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Carnaval 2019

Bloco Põe na Quentinha? lança enredo sobre culinária brasileira no Rio

do UOL

Michel Alecrim

Colaboração para o UOL, no Rio

19/01/2019 20h50

Garantir a diversão dos foliões durante o Carnaval  dá muito trabalho. Tanto que os profissionais que se encarregam de alimentar quem pula nos blocos e clubes sequer têm tempo para sua própria brincadeira. Nesta época do ano, a correria de chefs de cozinha, cozinheiros e também garçons é intensa, mas um grupo de profissionais do Rio de Janeiro deu um jeito de brincar conciliando a agenda nos restaurantes e bares com o samba. São os integrantes do Põe na Quentinha?, que se preparam para o quinto desfile.

Numa tarde animada e com um calor de derreter, o bloco lançou neste sábado (19) na Lapa, região central da cidade, seu samba-enredo para este ano. O tema "Ajeum Irê - Comida de Re Existência" trata das origens ancestrais da culinária brasileira. O termo significa  agradecimento aos orixás pelo alimento num ato coletivo. O pesquisador Luiz Antônio Simas explica que o sagrado e o profano se misturam na cozinha brasileira. "Muitos dos nossos pratos mais comuns vêm das religiões de origem africana e nem todos sabem. Numa época de muita intolerância, como a atual, é sempre bom lembrar isso", conta o autor do enredo.

O Põe na Quentinha?, cujo nome é uma brincadeira com os pedidos dos clientes na hora de pagar a conta, procura mesmo reunir cultura, gastronomia e samba. Este ano, ganhou a adesão do cozinheiro Ton Rodrigues, de 35 anos. O amapaense é especializado na culinária amazônica, além de cantar. A combinação deu certo e o profissional, que vive há 14 anos no Rio, está emprestando a voz ao bloco e vai montar barraca com quitutes no desfile programado para 23 de fevereiro. "Temos que dar um jeito de curtir o carnaval, mesmo que trabalhando", afirma Ton, que sempre atua vestido a caráter, com direito a cocar.

Os foliões sambaram muito no primeiro ensaio do bloco formado por chefs de cozinha, cozinheiros e garçons no Rio - Bruna Prado/UOL - Bruna Prado/UOL
Os foliões sambaram muito no primeiro ensaio do bloco formado por chefs de cozinha, cozinheiros e garçons no Rio
Imagem: Bruna Prado/UOL
O organizador do bloco, o fotógrafo Berg Silva, 52, promete que os chefs que montarão barracas com comidas regionais brasileiras no desfile cobrarão preços populares, abaixo do praticado nos restaurantes em que atuam. "Sempre colocamos um teto de preços", diz Silva. A chef Laura Paes, mato-grossense que adotou o Rio há 17 anos, se esbaldou no lançamento do samba-enredo, realizado no Baródromo, localizado na histórica Rua do Lavradio, onde casarões centenários abrigam antiquários, casas de show, bares e restaurantes. O bar é decorado com fantasias e pedaços de alegorias doados pelas escolas de samba. "No carnaval não posso deixar o trabalho de lado até por respeito pela minha equipe. Por isso achei essa ideia do bloco genial", afirma Laura.

A festa do bloco atraiu também quem não é de lidar com o fogão, como a bióloga Valéria Resende, 45, e a pesquisadora Vânia Mourão, 61 anos. As amigas aprovaram a mistura de comida e batucada. "Numa roda de samba não pode faltar uma boa comidinha. É da prática popular", diz Vânia.  A garçonete Dayana Bertazzo, 28, promete dar um jeito para comparecer no dia do desfile.  "Todo carnaval eu trabalho, mas não fico chateada. Coloco uma fantasia e me divirto servindo os clientes. Mas nada como ficar à vontade para brincar. Por isso não posso perder esse bloco", diz.

O chef Antônio Carlos Laffargue (conhecido como Toninho), 38, do Bar do Zeca, que montou em parceria com o cantor Zeca Pagodinho na Barra da Tijuca, garante que vai tirar sua folga para acompanhar o desfile. "A gente trabalha se divertindo, mas precisamos também de um carnaval só nosso", defende o chefe.

Por conta da colocação de barracas com comidas, o bloco fica normalmente parado, em rua da Zona Portuária da cidade. "Os integrantes desfilam até o bar para pegar uma bebidinha", brinca Berg Silva. Mas está previsto no encerramento um pequeno cortejo, quando o som do palco é desligado e são usados instrumentos de percussão. Marchinhas antigas e sambas tradicionais são o forte do grupo. O bloco tem como rainha Andressa Cabral do concorrido Meza Bar, de Botafogo, Zona Sul carioca. Os padrinhos são os premiados Kátia Barbosa, do Aconchego Carioca, e o francês Frederic Monier. O mestre-sala do bloco será a revelação da gastronomia João Diamante e o papel de porta-estandarte caberá a Bianca Barbosa, também do Aconchego.(Veja a programação dos desfiles do Rio de Janeiro).

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