Monumento de ferro tem 1.600 anos, mas nunca enferrujou. O que explica?
Como pode uma estrutura de ferro não enferrujar após 1.600 anos exposta à luz, à chuva e à umidade do ar? Esta é uma pergunta que surpreende turistas do complexo Qutb Minar, Patrimônio da Humanidade reconhecido pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) na cidade indiana de Nova Délhi, e intrigou cientistas pelo mundo.
A constatação é surpreendente especialmente se for levada em consideração que a coleção de monumentos históricos do local, que tem como cerne a mesquita Quwwat-ul-Islam, foi construída no século 13, sem tecnologias modernas. O Pilar de Ferro — como é conhecida a construção de 7,2 metros de altura no seu pátio — é, por sua vez, ainda mais antiga que o restante.
Segundo estudos das inscrições no metal, o monumento de mais de seis toneladas foi encomendado na época de Chandragupta 2º, o terceiro governante do Império Gupta, ainda no século 5. Mas mesmo com os índices crescentes de poluição da capital e intempéries ao longo dos últimos 1.600 anos, ele segue firme e relativamente intocado.
Cientistas analisaram o metal do pilar desde 1912 até que, entre 2000 e 2003, chegaram a uma conclusão a respeito de sua resistência à corrosão. Segundo estudos publicados no periódico Corrosion Science e no Current Science por especialistas do Instituto Indiano de Tecnologia (IIT), o pilar é feito majoritariamente (98%) de ferro forjado com altos índices de fósforo, mas zero manganês e enxofre — dois elementos presentes no ferro contemporâneo.
A composição única se deu graças à técnica artesanal antiga de forja e solda utilizada para fabricar o pilar, aquecendo e martelando o ferro e mantendo não só o fósforo intacto, como formando em torno da estrutura uma camada fina de "misawite" — uma combinação de ferro, oxigênio e hidrogênio (óxidos de ferro não reduzidos) que, justamente devido à exposição atmosférica, age como uma película protetora.
O arqueometalúrgico R. Balasubramaniam, autor da pesquisa, descreve o pilar como "um testamento vivo das proezas metalúrgicas antigas da Índia", já que teria sido esta técnica bastante peculiar a responsável pela resiliência do material. Ao longo dos anos, outros eventos atestaram sua durabilidade, como quando um tiro de canhão atingiu o pilar no século 18, mas não conseguiu quebrá-lo, apenas deixando um "amassado visível".
Não à toa, após sobreviver a séculos de demolições e reconstruções dos outros monumentos ao seu redor, ele se tornou o emblema de organizações científicas na Índia, como o Laboratório Metalúrgico Nacional e o Instituto Indiano de Metais. Mesmo assim, o Instituto de Pesquisa Arqueológica da Índia colocou uma cerca em torno do Pilar de Ferro para minimizar os riscos de quaisquer potenciais ações humanas que possam destruí-lo.
O passado do pilar "inquebrável" - e indecifrável
Imagens detalhadas ou até a observação de perto, ao vivo e a cores, revelam versos em sânscrito na superfície do pilar que descrevem o "rei Chandra" como devoto do deus hindu Vishnu. Estudiosos não chegaram a um consenso se o monumento foi instalado postumamente ou enquanto o governante ainda estava vivo, já que o texto menciona que "o rei deixou a Terra".
Outros pesquisadores ainda divergem se o local onde o Pilar de Ferro está hoje, no pátio da mesquita, era o seu destino original. O próprio Balasubramaniam, que desvendou o mistério da falta de ferrugem, aposta que ele teria sido instalado do lado de fora das Cavernas de Udayagiri e depois movido por Anangpal Tomar, governante da dinastia Tomara, no século 11.
Outra teoria proposta pelo educador e ativista de conservação Vikramjit Singh Rooprai sugere que o PIlar de Ferro teria sido comprado por Varahamihira, um astrônomo famoso da corte do rei Chandra. "Um de seus livros, o 'Surya Siddhanta', detalha métodos para calcular posições celestes, eclipses e outros fenômenos austronômicos — e acredita-se que ele usava o pilar [como referencial] nos seus cálculos", disse à CNN americana.
Há muitas teorias que envolvem o PIlar de Ferro. O poema épico "Prithviraj Raso", de Chand Bardai (cortesão do rei Prithviraj Chauhan), conta outra história.
"Bardai descreve o Pilar de Ferro como um prego segurando a Terra no casco de Sheshnag, o rei-serpente da mitologia Hindu. O poema reconta como o rei Anangpal tentou tirar este prego apesar dos avisos dos Brâmanes a respeito das terríveis consequências. Quando foi retirado, revelou uma base avermelhada que acredita-se ser o sangue de Sheshnag, o pânico seguiu-se [e as pessoas] temeram a destruição da Terra. Anangpal rapidamente ordenou sua reinstalação, mas não foi apropriadamente colocado e ficou solto. Assim, o poeta sugere que este incidente inspirou o apelido 'Dilli' para Délhi — um trocadilho com a palavra 'dhilli' que quer dizer 'solto' em hindi", contou Vikramjit ainda à emissora americana.
Uma das suas lendas mais famosas ainda diz que, quem se apoiar com as costas no pilar e 'abraçá-lo' por trás, deve garantir que seus dedos se toquem para que seus desejos se realizem — uma tradição de valor espiritual, e não só histórico, importante para os indianos. Mas — e é bom lembrar — hoje impossível para os turistas.
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