"Aqui estão os anúncios que você cobrou o ano inteiro." Projetada no telão do Palco Thunder — o principal da CCXP 24, encerrada no último domingo (8) —, a frase parecia resumir a promessa do evento. Mas, ao longo dos quatro dias de festival, um sentimento quase unânime surgiu entre os fãs: boa parte das grandes novidades e dos aguardados convidados internacionais simplesmente não deu as caras no São Paulo Expo neste ano.
Ainda assim, a CCXP teve seus momentos de destaque. Ana de Armas marcou presença para promover "Bailarina", spin-off de "John Wick". Anya Taylor-Joy ("Furiosa") e Miles Teller ("Top Gun: Maverick", em sua primeira visita ao Brasil) divulgaram "Entre Montanhas", do Apple TV+, que também trouxe o elenco de "Ruptura". A Paramount organizou um grande painel para "Sonic 3: O Filme", enquanto no streaming destacou "Dexter: Pecado Original" e "Yellowjackets". A Amazon deu espaço para "Reacher" (com participação do protagonista, Alan Ritchson) e "Invencível". Indo além de Hollywood, estrelas da internet, como Gaulês e Baiano, tiveram plateias quase sempre lotadas.
Contudo, os visitantes —que chegaram a desembolsar entre R$ 160 e R$ 2.500 pelos ingressos— ficaram mais impactados pelos poucos anúncios internacionais e pelas ausências, como as de Netflix e Disney.
A questão vai além da CCXP
Esta coluna de Splash apurou que um dos grandes desafios é o equilíbrio entre as datas da CCXP e o calendário de estúdios e streamings.
O evento brasileiro tem uma forte vocação comercial e ocorre tradicionalmente no primeiro fim de semana de dezembro para faturar com os bolsos mais cheios do público, que acabou de receber a primeira parcela do 13º salário e está fazendo as compras de Natal. É quase uma Black Friday geek, mas sem a parte dos descontos.
Acontece que este nem sempre é o melhor momento pelo lado do conteúdo —e, no mundo do cinema, orçamentos de marketing (principalmente no caso de filiais, como no Brasil) não são geralmente atrelados à marca da empresa, mas, sim, a um filme ou série que virá em breve.
Aqui também é diferente da San Diego Comic-Con, frequentemente considerado o "padrão-ouro" nesse tipo de convenção. Lá, a proximidade geográfica facilita que estrelas, em algumas ocasiões, façam rápidas pausas nas filmagens para interagir com os fãs, enquanto diretores e produtores têm maior liberdade para preparar vídeos exclusivos.
Um exemplo foi a Paramount Pictures, que apresentou "Sonic 3: O Filme", com estreia marcada para 25 de dezembro. O estúdio organizou um animado painel no sábado da CCXP, com a participação de Ben Schwartz (voz original do ouriço), James Marsden, o diretor Jeff Fowler e o elenco brasileiro de dublagem. "Missão: Impossível - O Acerto Final", estrelado por Tom Cruise e previsto para chegar aos cinemas em maio, ficou fora de alcance.
A Warner Bros. Discovery, outra que não tem um arrasa-quarteirão programado para chegar à tela grande no futuro próximo (como tinha em 2023, com "Duna: Parte 2"), focou em uma pré-estreia exclusiva da animação "O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim". Para o streaming, trouxe o elenco e novidades da série "Duna: A Profecia", da Max. O resultado, na visão da empresa, foi positivo.
"Nós sempre pensamos e estudamos, entre lançamentos que temos, quais possuem mais afinidade e conexão com a CCXP", contou Clara Volpi, diretora sênior de Marketing da Warner. A executiva destacou uma outra variável do quebra-cabeça: o calendário. "Dezembro é difícil. É uma questão de agenda: o elenco de 'Duna', por exemplo, estava cada um em um país. Veio gente da Austrália, de Londres. Tem gente que está gravando outra coisa, já."
Clara é contundente ao elogiar a importância dos organizadores nesse processo. "O time do Omelete é ótimo para ajudar a gente", diz ela. "Eles têm muito pulso de que fase os fãs estão, do que faria sentido trazer ou não. Trazer 'Duna' também foi algo dialogado com eles".
Enquanto isso, o aguardado "Superman" de James Gunn, que chega em julho de 2025 e é da Warner, ficou ausente até da última San Diego Comic-Con.
