Cupertino 'demite' advogado, e julgamento por morte de ator é dissolvido
Paulo Cupertino, julgado nesta quinta-feira (10) pela morte do ex-ator de 'Chiquititas' Rafael Miguel e dos pais dele, destituiu a defesa liderada pelo advogado Alexander Neves Lopes. Com isso, o julgamento foi dissolvido e precisará ser retomado em uma nova data, a ser definida, com novo corpo de jurados.
O que aconteceu
Decisão foi anunciada pelo juiz. Paulo decidiu destituir defesa após os depoimentos da ex, Vanessa Tibcherani, e da filha, Isabela Tibcherani. Os relatos das duas apontavam Cupertino como único possível responsável pelos crimes.
Cupertino alegou "quebra de confiança". O réu permanece preso preventivamente e será intimado para constituir nova defesa.
Não há prazo pré-determinado para composição de novo júri e remarcação de julgamento. Vanessa e Isabela precisarão depor novamente.
O julgamento dos outros dois réus — Eduardo José Machado e Wanderley Antunes Ribeiro Senhora, acusados de ajudar Cupertino a se esconder das autoridades — também foi dissolvido.
O advogado Ricardo Marinho, que representa Vanessa e Isabela, classificou a atitude de Paulo como "mau-caratismo". "Desde a primeira entrevista que eu concedi a vocês, eu avisei que a defesa vai agir de forma ardilosa para poder de todas as formas prejudicar esse julgamento. (...) [Foi] estratégia, com certeza, mau-caratismo, essa é a palavra correta".
Infelizmente, agora vai ter que constituir um novo advogado ou um defensor público para poder conseguir marcar uma nova data para poder continuar o julgamento, formar um novo conselho de sentença, escolher novos jurados. Infelizmente, vai ser dessa forma. Se dependesse de mim, eu gostaria que [o novo julgamento] fosse amanhã, só que infelizmente a gente sabe que, devido à morosidade da Justiça, dificuldade de trabalho, vai demorar bastante.
Ricardo Marinho, advogado de Isabela e Vanessa Tibcherani
O advogado destituído por Paulo, Alexander Neves Lopes, afirmou que o réu se mostrou incomodado no tribunal por não estar com seus óculos e por estar sendo filmado. Ele também teria se queixado do uso de algemas. "Daí em diante, ele tomou um comportamento inadequado e destituiu este defensor", afirmou ele, que ainda negou os relatos de que teria sido agredido por Paulo.
Lopes também negou que a destituição tenha sido estratégia da defesa e que a decisão foi tomada exclusivamente pelo réu. "A tática deste defensor era vir fazer o julgamento com respeito à coletividade, com respeito à imprensa, ao Ministério Público e, principalmente, ao poder judiciário", disse. "Se ele [Paulo] entender que é uma estratégia, é uma estratégia desfavorável a ele".
O que disseram Vanessa e Isabela?
Vanessa Tibcherani foi a primeira a depor, nesta quinta, e relatou ter sofrido "inúmeras agressões" cometidas por Paulo ao longo de 22 anos de relacionamento. Ela disse que chegou a registrar boletins de ocorrência, mas não seguiu com as investigações porque foi ameaçada por ele.
Questionada pela promotoria, ela confirmou que já foi ameaçada por Paulo com uso de arma. Vanessa apontou que o réu também citou familiares em diferentes ameaças.
Depois, veio o depoimento de Isabela, que namorava Rafael Miguel na época do crime. Ela contou que presenciou as agressões do pai contra a mãe e que também foi alvo dele: "Ele já quebrou um prato na minha cabeça. Também tentou me sufocar com um pano de prato."
Brigas foram constantes após Paulo descobrir namoro entre Rafael e Isabela: "Apenas minha melhor amiga poderia me visitar. Eu não podia sair de casa", disse a filha do réu.
O crime
O ator Rafael Miguel, que interpretou o personagem Paçoca na novela "Chiquititas", do SBT, e seus pais, João Alcisio Miguel e Miriam Selma Miguel, foram assassinados em junho de 2019, em São Paulo. Os três foram baleados após terem ido até a casa da namorada do ator de 22 anos, Isabela Tibcherani. O crime aconteceu na Estrada do Alvarenga, no bairro Pedreira, na zona sul da capital.
O pai da namorada de Rafael, Paulo Cupertino Matias, teria sido o autor dos disparos. Ele era contra o namoro da filha. No mesmo mês, a Justiça decretou a prisão temporária de Cupertino, que fugiu depois do crime. Um ano depois, o mandado de prisão temporária dele foi convertido em preventiva.