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'Prêmio de consolação' a filme iraniano em Cannes é absurdo e ofensivo

do UOL

Colaboração para Splash, em São Paulo

29/05/2024 12h00

A vitória de "Anora" em Cannes surpreendeu aqueles que acompanharam o festival francês de perto.

Em seu filme mais "popular", Sean Baker venceu a Palma de Ouro, "esnobando" o iraniano "The Seed of the Sacred Fig", que era um dos favoritos ao prêmio. O drama do diretor Mohammad Rasoulof narra a história de Iman, um juiz de investigação do Tribunal Revolucionário em Teerã, que lida com a desconfiança à medida que os protestos políticos crescem no país. Vale destacar que, antes de sua estreia, Rasoulof foi condenado a oito anos de prisão pelas autoridades iranianas e fugiu para a Alemanha.

No Plano Geral desta quarta-feira (29), a convidada Mariane Morisawa disse que o prêmio "foi estranho" até pela ordem em que foi anunciado, muito antes da entrega da Palma de Ouro. "Inventaram o prêmio de consolação para o filme", opinou. "É completamente absurdo e era melhor não dar nada. Deve ter tido uma discordância no júri [...] porque pareceu que o filme 'não merecia', que foi um prêmio' extra Cannes'. Acho ofensivo e lamentável".

Para Flavia Guerra, se quisessem homenagear Mohammad Rasoulof, entregariam a ele a Palma de Ouro — ou, ao menos, o Grande Prêmio ou o Prêmio do Júri, considerados o "segundo e terceiro lugar". "É quase como se o filme não tivesse qualidade para estar lá", comentou.

Não é que "Anora" seja ruim. Mariane explica que o longa tem muita qualidade de direção e um olhar próprio, mas é mais convencional que outros do diretor e tem maior apelo ao público. "A pegada de comentário social dele é muito mais leve", avaliou. "E uma Palma de Ouro em Cannes deveria ser de um filme que provoque mais, tanto cinematograficamente quanto em debates sobre os temas e sobre o filme em si".

Melhor direção vai para português

"Grand Tour" concedeu ao português Miguel Gomes o prêmio de melhor direção em Cannes, no que Flavia chamou de "um filme para cinéfilo cult". Trata-se de um longa de época sobre um funcionário público que abandona sua noiva no dia do casamento e é seguido por ela. "Miguel tem um cinema de assinatura, com filmes de jornada, em preto e branco", disse. "Cannes premiou um autor. Foi muito acertado".

O curta português "Bad for a moment", de Daniel Soares, também teve uma menção especial em Cannes. "Foi uma edição muito boa para Portugal", comentou Flavia, acrescentando que o cinema português costuma ficar à margem, mesmo dentro da Europa.

  • Apresentado por Flavia Guerra e Vitor Búrigo, Plano Geral é exibido às quartas-feiras, às 11h, no canal de Splash no YouTube e na home do UOL, com as principais notícias sobre cinema e streaming. Você pode ainda ouvi-lo no Spotify, Apple Podcasts e Google Podcasts.

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