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'Após cirurgia na mama, tive relação sexual usando camiseta por vergonha'

Há oito anos a modelo e comunicadora Gi Charaba, 36, vive sob os efeitos de uma menopausa induzida para evitar o reaparecimento da doença - Acervo pessoal
Há oito anos a modelo e comunicadora Gi Charaba, 36, vive sob os efeitos de uma menopausa induzida para evitar o reaparecimento da doença Imagem: Acervo pessoal
do UOL

Hysa Conrado

Colaboração para Universa

31/10/2024 05h30

A ideia de que sobreviver ao câncer de mama condiciona a mulher a uma rotina de eterna gratidão pode sufocar outras questões, como o desejo dela de exercer a sua sexualidade plenamente. O tratamento oncológico provoca diversos efeitos que impactam não só a libido, mas também aspectos físicos e emocionais. Há oito anos a modelo e comunicadora Gi Charaba, 36, vive sob os efeitos de uma menopausa induzida para evitar o reaparecimento da doença.

Eu estou viva e querendo viver. Não é só me sentir bonita e ficar agradecida o tempo todo, eu quero viver tudo o que a vida tem de melhor e o sexo também faz parte disso. Mas tem o estereótipo, como vou ser vista se eu falar que estou na menopausa e estou ressecada?Gi Charaba, modelo e comunicadora

Boa parte dos casos de câncer de mama são de receptor hormonal positivo - quando as células cancerígenas se ligam a hormônios que podem influenciar o crescimento do tumor. Um dos tratamentos envolve o bloqueio hormonal que induz naturalmente a paciente a um quadro de menopausa, já que seu corpo para de produzir hormônios, segundo Thamyse Dassie, mastologista pelo Hospital Sírio Libanês e vice-presidente da ONG PorMinhasMamas.

Um dos efeitos disso, além dos calores, é o ressecamento vaginal e a possibilidade da região se atrofiar, questões com as quais Gi Charaba lida diariamente. Dedicar um tempo para hidratar o corpo e a vagina é parte indispensável da sua rotina.

"Eu não sou uma mulher transante, mas eu também tenho meus desejos. Quero ser desejada e quero desejar, e nem sempre a minha mente desejando a pessoa vai me lubrificar, e para muitos homens existe isso de: se ela está seca, ela está velha. Mas às vezes a gente só precisa de um hidratante pro ato acontecer", afirma.

Sexualidade além do ato

Afora as questões físicas que podem dificultar o sexo, o câncer de mama afeta a libido de maneiras que não se resumem apenas ao ato sexual: a imagem que a mulher tem de si mesma também muda. O diagnóstico impacta seu emocional e, muitas vezes, a sexualidade fica em segundo plano.

Não é só a questão hormonal, libido é muito mais do que isso. Parece uma sentença: 'sua libido está ruim e não vai melhorar'. Existem ferramentas para melhorar a situação, mas, para isso, a gente precisa conversar sobre o assunto.Thamyse Dassie, mastologista pelo Hospital Sírio Libanês e vice-presidente da ONG PorMinhasMamas

Falar abertamente sobre desejo e disponibilidade sexual ainda é um tabu, sobretudo para as mulheres que passam pela jornada oncológica e precisam lidar com o mal estar do tratamento.

"Eu não tenho filhos e não sou casada, consigo ter relação sexual, mas depois do bloqueio hormonal é difícil me relacionar com outros homens, preciso de um tempo maior e relacionamentos que não sejam só pegação. As mulheres que são casadas têm as mesmas questões, como dor na hora da relação, mas muitas delas não falam e pensam que tem que fazer sexo para não serem abandonadas", afirma Gi.

Passar pela mastectomia, retirar a mama ou parte dela e, muitas vezes, não poder fazer a reconstituição, abala a autoestima, o desejo e a maneira dessas mulheres se colocarem no mundo.

Retirei um quarto de mama na altura do decote, então a minha cicatriz não fica escondida, e tenho outra de trinta centímetros nas costas. Minhas cicatrizes não são feias porque todo dia eu tento ressignificá-las, olho no espelho e falo que sou linda. Mas já tive relação sexual usando camiseta por sentir vergonha. Me amo, me aceito, mas e o outro? O quanto o outro está preparado para isso?Gi Charaba, modelo e comunicadora

Como resolver o ressecamento vaginal

Assim como o uso de hidratantes vaginais fazem parte da rotina diária de Gi, a fisioterapia pélvica também é indispensável para evitar o atrofiamento da vagina - o exercício também ajuda a diminuir o desconforto na relação sexual, mas o foco principal é evitar a atrofia.

Além disso, a mastologista Thamyse Dassie explica que também é recomendado o uso de lubrificantes e outros cremes sem hormônios que podem ser indicados desde o começo do tratamento oncológico para manter a lubrificação.

"Para quem ainda não está sentindo o ressecamento vaginal é super importante conversar com o médico, porque quanto antes começar, melhores serão os resultados", explica a especialista.

A mastologista ainda ressalta que o engajamento da mulher também é importante para alimentar a libido, então é essencial entender como era a relação dela com a sexualidade antes do tratamento e quais as questões que influenciam o seu exercício sexual. Na Associação PorMinhasMamas, Thamyse mantém um podcast onde fala sobre questões de bem-estar durante a jornada oncológica.

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