Obstetra e grávida: de sempre ouvir o coração a passar mal fazendo um parto
Mãe do Pietro, de 7 anos, e à espera de Maria, Maria de Fátima Schettino, 34, diz que ser uma obstetra grávida e manter a agilidade física e emocional diante das demandas da área têm sido desafiador.
No depoimento a seguir ela conta momentos da gravidez, como quando teve um forte episódio de enjoo durante o trabalho de parto de uma paciente e como o seu próprio parto foi um divisor de águas na prática dela como médica. "Ser mãe me ajudou a ser uma obstetra melhor", afirma.
A vida de uma mãe obstetra tem vantagens e desvantagens
"Quando engravidei do Pietro, estava no último ano da residência em ginecologia e obstetrícia. Foi uma verdadeira loucura, trabalhava e estudava mais de 60 horas por semana. Tive diabetes gestacional e morei sozinha até os sete meses de gestação, porque meu marido estava trabalhando em outra cidade.
Pietro nasceu de parto normal com 39 semanas e três dias. Não tenho memórias de sofrimento intenso, mas lembro da dor e de ter pedido analgesia e cesárea, achando que não conseguiria prosseguir. Tive o apoio de uma fisioterapeuta pélvica e de amigas obstetras que me ajudaram com posições e exercícios para facilitar o processo.
Meu parto foi um divisor de águas na minha prática como médica. Após a minha própria experiência, investi mais em estudos sobre humanização e assistência respeitosa ao parto, com foco no protagonismo da mulher e no tempo do bebê.
Na formação obstétrica tradicional, os partos costumam ser assistidos em posição ginecológica, o que é desconfortável e não fisiológico. Hoje, assisto partos na posição escolhida pelas mulheres, promovendo a verticalização para um melhor suporte durante o período expulsivo. É importante ter habilidade para ajudar cada gestante se o processo se tornar difícil e doloroso. Ser uma obstetra grávida é um aprendizado e uma oportunidade preciosa para aprofundar minha atenção, escuta e empatia pelas minhas pacientes.
Sofri com enjoos e sonolência no primeiro trimestre da gestação
Depois, no início deste ano engravidei da Maria. Estar grávida e manter a agilidade física e emocional diante das demandas da obstetrícia têm sido desafiador. No primeiro trimestre sofri bastante com os enjoos, especialmente em um período em que estava assistindo a muitos partos.
Geralmente realizo de cinco a sete partos por mês, mas em março fiz nove com intervalos muito próximos. Teve uma situação em que um bebê estava prestes a nascer e eu estava extremamente nauseada, quase vomitando. Precisei sair da sala por alguns minutos para tomar medicação para enjoo e chupar balas de gengibre até o mal-estar passar.
Uma outra situação difícil foi lidar com a sonolência durante os partos de madrugada.
Quando assisto aos partos vaginais, respeitando o tempo de chegada do bebê, não há hora marcada para nada. Os trabalhos de parto duram de duas a vinte e quatro horas, mas em casos de indução, ficava dias envolvida no processo. Se eu fosse acionada e estivesse dormindo, na praia ou em um almoço de família, deixava tudo para trás e ia. Mas nessa fase fiquei muito cansada, trabalhava e logo em seguida ia para a cama. Não tive vida social e deleguei parte dos cuidados com o meu filho para a minha rede de apoio.
Escuto o coraçãozinho da bebê a hora que quiser
Ser uma obstetra grávida tem suas vantagens e desvantagens. Ter conhecimento é útil, mas também pode atrapalhar. Saber dos desfechos negativos que podem acontecer em uma gravidez e parto, que são da ordem do incontrolável, me gerou angústia em vários momentos, como medo de ter um aborto, complicações e parto prematuro.
Recentemente comecei a sentir dores na pelve, sinto desconforto ao levantar e andar. Essa tem sido a parte mais frustrante da minha gestação. Preparei o meu corpo para a gravidez com uma alimentação saudável e a prática regular de atividades físicas por mais de três anos, mas não tenho o controle de tudo. Para aliviar os sintomas, tenho feito fisioterapia pélvica e osteopatia.
Estou fazendo o pré-natal com uma obstetra em quem confio, sigo todas as orientações, mas também dou meus palpites e solicito e interpreto os resultados dos meus exames -escrevi essa frase dando uma risadinha. Tenho o aparelho sonar e escuto o coraçãozinho da minha bebê a hora que eu quiser. Também faço ultrassonografia uma vez por semana para vê-la com mais frequência.
Me sinto menos apavorada para enfrentar o trabalho de parto
Estou na reta final da gestação, meu corpo está pedindo calma, ainda me mantenho ativa, mas já não consigo mais "correr" como antes. Vou diminuir o ritmo e o número de partos, mas continuarei com os atendimentos no meu consultório, no Instituto Mãe e Filho, e nos meus projetos online. Desde 2022 tenho um canal no YouTube chamado Gravidez e Parto cujo objetivo é ajudar tentantes, gestantes e mães com informações e educação perinatal.
Atualmente, estou sendo cuidada pelos profissionais que indico e recomendo às minhas pacientes. Tenho uma equipe de obstetras e enfermeiras obstetras prontas para me atender. Meu marido apoia minhas escolhas, tem me dado todo carinho e está estudando sobre parto junto comigo.
Me sinto mais preparada e menos apavorada para enfrentar o trabalho de parto. Sei que cada experiência é única e não sei como será a minha. A dor pode variar e meu corpo reagirá de forma singular. Por isso, não acredito que será fácil.
Como cuidar de dois filhos com demandas diferentes
Meu maior receio na maternidade é o puerpério. Amo meu trabalho e a liberdade de sair todos os dias para cuidar da saúde das mulheres e de seus bebês. No pós-parto do meu primeiro filho, me senti um pouco "sequestrada" pela pausa profissional que o momento exige.
Um outro medo é não conseguir conciliar a maternidade de dois filhos: uma recém-nascida e um filho de sete anos, com demandas tão diferentes. De um lado, a Maria precisará de mim para a sua sobrevivência e de cuidados constantes. Do outro lado, tem o Pietro com quem já tenho uma rotina estabelecida e um vínculo forte, que vai também vai requerer a minha presença, cuidados e afeto. A dúvida é como equilibrar essas necessidades, talvez o tempo me mostre o que será possível.
Dicas para ter um bom parto
Se você está grávida como eu e quer as dicas que me acalmam, te digo o seguinte:
Estude: Informe-se sobre os benefícios das diferentes vias de parto e conheça seus direitos. Aprenda sobre as fases do trabalho de parto e elabore o seu próprio plano de parto.
Escolha um acompanhante: Opte por alguém que tenha se preparado ao seu lado e que ofereça o apoio necessário.
Confie no seu corpo: A maioria dos partos acontece durante os plantões, independentemente de serem em instituições públicas ou privadas. Apenas uma parte das mulheres têm a oportunidade de contratar uma equipe específica para o dia do parto.
Boa jornada para nós, se precisar me procure no Instituto Mãe e Filho."
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