Com o dia ainda claro, Lulu Santos abriu o Palco Mundo no segundo dia do Rock In Rio instaurando uma celebração da vida, do futuro, da liberdade, do amor — ou melhor, nos lembrando de que tem feito isso ao longo das últimas décadas. Num segundo plano, celebrou o poder da canção, pondo milhares de pessoas para entoar palavras e melodias como se fossem suas — o telão mostrou inúmeros adolescentes, trintões, quarentões (e além) irmanados nos mesmos versos. Seria ainda maior a festa se fosse mais tarde — ontem a cidade do Rock estava mais cheia a essa hora. Mas o que rolou está registrado: o artista inventou pouco e, cantando lindamente, se mostrou impecável, infalível em seu terreno. Foi o que se esperava dele, e sempre se espera muito.
INCLUSIVO
"Toda Forma de Amor", que abre o show, é uma canção inclusiva por definição, abraçando todas as variantes possíveis de relações amorosas. Mas Lulu torna isso ainda mais evidente na mudança que fez na letra. O verso original "Eu sou seu homem/ Você é minha mulher" virou "Eu sou um homem/ Você é o que quiser".
BAILE
Na reta final, Lulu avisou: "Daqui pra frente é baile". E cumpriu o anúncio. Emendou "SOS Solidão", "Já É" e "Assim Caminha a Humanidade". Baixou o bpm para a inevitável e precisa "Como uma onda" e fechou com uma canção de um mestre dos bailes que ele recriou como sua há alguns anos: "Descobridor dos sete mares", lançada por Tim Maia.
POESIA
Com parceiros como Antonio Cicero, Ronaldo Bastos e Nelson Motta, ou mesmo escrevendo sozinho, Lulu fez clássicos que guardam versos que são joias potencializadas por melodias profundamente pop. Muitos passaram por seu show: "Fazer da minha vida sempre o meu passeio público"; "Vem ser a minha estrela"; "A beleza é mesmo tão fugaz"; ou mesmo o uso originalíssimo da palavra "dial", perfeita em "SOS Solidão".
SOTAQUE CARIOCA
Os convidados reforçaram a atmosfera 021 que exala de suas canções universais. Primeiro, a brass band Sinfônica Ambulante introduzindo "Tempos Modernos", abrindo espaço para um carnaval. Depois, Gabriel O Pensador em "Astronauta" e "Cachimbo da Paz".
TRADIÇÃO
Com poucas palavras, Lulu foi no fundo da relação entre canção e tempo, iluminando a emoção que seus hits despertam. Ao apresentar "Como uma Onda", disse: "Esta agora é uma questão de manter a tradição. Eu fiz em 1985, e hoje faz muito mais sentido. Porque hoje somos nós."
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