Se o rock está em baixa, alguém se esqueceu de avisar ao público e às bandas que estiveram no Balaclava Fest, realizado neste domingo (10) no Tokio Marine Hall, em São Paulo.
Porque 3.200 pessoas se aglomeraram nos dois palcos do evento para assistir a shows com grande base roqueira que variaram do bom ao ótimo, de nomes como Ana Frango Elétrico, Nabihah Iqbal, BadBadNotGood, Water from Your Eyes e Dinosaur Jr.
Este último fechou, merecidamente, o festival. Porque este trio formado por J. Mascis (vocal, guitarra), Lou Barlow (baixo, vocal) e Murph (bateria) ajudou a formatar o rock independente como o conhecemos hoje, com guitarras altas, muitas vezes distorcidas, vocais assumidamente desleixados e postura inconformista-desencanada.
O show foi uma espécie de volta ao passado da banda. Tirando "Garden", do último disco, "Sweep Into Space" (2021) e um furioso cover de "Just Like Heaven", do Cure, que a banda toca há muitos anos, as outras 16 músicas são de álbuns lançados da década passada para trás.
Como "The Lung", que abriu a apresentação. É uma faixa do cultuado disco "You're Living All Over Me", lançado em 1987. Aliás, outras três faixas dele estiveram no show: "Kracked", "Sludgefeast" e "Little Fury Things" — esta última, de versos como "Um coelho se afasta de mim, acho que vou rastejar/ Um coelho sempre me esmaga, de novo eu rastejo/ Tentei pensar no que está sobre mim, isso me faz rastejar/ Vou deixar você fugir de mim, mais rápido do que eu rastejo".
O som estava alto, como deve ser, e a banda animada, mesmo tendo feito show um dia antes em Santiago (Chile). Faixas como "Start Chopin" ganharam musculatura ao vivo, com uma intensidade impressionante temperada por distorções sonoras.
O grunge (de Nirvana e Mudhoney), o stoner rock (de Kyuss e Queens of the Stone Age), o shoegaze (de My Bloody Valentine e Ride) devem muito ao som e à estética do Dinosaur Jr. "Freak Scene", talvez a música mais representativa da banda, simboliza uma geração com versos como "A estranheza flui entre nós/ Qualquer um consegue perceber ao nos ver/ Cena esquisita, não conseguem nos entender/ Por que não pode apenas ser legal e nos libertar?".
Pouco antes, a dupla Water from Your Eyes fez talvez o show mais surpreendente do Balaclava Fest. Surpreendente porque é um nome ainda pouco conhecido no país, e eles tocaram no palco menor, improvisado em um hall do Tokio Marine.
Mas foi uma apresentação potente. Ao vivo, a dupla Nate Amos (guitarra) e Rachel Brown (vocal) ganham a presença de uma guitarrista e um baterista. O grupo faz um som quase inclassificável, em que tons barulhentos se misturam a linhas bem dançantes. Um dos pontos altos do evento.
Antes, o combo BadBadNotGood mostrou por que é um dos nomes mais quentes do novo jazz. A banda fez uma apresentação vibrante, em que percussão, sopro, baixo, guitarra e bateria passearam por um jazz que bebe no funk, no rock e no tropicalismo brasileiro. Não à toa, o grupo já gravou com gente como o arranjador Arthur Verocai e o vocalista Tim Bernardes (da banda O Terno).
No palco menor, a inglesa Nabihah Iqbal fez um show curto, mas que revela uma artista que faz música singular, misturando psicodelia, dance music e influências de ritmos paquistaneses, terra natal de seus pais. Uma de suas melhores faixas, "This World Couldn't See Us", traz versos como "Rio inchado, olhos inchados/ Coxas inchadas, orgulho inchado/ A maré de primavera te eleva/ De fora pra dentro". Além dela, teve espaço para um excelente cover de "A Forest", do Cure.
Antes, a carioca Ana Frango Elétrico apresentou um show caprichado, baseado no elogiado disco "Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua" (2023). É uma das mais interessantes cantoras brasileiras da safra recente. Tropicalismo, rock dançante e uma dose de psicodelia permearam o show, que teve até uma versão de "Gypsy Woman", clássico de Crystal Waters. O festival teve ainda as bandas indies Paira e Raça.