Rainha Camila Silva quer levar mensagem de resistência para folia europeia

Camila Silva não terá descanso neste ano após o Carnaval. Ela vai desfilar à frente das baterias da Vai-Vai, em São Paulo, e da Mocidade Independente de Padre Miguel, no Rio de Janeiro, e emendará a folia brasileira com o Carnaval da Suécia.

A rainha de bateria conta que, além do glamour e da beleza, quer aproveitar o convite para levar uma mensagem de resistência do povo pobre do Brasil para a Europa.

"Todo ano é feito o Carnaval sueco, logo após a nossa festa brasileira. A possibilidade de levar para os estrangeiros e também para os brasileiros radicados na Europa um pouco da energia da Festa do Momo me faz ficar cada dia mais ansiosa", disse a sambista em entrevista ao UOL.

"Minha expectativa principal é conseguir fazer com que os participantes do evento também consigam entender a responsabilidade do nosso Carnaval. A festa é linda! Ver pessoas bonitas dançando em um ritmo envolvente é, de fato, atraente. Mas é o momento de mostrar lá fora que somos muito mais do que quatro dias de folia. Somos propagadores de cultura de um povo, somos a resistência dos pobres e esquecidos pelo governo, somos o povo negro que esquece as injustiças do dia a dia pelo amor à nossa cultura", discursou.

Emoção diferente

Camila Silva afirma ainda que, neste ano, desfilar pela Vai-Vai será uma emoção diferente por causa do tema da escola, que levará para o Anhembi o samba-enredo "Quilombo do Futuro" (confira os horários dos desfiles). "A carga emocional do tema toca na nossa ferida ainda aberta. Não tenho vergonha de dizer que sou da periferia, sou negra e, óbvio, já sofri e sofro diariamente preconceito", afirmou.

"O tema da Vai-Vai é isso! Mostrar o quanto a evolução do negro no Brasil tem se tornado revolução, com uma geração mais consciente de seu papel social e que luta muito para alcançar seu lugar de direito", explica a rainha de bateria. "A mulher negra sofre dobrado em busca de igualdade. Não é fácil enfrentar o machismo, mas certamente é infinitamente pior enfrentar o machismo e o preconceito."

Camila diz que sua maior inspiração são mulheres com quem ela convive no dia a dia. "A baiana, a porta-bandeira, a minha mãe e as mulheres negras de minha família, além de grandes nomes como Elza Soares, Benedita da Silva e Leci Brandão", enumerou. Camila ainda acredita que enaltecer a ancestralidade negra vai levar a Vai-Vai ao topo. "Minha expectativa é apresentar nossa resistência e mostrar a campeã de 2019", finaliza.