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'Mulheres negras estatisticamente sofrem no parto, mas não foi meu caso'

Natália com o filho: a informação ajudou - Acervo pessoal
Natália com o filho: a informação ajudou Imagem: Acervo pessoal
do UOL

Luciana Bugni

Colaboração para Universa

23/04/2024 14h57

"Minha gravidez era muito desejada, mas foi imprevista ao mesmo tempo. Como eu fazia um tratamento longo de ovário policístico, ficava tempos sem menstruar e não desconfiava que pudesse ser gravidez. E meu sintoma foi bem diferente das mulheres que, nos primeiros meses, ficam enjoadas: eu tinha dores fortíssimas de barriga. O intestino estava tão solto que cheguei a pensar que estava com câncer.

Quem me deu o toque foi minha tia, que teve o mesmo sintoma. Ela disse que tinha ficado com diarreia também e que eu poderia estar grávida. Fiz o exame e deu positivo. Já estava grávida de três meses e só então comecei o pré-natal.

Como sou uma profissional autônoma e meu marido também, escondi a informação no trabalho até o quarto mês. Tive muito medo de ser demitida. Depois disso, acabei contando e fui bem recebida. Mas era complicado lidar com os pacientes e ver como eles lidavam com a minha gravidez. Alguns reagiam de maneira carinhosa, outros preferiam ignorar o fato. Na reta final, não conseguia ficar de sapatos, porque inchei muito, nem buscar os pacientes no andar de baixo. Paguei o INSS para ter auxílio-maternidade. Com tudo isso, senti que minha gravidez foi muito exposta.

Hoje, olhando para trás, penso que seria importante ter feito tratamento psicológico durante a gestação, mas na época, vivendo todo esse estresse, nem cogitei.

Não tive, entretanto, risco de algo dar errado. Parei de trabalhar nas férias de dezembro e Luigi nasceu em janeiro. A reta final foi meio complicada porque tive pressão alta e, como trabalho como doula, queria muito ter parto normal. Quando ia fazer exames, ficava nervosa e minha pressão subia demais — e já tinha tomado até chá de canela, porque, com 42 semanas, nada de ele nascer.

Um dia, fui à missa e, na volta, disse ao meu marido que estava em trabalho de parto. Foi um vizinho que nos levou ao hospital. Cheguei lá com nove dedos de dilatação, mas o bebê havia se enrolado no cordão umbilical. Os batimentos cardíacos diminuíram e o médico disse que estava com dó de fazer uma cesárea, mas era importante para ele não correr risco. Deu tudo certo: ele nasceu bem, o que era mais importante.

Sei que as mulheres negras recebem menos anestesia no parto, mas fiquei fora dessa estatística. Todas as mulheres da minha família sofreram muito e foram mal tratadas no parto e fico feliz de ter uma história diferente. A recuperação da cesárea é difícil, mas é uma superação grande. Intuição é algo espontâneo e acreditar nela é essencial. Foi a partir do momento em que ouvi minha que as coisas foram caminhando.

Agora temos muita informação. Mães contando suas experiências de forma muito completa na internet ajudam o caminho das gestantes. Eu digo sempre: se nutra de informação, mas não deixe de confiar em sua intuição."

Natália Cristiane Macario de Oliveira, 38 anos, psicóloga, mãe de Luigi, 9 anos

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