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Existe cesárea humanizada? 86% das mães sabem pouco sobre parto humanizado

Entre os diferentes tipos de parto, algo em comum: a possibilidade de humanizar cada vez mais esse momento - iStock
Entre os diferentes tipos de parto, algo em comum: a possibilidade de humanizar cada vez mais esse momento Imagem: iStock
do UOL

Beatriz Zogaib

12/07/2024 04h00

A escolha pelo parto normal no hospital é predominante impulsionada pela percepção de uma recuperação pós-parto mais rápida e pela crença de que é benéfico para o bebê. A notícia soa positiva, mas 56% das mães revelam que não tiveram um parto humanizado, inclusive, as que passaram por um parto normal. Para preparar as mães para esse momento importante e vulnerável, Universa lança Materna, uma newsletter semanal sobre angústias e comemorações da gestação. Inscreva-se no box abaixo.

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Ao serem questionadas sobre os motivos de não ter um parto humanizado, 38% das entrevistadas apontaram falta de conhecimento, 33% falta de informações sobre as práticas envolvidas e 15% acreditavam que o parto humanizado não seria possível em cesarianas. De todas as mulheres que não realizaram o parto humanizado, 86% delas simplesmente não tiveram acesso adequado ao conceito e prática deste tipo de parto.

A realidade das brasileiras foi revelada na pesquisa feita por Universa, chamada de "Estudo Materna: o que pensam e querem as mães", realizada em dezembro de 2023 com mil mulheres, com a metodologia de Mind Miners, plataforma especializada em Consumer Insights.

Mas como é possível ter um parto normal e não humanizado?

Pode acontecer mais do que imaginamos. Isso porque o parto normal não abraça, necessariamente, o protagonismo da mulher, como a livre escolha de posição para parir, por exemplo. Só não leve o raciocínio para outro extremo. Parto humanizado não é necessariamente aquele que acontece em casa, na água ou na banqueta de cócoras.

A humanização está na visão do momento do nascimento para além de um evento biológico, levando em conta aspectos emocionais, sociais e até culturais, independente da via de parto. É o parto no qual a gestante é ouvida e respeitada em relação ao que deseja e as decisões compartilhadas; num olhar integrativo, interdisciplinar e respeitoso, que promove uma experiência mais acolhedora para mãe e bebê, oposta ao modelo convencional.

diferentes tipos de parto, embora dois deles liderem o total de nascimentos: 51% das gestantes entrevistadas fizeram cesariana (agendada ou por tempo do bebê) e 31% parto normal hospitalar (vaginal com intervenções médicas). Outras 25% tiveram parto natural no hospital (vaginal com menos intervenções), 7% natural em casa (sem intervenções) e 4% natural na água (em banheira)*. Apenas 35% foram considerados como humanizados pelas entrevistadas.

Existe cesárea humanizada?

A humanização em casos de cesárea vem através da assistência respeitosa - o que é possível e deveria ocorrer idealmente. - iStock - iStock
A humanização em casos de cesárea vem através da assistência respeitosa - o que é possível e deveria ocorrer idealmente.
Imagem: iStock

Se é possível ter um parto normal não humanizado, tão possível quanto é ter uma cesárea humanizada. Mas é preciso esclarecer alguns pontos. Como é um procedimento cirúrgico, ela não é considerada dessa forma por muitos especialistas, e a humanização nesse caso vem através da assistência respeitosa - o que é possível e deveria ocorrer idealmente. Como? Em um parto onde a mulher é tratada da forma mais personalizada possível, conforme o que quer, dentro dos protocolos cirúrgicos.

Assim que o bebê nasce já vai para o contato com a mãe. Já se provou que dá para ter a hora de ouro de forma segura na cesárea. Mais do que humanizado, isso é o que é certo.Andrea Menezes, ginecologista obstetra

É claro que, antes de falarmos de humanização da cesárea, precisamos falar da real necessidade dela acontecer. "As indicações absolutas de cesariana são pouquíssimas", comenta a ginecologista obstetra Andrea Menezes.

