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Como musical usa canções de Chico Buarque para narrar história do país

Laila Garin em cena do espetáculo "Nossa História Com Chico Buarque" - Divulgação
Laila Garin em cena do espetáculo "Nossa História Com Chico Buarque" Imagem: Divulgação
do UOL

De Splash, no Rio

07/09/2024 05h30

"Nossa História Com Chico Buarque" é uma saga que narra trajetória de duas famílias entre 1968 e 2022 a partir das músicas de Chico Buarque. No palco, dez atores dão vida a personagens de três gerações e mostram que o cancioneiro do compositor brasileiro atravessa a história do país.

50 músicas de Chico Buarque

O musical narra, ao longo de 2h30, dilemas do cotidiano. Traz o desejo de uma dona de casa em ter uma televisão na década de 1960, o sonho de um jovem em ser um cantor famoso, as dores de ser abandonada por um amor e as alegrias de encontrar um novo amor. Por falar em amor, todas as formas de amar, hétero, LGBT, na juventude, na maturidade... Em comum, todos os personagens são fãs da obra de Chico Buarque.

O espectador é levado para três datas diferentes: 1968 (quando crescia a repressão da ditadura militar), 1989 (momento de redemocratização do país) e 2022 (ano marcado pela polarização política entre Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro). É possível identificar o que se passava em cada social e politicamente a partir da vivência de cada personagem.

Um dos momentos mais arrepiantes — e aplaudidos — é quando uma personagem interpretada por Cyda Moreno descobre que o marido foi morto durante uma operação policial. Sequência serve como alerta para a morte da população negra em operações da polícia, tema que segue atual por década. "Meu marido é pedreiro, é honesto, é trabalhador. Onde está meu marido? Me disseram que foi um acidente de trabalho, mas não foi. Chega de genocídio. Também é uma morte politica, é um massacre", grita a personagem enquanto elenco canta "Coleção". "O Que Será", "A Banda", "Olhos nos Olhos", "Tatuagem", "Roda Viva" e "A História de Lily Braun" também estão no roteiro.

No espetáculo, Laila Garin dá vida a três mulheres comuns, que o público pode reconhecer facilmente como mulheres de suas famílias, diz a atriz a Splash. "A obra de Chico toca todo tipo de gente e foi assim durante esses 50 anos. No meu caso, as minhas personagens são afetadas mais indiretamente pela parte política propriamente dita. Perco um filho para a tortura, por exemplo."

Faço três gerações diferentes de mulheres. Só a última pôde desfrutar totalmente das conquistas do movimento feminista. A primeira Iracema é uma típica mulher que cumpre seu papel limitado as questões domésticas. A segunda, Carolina, começa a perceber que pode alçar voos mais altos, e mais tarde em sua vida, ousar dizer alguns nãos para dizer sim a si mesma. São histórias particulares e universais exatamente como a obra de Chico.
Laila Garin

Além de Laila Garin, os atores Flávio Bauraqui, Heloisa Jorge, Artur Volpi, Felipe Frazão, Larissa Nunes, Luísa Vianna e Odilon Esteves completam o elenco. Cyda Moreno e Soraya Ravenle fazem participações especiais. O texto é assinado por Vinicius Calderoni e Rafael Gomes — também diretor do espetáculo.

Desafios

O cancioneiro de Chico Buarque atravessa pessoalmente Laila Garin, que já cantou as canções dele em shows no musical "Gota D'água — a seco". "O desafio é não se deixar levar pela beleza das melodias de Chico e ficar embevecido. Busco ficar no presente e fazer brotar cada nota a partir de um estado interno, um pensamento, um desejo, um objetivo. A mesma busca que tenho com o texto, mas com a dificuldade de melodias super rebuscadas, como ser precisa e parecer espontânea, como ser poética e concreta ao mesmo tempo."

Um dos maiores desafios para produzir o musical foi a falta de patrocínio, conta Andréa Alves, idealizadora e produtora artística do musical. "Trazer 'Nossa história com Chico Buarque' ao palco, uma homenagem a um dos maiores artistas do país, implicou mais de 100 profissionais da cadeia produtiva teatral. O fato em si deveria implicar o que move a cadeia, que é o investimento das empresas, através do mecanismo público da lei de incentivo à cultura, porém as narrativas brasileiras, em musicais com texto ou música original não possuem o mesmo apelo para o mercado dos blockbusters da Broadway."

Não é a peça que escrevemos sobre Chico Buarque. A peca que chico Buarque escreveu em nós.
Vinicius Calderoni

O musical faz parte da programação em comemoração aos oito anos do Teatro Riachuelo Rio, que já recebeu mais de um milhão de espectadores em 1500 apresentações. Comandado pela Aventura, a programação do teatro segue com o espetáculo "Elis, A Musical", entre 11 de outubro a 3 de novembro, além de apresentações especiais em novembro, mês da Consciência Negra, incluindo o sucesso "Macacos" (confira programação aqui).

SERVIÇO - Nossa História Com Chico Buarque

Data: 29 de agosto a 6 de outubro
Horários: Quintas, sextas e sábados, às 20h. Domingos, às 19h
Sessão dupla nos dias 7, 14 e 22/09 e 5 e 6/10, às 15h
Lugar: Teatro Riachuelo (R. do Passeio, 38/40 - Cinelândia)
Duração: 150 minutos
Classificação: 12 anos.
Ingressos (via Sympla): de R$ 19,50 (balcão) até R$ 250 (plateia vip)

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