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Carnaval 2019

Sapucaí alagada, governador vaiado e Mangueira exaltada

Mangueira durante ensaio técnico na Sapucaí - Bruna Prado/UOL
Mangueira durante ensaio técnico na Sapucaí Imagem: Bruna Prado/UOL
do UOL

Thiago Camara

Colaboração para o UOL, no Rio

18/02/2019 07h58

O penúltimo fim de semana de ensaios técnicos na Marquês de Sapucaí foi marcado pela chuva e vento fortes, no Rio. Vaias ao governador do Estado,
Wilson Witzel, ecoaram antes dos raios e trovões que caiam perto do Sambódromo. A passarela do samba ficou alagada na pista e nos acessos às arquibancadas e camarotes. Se fosse durante o desfile oficial, não resistiria. Falhas no sistema de som também foram percebidos na passagem das mais populares escolas de samba da cidade: Mangueira e Portela, além da São Clemente que abriu a noite.

Ao ser anunciado antes do começo dos ensaios, Wilson Witzel levou uma chuva de vaias e gritos de "Ih, fora!". Ele ainda tentou circular pela pista, mas antes da metade do Sambódromo voltou devido à recepção pouco amistosa do público. Em entrevista ao UOL, sobre o incidente, desconversou.

"É a festa da democracia aqui no Sambódromo. Estou feliz de ver a população podendo ter o ensaio técnico de novo. A secretaria de cultura que viabilizou através de patrocínio", disse.

Sonia Amorim, moradora do Morro do Fallet-Fogueteiro, região central do Rio,gritava contra a presença de Witzel e atribuiu a ele o aumento da violência
nestes primeiros meses de 2019. Na sexta-feira, 15 de fevereiro, o governador elogiou uma ação policial na comunidade de Sonia que deixou 15 mortos. "Ele não fez nada até agora. É só violência atrás de violência, muita gente morrendo, inclusive inocentes", reclamou.

A chuva forte atrapalhou a evolução da São Clemente, primeira a ensaiar, mas não afastou o público que lotou as arquibancadas para ver Mangueira e Portela ensairem. A azul e branco de Madureira, trouxe um samba forte com enredo que faz uma homenagem a Clara Nunes, ilustre portelense. Mas foi a verde-rosa de Cartola que fez o público ecoar o refrão do seu samba em coro: "Brasil chegou a vez de ouvir as Marias, Mahins, Marielles e malês".

"O enredo da Mangueira (História de ninar gente grande) fala de protagonismo popular. Olha para pessoas que nunca são valorizadas. Os heróis de barracões da Mangueira são as multidões de favelados desse país que podem ser sinônimo de patriotismo. Essas pessoas que fazem o Brasil acontecer", explicou Leandro Vieira, carnavalesco da Mangueira desde 2016, quando foi campeão.

Acompanhando o ensaio com a blusa da Mangueira, Sueli Ferreira, dona de casa, se viu representada no enredo concebido por Leandro.
"Já estava na hora de alguém falar das Marias desse país. Tenho certeza que a Mangueira vai ser campeã. Ela traz a força do Brasil para avenida", afirmou.

Mônica Benício, viúva da vereadora Marielle Franco, assassinada em 14 de março de 2018, passou pelo Sambódromo emocionada ao cantar o samba-
enredo da Mangueira. Ela também acredita que o Carnaval pode revelar histórias que não foram valorizadas desde o descobrimento do Brasil.
"O enredo da Mangueira fala de representatividade e isso no Brasil de hoje é urgente. A gente precisa de referências nesse país. Referência nos nossos
heróis que foram silenciados e a história não contou suas vidas. E vem a Mangueira fazer esse trabalho maravilhoso", defendeu.

Os ensaios técnicos chegam ao fim no próximo fim de semana. A entrada é franca e começam às 20h. No sábado (23) passarão pela Sapucaí União da
Ilha, Império Serrano, Imperatriz. Já no domingo (24) haverá a tradicional lavagem do Sambódromo, em seguida ensaiam Paraíso do Tuiuti, segunda colocada em 2018 e Beija-flor, a campeã do ano passado.

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