E como seria tudo na prática?

Seria uma cesariana com equipe que preza pela importância daquele momento, não falando sobre outro assunto que não fosse o nascimento daquela criança, as luzes ficam apagadas com apenas o foco de luz onde é feita a incisura, por exemplo.Ana Luiza Zapponi, enfermeira obstétrica especialista em cuidado materno-infantil

Se a mulher quiser música na cesárea, ela poder ter. Se desejar, pode ter a companhia de uma doula, da mesma forma que teria em um parto normal ou natural. Se for seu desejo ou do seu par, um deles pode fazer o corte do cordão umbilical. E, se o bebê estiver bem, ele não só poderá como deverá ir imediatamente ao colo da mãe. Parece óbvio, não é? Mas, acredite, há milhares de relatos de mães que não experimentaram isso.

Infelizmente, para irmos da falta de humanização à violência obstétrica é um passo. Ou melhor, um corte no períneo sem o consentimento da mulher no parto normal, pernas amarradas, frases absurdas que ela escuta em pleno trabalho de parto, cesariana feita sem necessidade como se fosse caso de vida ou morte. Realidade já conhecida: estudo da Fundação Perseu Abramo, de 2010, revela que uma em cada quatro mulheres sofre alguma violência na assistência ao parto.

Em 2016, a pesquisa Nascer no Brasil revelou que 70% brasileiras desejavam parto vaginal no início da gravidez, mas que 53% dos partos acabaram em cesáreas. Mas, da mesma forma que parto normal ou natural hospitalar não são sinônimos de parto humanizado, falta de humanização ou cesarianas não são o mesmo que violência obstétrica. É preciso cuidado e muita sensibilidade para entender que são coisas diferentes, ainda que possam "vir ao mundo" juntas.

É possível parir sem ser violentada, mesmo deixando de vivenciar algo importante para você (desde que não por negação da equipe). E você pode ser influenciada a realizar uma cesárea sem que você ou seu bebê estejam correndo riscos, mas não se sentir violentada por isso - por de fato acreditar que é o melhor, e correr tudo bem no momento.

Você não está errada e nem sozinha se desejar ou tiver desejado a cesariana: 38% das mulheres ouvidas por Universa e que passaram por cesáreas (agendadas ou pelo tempo de gestação) apontaram o medo como causa. "Sou a favor da forma que for melhor e mais indicada para mãe e para o bebê", comenta a ginecologista obstetra Andrea Menezes.

Esse medo, é importante lembrar, vem de encarar o desconhecido, de conversas pouco esclarecedoras com o obstetra ou até mesmo de relatos de outras mães que tiveram partos normais não humanizados (ou com atos de violência obstétrica). Respire. Cada parto é um parto.

O importante, como podemos concluir, é buscar conhecimento, uma equipe médica em que confie e um local para parir que seja condizente com o que você acredita e procura. Não se cobre caso, mesmo com todas as informações e escolhas feitas, em qualquer momento optar ou tiver que passar por uma cesárea. A cesariana pode salvar vidas se bem indicada, e é possível receber assistência humanizada durante todo o processo cirúrgico.

Uma estratégia interessante é ter por escrito o que pensa ser o ideal para você e seu bebê. "O plano de parto é essencial para que as escolhas da mulher sejam garantidas e se evite violência obstétrica e neonatal. Nele, a mulher deixa explícito suas preferências em relação ao trabalho de parto, parto e pós- parto", enfatiza a enfermeira obstétrica Ana Luiza Zapponi.

Só não esqueça de que pode acontecer diferente do planejado, afinal nem tudo está sob seu controle ou até mesmo da equipe médica. O essencial é que você e seu bebê sejam respeitados e muito bem cuidados - e o plano de parto é uma garantia a mais para isso.

*1% das entrevistadas assinalaram "outro" quando perguntadas sobre o tipo de parto realizado e 14% ainda não tiveram um parto

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