Sobrancelhas finas dos anos 90 e 2000 estão de volta; vale encarar a pinça?
As sobrancelhas cheias e volumosas reinaram absolutas nos rostos das estrelas e meras mortais nos últimos 15 anos. De Lily Collins a Cara Delevingne, passando pela brasileira Jade Picon, seu magnetismo é (ou foi) inegável.
Isto porque o mais novo sintoma da renascença Y2K — aquela nostalgia estética dos anos 2000 de que o mundo da moda se alimenta desde a pandemia — é o retorno das sobrancelhas finíssimas aos holofotes.
Sucesso no início do milênio, os arcos ultradepilados tiveram seus primeiros momentos de ouro ainda nos anos 90, mas fizeram muitas adeptas célebres nos anos seguintes: Drew Barrymore, Christina Aguilera, Jennifer Aniston, Megan Fox, Gwen Stefani; todos nomes que eventualmente lutariam para ter seus pelinhos de volta e inspirariam uma onda de cuidados que encheria clínicas de micropigmentação fio a fio.
O velho adágio de que a moda é cíclica parece estar por trás da atual fadiga estética em relação às sobrancelhas cheias: passarelas como a da Maison Margiela na Semana de Alta-Costura de Paris, em fevereiro, já traziam looks conceituais com (quase) zero sobrancelha, celebridades vêm comparecendo a tapetes vermelhos desde o Met Gala munidas de cada vez menos pelos no rosto e, por fim, o TikTok já começa a despontar com tutoriais do tipo.
Logo após o desfile da Margiela cuja beleza de Pat McGrath inspirava-se em bonecas de porcelana chinesa, por exemplo, fãs foram às redes especular quais os materiais e técnicas usados para alcançar o visual e como recorrer à maquiagem para recriar a falta de sobrancelha. A estratégia pode ser a melhor saída para quem sentiu curiosidade em tentar acompanhar as tendências.
Mas nem sempre vale à pena recorrer às pinças, fios e ceras de depilação apenas para acompanhar as tendências. Não só os danos ao arco natural podem ser permanentes, mas também corre-se o risco de errar na mão ao aderir à moda: especialmente porque as sobrancelhas finíssimas de 2024 chegaram com uma abordagem mais suave que as suas referências passadas.
Definitivamente notei o retorno da sobrancelha fina, mas a versão de hoje foca em esculpir e acentuar seus traços em vez de depilar até que fiquem finas como um traço de lápis. Se você está considerando afinar suas sobrancelhas, eu recomendo muito marcar um horário com um especialista, apontou a designer de sobrancelhas britânica Hollie Parkes à rede CNN americana.
Pode ser uma tentação copiar o look da top Bella Hadid, mas outra especialista em sobrancelhas, Kamini Vaghella, alertou também à CNN que um profissional sabe quais são os aspectos que têm que ser levados em consideração antes de se adotar um traço mais fino. Entre eles estão a estrutura óssea do rosto, o formato do olho, o tom da pele e a cor do cabelo.
"Eu lembro de olhar para a Twiggy — que tinha sobrancelhas claras e fininhas que combinavam com ela — e sabia que muitas mulheres iam copiá-la e parecerem completamente ridículas. Não acredito em tendências de sobrancelha. [O desenho] tem a ver com o que cai bem no indivíduo e não há um formato que funcione para todos", acredita a designer que cuida de famosos e nobres em Londres.
De onde vêm as tendências de sobrancelha?
Brincar com os traços do rosto não é exatamente um feito do século 20 ou 21. A rainha Elizabeth 1ª da Inglaterra, por exemplo, é famosa pelo seu consistente uso de maquiagem — além de sobrancelhas finíssimas — que ela cultivou há quase 500 anos.
"Há evidências tão ancestrais quanto os antigos gregos e romanos de tendências particulares de sobrancelhas. Elas são cíclicas e frequentemente as veremos [novamente] oscilando entre extremos. Na Grécia Antiga e em Roma, eram as sobrancelhas grossas e escuras que eram favorecidas e até a monocelha era valorizada", explicou a historiadora da beleza Lucy Jane Santos ao veículo dos EUA.
Já na Idade Média, assim como na era Elizabetana, as sobrancelhas finas viveram tempos de glória. O motivo? Criar a ilusão de uma testa mais alongada, que não era só um sinal de beleza, como de inteligência. Transformar o rosto em uma tela em branco também era uma estratégia de sedução, pois desviava as atenções para o decote das damas.
Existe ainda uma conotação econômica e social na adoção das sobrancelhas finas. "Ter tempo para gastar depilando suas sobrancelhas denota sua classe e [como você tem condições de] lazer", contou a historiadora. Ou seja, mulheres mais pobres precisavam trabalhar nos campos e dificilmente devotariam tempo e energia aperfeiçoando o design do rosto.
Os últimos 100 anos, contudo, impuseram mudanças bem mais repentinas nas preferências de beleza.
"Nos anos 20, as sobrancelhas eram finas e depiladas quase até o fim. Muitos historiadores acreditam que isso começou com atrizes da era do cinema mudo, quando elas dependiam de suas expressões faciais [para trabalhar]. Uma sobrancelha fina e escura era uma forma de comunicação forte, dramática e não-verbal. E as mulheres que iam ao cinema e viam as atrizes com sobrancelhas finas e delineadores grossos os achavam uma expressão nova e excitante da modernidade".
A segunda metade do século, contudo, deixou as pinças bem mais desocupadas. Durante a Segunda Guerra, as sobrancelhas cheias já estavam de volta — talvez por falta de tempo ou por opções consideradas "frívolas" de beleza terem sido descartadas no difícil período.
O ciclo se repetiu nas décadas seguintes: os anos 60 e 70 viram o auge das sobrancelhas fininhas novamente, enquanto os anos 80 tornaram Brooke Shields a referência maior de beleza generosa sobre o olhar.
O pêndulo parece continuar se movendo. E, em 2024, mesmo com todo cuidado, talvez seja hora para muita gente de disfarçar os pelinhos novamente.
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