Saem Disney e Netflix, fica a Globo
Este também foi o segundo ano de "quase" ausência da Disney, que preferiu focar em seu evento próprio, a D23.
O "quase" justifica-se: o estúdio realizou um painel no sábado. Além de apresentar alguns destaques do catálogo do Disney+, a companhia exibiu com exclusividade cerca de 30 minutos da série sul-coreana "Light Shop: Entre a Vida e a Morte", que estreia na próxima semana. Alguns lojistas, mais notadamente a Dream Store, venderam produtos licenciados com os personagens da empresa. E foi isso.
Ao passo que a D23, realizada em outubro, contou com os elencos e novidades de produções como "Capitão América: Admirável Mundo Novo", "Thunderbolts" e "Demolidor: Renascido", todos da Marvel Studios. São presenças que teriam feito a diferença no festival do Omelete.
A Netflix foi ainda mais discreta, decidindo não participar da CCXP e também não realizar a edição de 2024 do Tudum, seu próprio festival. Por esse motivo, o público brasileiro não pôde curtir prévias das novas temporadas de "Round 6" (que estreia no fim do mês) e "Stranger Things", por exemplo. Questionada sobre os motivos para isso, a gigante do streaming não respondeu até o fechamento deste texto.
Sem a mesma força que os estúdios, a organização manteve a tradição de trazer convidados próprios. Neste ano, a agenda contou com Giancarlo Esposito ("Breaking Bad", e que estará no próximo longa do Capitão América), Wagner Moura, Matt Smith ("A Casa do Dragão" e "The Crown") e Vincent Martella ("Todo Mundo Odeia o Chris"), além do quadrinista Chris Claremont ("X-Men").
Quem aproveitou o espaço foi a Globo. Comemorando 100 anos, o grupo brasileiro investiu em um grande estande. No palco principal, desfilou diversas estrelas para promover produções como a novela "Vale Tudo" e as séries "Vermelho Sangue", "Guerreiros do Sol" e "Arcanjo Renegado".
"Levamos mais de 30 artistas e personalidades para a CCXP", contou Manuel Falcão, diretor de marca e comunicação da empresa. "Medimos o sucesso da nossa participação pela grande quantidade de pessoas que escolheu participar das nossas experiências, que acompanhou as apresentações no palco do estande e que lotou o Thunder no sábado e no domingo, se engajando e repercutindo os títulos que foram apresentados."
Custo grande para expositores menores
Outra questão levantada por fontes ouvidas pela coluna envolve o alto custo para estarem no evento. Um exemplo é a ausência da Comix Book Shop, tradicional loja de HQs e que é reconhecida por vender publicações com descontos. Jorge Rodrigues, sócio da comic shop, afirmou "amar participar" do festival, mas que "infelizmente está comercialmente inviável para nós".
No lugar dedicado aos pequenos expositores na CCXP 24, batizado de Magic Carpet, as opiniões se dividiram. Lojistas que investiram em produtos baseados em propriedades intelectuais famosas celebraram um ótimo faturamento, mesmo com os altos custos das barracas. Por outro lado, aqueles focados em marcas próprias e independentes relataram um resultado financeiro abaixo do esperado.
Entre as queixas, destacam-se a localização desfavorável, iluminação inadequada, falta de vitrines, barulho excessivo de um palco próximo e divulgação insuficiente por parte dos organizadores.
Ao mesmo tempo, cresceu a participação das chamadas marcas não endêmicas, que não são originalmente do mundo do entretenimento. Heineken, Bis, Cup Noodles, Banco do Brasil, 3 Corações e Fanta, entre outras, separaram uma parte de seus orçamentos anuais e marcaram presença.
O Omelete, que organiza o evento, foi procurado para que pudessem comentar os pontos levantados e compartilhar sua visão sobre o resultado desta edição. Até o fechamento deste texto, não houve retorno. O espaço permanece aberto para esclarecimentos futuros.
A CCXP 25 já tem data marcada: de 4 a 7 de dezembro do próximo ano. Agora, começa o esforço de assegurar um lugar nos orçamentos e nas agendas —não apenas das gigantes do entretenimento e dos convidados famosos, mas também do público.
Siga o colunista no Twitter, Instagram, TikTok e LinkedIn, ou faça parte do grupo do WhatsApp.