dois dias de funcionamento, a companhia diz que teve 50 mil corridas (só no primeiro dia foram 10 mil). Os bairros com maior volume foram, por região: Capão Redondo (Zona Sul), Jaguaré (Oeste), Tucuruvi (Norte) e Guaianases (Leste).

Qual é a diferença do Uber para moto por aplicativo? Até o momento, enquanto o primeiro tinha apelo para a classe média, o segundo deve atingir as classes mais periféricas.

A 99 está nos primeiros dias de sua "campanha de desobediência". No caso da Uber, em 2015, foi necessário quase um ano para haver a regulamentação e havia também o fato de ser um serviço novo.

A ideia agora parece ser mostrar ao público que o transporte por moto vale a pena (ainda mais num cenário em que aumentou a tarifa de ônibus). Além disso, forçar a prefeitura a discutir a regulamentação.

A briga é dura, pois os dois lados estão empenhados. A 99 segue argumentando que o serviço está em quase todo o país, menos aqui, enquanto a prefeitura segue divulgando dados de acidentes com motociclistas e apreendendo motocicletas. Resta saber quem vai ceder primeiro.

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