Pabllo e Urias não sofrem por amor: 'Não sou do tipo que fica chorando'
Você já deve ter visto alguém nas redes sociais fazendo a coreografia de "São Amores", música de Pabllo Vittar que viralizou e foi parar até na Vila Olímpica durante os Jogos de Paris 2024. Apesar da leveza dos passos, a cantora encara com seriedade o assunto em entrevista com exclusividade para Universa..
O amor mata de diversas formas, e uma delas é quando tira nossa liberdade de ser quem somos. Já passei por isso. Não é legal quando você tenta ser outra pessoa para se encaixar na expectativa do outro, diz.
Sua ligação com as Olimpíadas não terminou com os vídeos virais. Em 2024, a cantora foi a Diretora Criativa de uma coleção cápsula com a Adidas Originals para comemorar o mês do orgulho, que contou com Tom Daley, atleta de salto ornamental multimedalhista da Grã Bretanha, em sua campanha.
A reportagem encontrou com Pabllo e com a cantora Urias. Amigas desde a época da faculdade, elas são referência e inspiração para a comunidade LGBTAPIN+ que sonha em conquistar o mercado fonográfico. Mas para chegar aqui, elas precisaram até correr de bullies na rua.
UNIVERSA: Quando estavam juntas na faculdade, pensavam que um dia conseguiriam chegar tão longe com os sonhos que tinham?
Urias: Sonhávamos alto, mas não tínhamos noção de como seria, sabe? Mas tínhamos isso em nosso imaginário. Eu continuo sonhando. Queríamos estar no mesmo lugar que nossas inspirações estavam e trabalhamos para isso.
Pabllo Vittar: Sempre sonhei alto e é uma realização ter chegado até aqui, ainda mais com nosso recorte. Mas acredito que ainda não chegamos ainda no local que sonhávamos em ocupar lá na época da faculdade. Estamos trabalhando para isso. Mas muitas coisas se realizaram. Hoje estou um pouco mais acostumada, mas ainda é impressionante estar nesse lugar.
Como cantar e conhecer a Madonna, Pabllo? Sei que vocês a conheceram juntas na casa do Luciano Huck...
Pabllo: Conhecê-la aquele dia foi um erro na matrix. [risos] Foi muito legal estar com ela, fazer os ensaios. Com isso ainda fico boba, não vou conseguir me acostumar, não. [risos]
A gente vive um boom de séries adolescentes que são focadas no público LGBTQIAPN+, como "Heartstopper" e "Young Royals", por exemplo. Mas as realidades da ficção são bem mais acolhedoras. Como foi a adolescência de vocês? Com muito preconceito?
Urias: Passei por vários momentos de preconceito na infância e adolescência. Na nossa época, isso não era tão fiscalizado e não tinha consequências. Nosso objetivo é que a próxima geração seja mais leve, a outra mais leve e assim por diante. Estamos no caminho.
Pabllo: Acredito que isso será recorrente até morrermos, é algo enraizado em nossa cultura. A gente tenta desmistificar para as novas gerações, e diminuiu por conta do lugar onde eu me encontro. Mas ainda acontece.
Você ainda sofre com preconceito?
Pabllo: Na internet principalmente, mas já não me abala tanto hoje.
Urias, eu li que você chegou a ser perseguida por bullies na rua na época da escola...
Urias: Sim, eu era muito pequenininha. Não me lembro como aprendi a lidar, não sei explicar como separava as coisas na minha cabeça. Eu apenas fugia.
Urias você tem uma música que fala de preconceito em uma frase. Em "Poser", você diz que você não vai gastar dinheiro em uma loja por terem te olhado feio. Já passou por uma situação assim?
Urias: Não que eu me lembre, mas já aconteceu de o vendedor virar as costas.
Pabllo: É muito velado. Ninguém vai dizer 'saí daqui' na sua cara, mas acredito que a melhor vingança é o carma, sabe? Não gasto energia com negatividade.
Pabllo: "São Amores" está fazendo muito sucesso e letra fala que amores matam. Matam mesmo? Qual a maior decepção amorosa de vocês?
Pabllo:
Não sofro por amor, não. Não sou do tipo que fica chorando por ninguém, é o contrário. As pessoas choram por mim [risos] Sou escorpiana, é sério. Acredito que o maior motivo da minha solteirice é porque valorizo minha liberdade.
O amor mata de diversas formas, e uma delas é quando tira nossa liberdade de ser quem somos. Já passei por isso. Não é legal quando você tenta ser outra pessoa para se encaixar na expectativa do outro. Mas meu objetivo com a música era falar: 'Amiga, você é linda. Para com isso'. Queria empoderar e mostrar que a gente não precisa deixar de ser quem é por conta de amores.
Urias: Nunca tive uma grande decepção amorosa. Acho que sei escolher bem [risos].
Nesse tempão de amizade que vocês têm, qual o maior perrengue que passaram juntas e qual a situação mais legal de todas?
Pabllo: Sempre fico muito feliz ao ver a Urias em festivais e poder acompanhar essa conquista ao lado dela. Acho que situação uó, que eu me lembre agora, foi o carro quebrar com a gente dentro. Nunca nos colocamos em uma situação de quase óbito, mas já passamos por muita coisa.
Urias: A situação mais legal, na minha opinião, foi quando a Pabllo me deu de presente de aniversário uma viagem para Amsterdã para ver o show da Beyoncé. Fiquei sem reação, foi um grande momento para mim. Agora, situação de perrengue, quando a gente se maquiava com itens que não eram exatamente maquiagem. [Pabllo brinca pedindo para a amiga calar a boca, dando risada]
Como assim? Vocês usavam o quê?
Pabllo: Quem nunca selou o rosto com talco de bebê, gente? Hoje eu pago pelos meus pós para ficar prontíssima.
É boa essa sensação de 'agora a gente pode'?
Pabllo: Já passamos tantos perrengues no começo da carreira, como muito artista, que é muito bom ver a pessoa que você admira crescendo junto com você, como é o caso da Urias. A sensação que temos é que vencemos todos os dias, porque muita gente não acreditava em nosso potencial - e ainda têm muitos que não acreditam. Mas nem damos ouvidos. Só trabalhamos muito para chegar aqui hoje.
Vocês são um exemplo para a comunidade LGBTQIAPN+. Isso traz peso? Vocês têm medo de errar?
Pabllo: Já tive muito, hoje não tenho mais. Encaro como algo bom, uma benção.
Urias: Acredito que as pessoas têm que entender que a gente também erra, sabe? E que está tudo bem. Vamos errar, vai ter um amigo e dizer que aquilo não foi tão bom e que é para segurar a onda, e seguimos. Eu tinha muito medo, relaxei mais quando entendi que sou humana e que todo mundo erra, tropeça e acontece.
Pabllo, o jornal americano New York Times fez uma reportagem dizendo que você será a maior Drag Queen do mundo. Como foi receber esse tipo de reconhecimento?
Pabllo: Ah, eu sempre achei que seria. [risos] Fiquei feliz e emocionada, principalmente por lembrar do meu começo. Às vezes, eu converso com a Urias e a gente reflete muito. Começos em Uberlândia, eu um menino gay do interior do Maranhão, e alcançamos lugares com muito amor. O repórter passou 24 horas comigo aqui no Brasil, me acompanhou no São João da Thay, conversando e tirando foto. Ele é americano, mas é casado com uma brasileira, foi bem legal.
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