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'Fiz duas cesáreas e quis um terceiro parto natural, mas não tive apoio'

Karin e a família toda reunida - Danilo Soares
Karin e a família toda reunida Imagem: Danilo Soares
do UOL

Luciana Bugni

Colaboração para Universa

23/04/2024 14h56

"Eu já tinha dois filhos quando engravidei de Ravi, no fim de 2022. Foi uma alegria planejada, mas, ao mesmo tempo, surpreendente. Na época, eu já tinha experiência como mãe do Lorenzo, um garoto extraordinário que enfrenta diariamente a amiotrofia espinhal tipo 2, e do Théo, de 6 anos. A decisão de ampliar a família trouxe questionamentos sobre a dinâmica em casa, considerando especialmente a necessidade de conciliar minha carreira artística com os cuidados e a atenção que meus filhos exigiam.

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Ao anunciar a gestação, as reações variaram bastante. Algumas pessoas expressaram preocupações, considerando que já tinha dois filhos e um deles demandava mais cuidados por conta de sua condição de saúde. Recebi conselhos bem-intencionados, mas também enfrentei opiniões invasivas sobre o planejamento familiar. Por outro lado, encontrei um valioso apoio na comunidade de mães empreendedoras da B2mamy, que foi um suporte fundamental nesse processo.

Tudo isso foi, para mim, uma montanha-russa de emoções. Lidei com a ansiedade e a preocupação com a pressão alta. Foi um período de adaptação constante e de buscar apoio em amigos próximos para enfrentar os desafios, mantendo-me ativa nos shows da Banda Arteiros para encontrar alegria na criação artística. Sou uma artista multifacetada: cuido também da Impulsionando Arte, uma produtora cultural que busca transformar vidas por meio da arte, e dou aulas de teatro na Casa de Cultura André Sampaio, um ponto crucial na minha jornada, pois são focadas na inclusão — pessoas com e sem deficiência aprendem juntas, na mesma sala, sem distinção.

Optar por um parto natural após duas cesáreas anteriores foi um dos maiores desafios. Enfrentei resistência médica, o que gerou estresse e momentos de incerteza. Manter firmeza na minha decisão foi um processo que me demandou muita força mental e emocional.

Mantenho uma vida artística agitada e, até as 37 semanas, continuei ativa nos shows. Posteriormente, deleguei essa função para garantir uma licença-maternidade tranquila. Busquei o apoio da equipe para manter a logística e a organização dos eventos.

Apesar das circunstâncias médicas, nunca me senti em risco durante a gravidez. Mantive-me monitorada e medicada quando necessário. Curiosamente, foi quando parei de trabalhar, seguindo as orientações médicas por volta das 37 semanas, que me senti mais vulnerável, cercada por um olhar mais atento de profissionais de saúde e apoio emocional.

Minha maior preocupação era interromper minhas atividades artísticas, especialmente os shows. Para manter a calma e seguir saudável, mantive contato com o público, mostrando que não íamos parar, acreditando que era apenas uma fase temporária e que a transparência era a melhor abordagem para lidar com essa situação.

A busca por parto normal

Iniciei a gestação esperando uma cesárea, porque reza a lenda que depois de duas não há chance de parto normal. Mas com sete meses decidi que queria tentar pelo parto normal, começou então a minha jornada de parto humanizado e conscientização.

Estudei muito e procurei entender o que poderia ou não fazer. A reta final foi bastante turbulenta. Tive que enfrentar procedimentos de indução que geraram ansiedade sobre como tudo se desenrolaria. Esses momentos foram desafiadores, especialmente diante da resistência da equipe médica em seguir com o plano de parto desejado.

Iniciei a indução natural com 37 semanas, focada em ver o bebê nascer como e quando ele quisesse, sem interferência externa. Porém, por ter pressão alta, os médicos me deram até 40 semanas. Internei com 39 semanas e cinco dias para a última indução ser feita no hospital.

Com 40 semanas e um dia, o trabalho de parto ainda não havia começado. As médicas tiveram então que marcar a cesárea para aquele dia, às 20h. Não me permitiram ocitocina, que era autorizada e ajudaria na dilatação, mas eu já estava cansada de brigar pelo que queria. Essa foi minha primeira desistência. Chorei, me decepcionei, me desesperei e recebi muito amor.

Comecei a sentir dores, mas estava tão frustrada que não me dei conta de que estava iniciando o trabalho de parto. Por volta das 17h, as dores foram mais intensas e ritmadas, e a doula e a enfermeira obstétrica confirmaram. Conseguimos adiar a cesárea, me tirar do jejum e me liberaram para comer um hambúrguer delicioso, que me deixou cheia de alegria. Dali por diante, foram várias contrações e um trabalho de parto lindo e longo. Foram 18 horas e meu marido aguentou firme e forte ao meu lado, me dando força, coragem e não me deixando desistir.

Infelizmente, as dores se intensificaram e ficaram sem pausa entre uma contração e outra, me deixando muito cansada. Estava somente com 4 cm de dilatação, com dores insuportáveis. Fui proibida pela equipe médica de utilizar medicamento para alívio da dor antes de 8 cm de dilatação. Também não permitiram ocitocina.

Às 6h da manhã, entrou um médico para verificar a dilatação, que permanecia em 4 cm. Ele me encaminhou para o centro cirúrgico. Isso acabou comigo, com as minhas forças e o trabalho de parto pausou. Sabemos que tudo depende da concentração no momento. Eu comecei a discutir no meio do processo. As dores e contrações permaneciam e o cardiotoco começou a dar alteração. Então, às 11h, decidimos pela cesárea.

Essa foi a decisão mais difícil que tive que tomar, pois eu sabia que dava para continuar se me dessem ocitocina e que estavam me induzindo para cesárea, apesar de ter condições de seguir para o parto natural. Mas, naquele momento, me importava estar com Ravi no colo, saudável, sentir o cheiro dele, ver o rosto dele. Se eu permanecesse insistindo, talvez, por falta de apoio da equipe médica, poderia nos colocar em risco de fato.

Nosso Ravi nasceu às 12h25 empelicado, cheio de amor e no tempo dele. Sou grata a todas essas mulheres que estiveram comigo neste momento, a meu marido que me apoiou em todas as decisões.

No pós-parto, lutei com a aceitação da cesariana, mas, ao segurar meu filho nos braços, percebi a grandiosidade daquele momento. Houve momentos de questionamento e reflexão sobre as decisões tomadas, mas, ao final, a gratidão por ter meu bebê saudável superou todas as adversidades.

Minha maior dica é: confie na sua intuição. A jornada da gestação e do parto é única para cada mulher, e é essencial buscar conhecimento sobre suas escolhas. Estudar, compreender os aspectos envolvidos e se apoiar em relatos de outras mulheres pode ajudar a tomar decisões conscientes e empoderadas. Lembre-se: seu corpo, suas escolhas."

Karin Cristine Albrecht Menezes, 37 anos, atriz, mãe de Lorenzo, 12 anos, Théo, 6 anos e Ravi, 5 meses

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