Existe um seleto grupo de artistas brasileiros desbravadores que foram fundamentais para a propagação da música brasileira pelo mundo, levando nossos ritmos — e nosso suingue — para além das fronteiras do país, sem reforçar estereótipos. Fazem parte desse grupo nomes consagrados como Tom Jobim, João e Astrud Gilberto, Eumir Deodato e Sergio Mendes.
E entre os embaixadores da nossa música, Sergio Mendes foi um dos maiores. Com mais de 60 anos de carreira, o pianista, arranjador, compositor e produtor nascido em Niterói, no Rio, morreu aos 83 anos, nesta sexta-feira (6), em Los Angeles, nos EUA, onde ele fixou residência desde a década de 1960. Afinal, para conseguir levar sua música para os EUA e dali para o mundo, era preciso fincar raízes naquele país.
Como músico de jazz, Sergio foi em busca de seus pares em terra estrangeira, mas também estava fugindo da ditadura. Obviamente, ele foi influenciado musicalmente pelo seu entorno, fortalecendo ainda mais sua relação com o jazz — que cultivava desde os primórdios da carreira —, mas o cerne de sua música continuava sendo o samba, a MPB e a bossa nova.
Sergio Mendes era o músico do samba-jazz, mas também aquele que aproximaria o pop da bossa nova e vice-versa. Sem cair na pieguice para estrangeiro ver, sua obra "ensolarada" e sofisticada se tornou sua marca e também referência no cenário internacional, o que o fez colaborar com artistas como Frank Sinatra, John Legend, Herb Alpert, Stevie Wonder, Cannonball Adderley, Black Eyed Peas, entre tantos outros.
Mas, sem dúvida, o feat com o grupo californiano Black Eyed Peas, na regravação de "Mas Que Nada", em 2006, foi que fez com que públicos mais novos (re)descobrissem Sergio. Com os vocais do Black Eyed Peas, o piano de Sergio e em versão remixada, "Mas Que Nada", que já era um clássico, ganhava mais um capítulo de sucesso, com direito a figurar nas primeiras posições na Billboard. Ela entrou no disco de Sergio, "Timeless", lançado naquele ano.
"Mas Que Nada" já estava no Lado A de "Samba Esquema Novo", álbum de estreia de Jorge Ben Jor, quando ele ainda assinava como Jorge Ben, em 1962. Seu sucesso fez com que ela tivesse alcance nacional. Mas sua consagração internacional veio na versão que Sergio gravou no álbum histórico "Herb Alpert presents Sergio Mendes & Brasil 66", de 1966, o primeiro que ele lançou com grupo Brasil 66', criado pelo músico brasileiro nos EUA.
Mesmo com uma carreira consolidada, Sergio nem sempre lançou trabalhos que fizeram sucesso. Mas, com frequência, fazia as pazes com ele. Isso aconteceu com álbuns como "Never Gonna Let You Go", de 1984, e 'Brasileiro', de 1992, que lhe garantiu o Grammy na categoria World Music. Ele ganhou ainda dois Grammy Latinos, em 2005 e 2010.
O Oscar quase chegou às suas mãos também com a indicação que sua música "Real in Rio", feita em parceria com Carlinhos Brown e Siedah Garrett, recebeu em 2012. Tema principal da trilha da animação "Rio", a canção compunha a atmosfera festiva e carregada de cores vivas do filme de Carlos Saldanha, mas perdeu a disputa para "Man or Muppet", do filme "The Muppets".
Mesmo tendo vários talentos como músico, Sergio Mendes gostava de trabalhar de forma colaborativa, recrutando para perto de si outros artistas, seja em parcerias ou em gravações. Mas deixava sempre como marca sua sonoridade inconfundível: aquele piano cadenciado, cheio de bossa e sofisticação.
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