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'Ninguém receberá': aposentados têm dificuldade com Meu INSS e buscam ajuda

Aposentada Maria das Graças Cobo, 66, seu pai e tio contam com a ajuda da nora, Rosiclare da Silva Cobo, 44.  - Wanderley Preite Sobrinho/UOL
Aposentada Maria das Graças Cobo, 66, seu pai e tio contam com a ajuda da nora, Rosiclare da Silva Cobo, 44. Imagem: Wanderley Preite Sobrinho/UOL

Do UOL, em São Paulo

16/05/2025 19h20Atualizada em 20/05/2025 14h03

É a dona de casa Rosiclare Da Silva Cobo, de 44 anos, quem ajuda sua sogra, a aposentada Maria das Graças da Silva Cobo, 66, além do pai, de 92 anos, e o tio da aposentada, de 90, a consultar o INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) para saber se eles foram vítimas do desfalque de até R$ 6,3 bilhões em aposentadorias e pensões.

A utilização de aplicativo não é tarefa fácil para alguns idosos. Rosiclare ajuda Dona Maria das Graças, que já foi auxiliar de limpeza, para acessar o Meu INSS. "A orientação que eu vi é que a gente tem que pedir o cancelamento do desconto pelo aplicativo", diz a aposentada, que ainda não conseguiu acessar porque não encontrou a senha. "Eu pedi para redefinir a senha, e agora estou esperando para continuar mexendo", explicou Rosiclare.

A nora, que é dona de casa, enfrentou dificuldades. "Primeiro o aplicativo estava fora do ar. Depois consegui entrar e vi que nenhum deles teve desconto", diz ela.

Agora, ela quer ajudar o próprio pai, de 70 anos, que ainda não tem o aplicativo. "Quero levá-lo direto no INSS", diz ela. O governo diz que a solicitação deve ser feita apenas pelo app e pela Central 135.

A professora aposentada Maria Aparecida Barbosa, 83, critica a necessidade do aplicativo. "É terrível pra gente, sabe? Logo a gente não vai ter mais identidade própria com tudo eletrônico", disse ela, que contou com familiares para acessar o aplicativo e ter certeza de que não foi lesada. "Eu acompanho o que está acontecendo pela televisão, mas ela é manipulada e não dá pra acreditar em tudo."

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A aposentada Maria Aparecida Barbosa, 83, critica a necessidade do aplicativo. "É terrível pra gente"
Imagem: Wanderley Preite Sobrinho/UOL

O orçamentista aposentado Paulo Scarpello, 79, prefere ir ao banco. "Vou à Caixa Econômica tirar um extrato pra saber se descontaram alguma coisa", diz ele. "Eu não uso o aplicativo, nunca usei, nunca precisei usar. Agora é que surgiu essa história."

Ele diz que quase foi vítima de um golpe. "Recebi um telefonema dizendo que foi debitado R$ 929,44 da minha conta. Eu sei que é mentira, mas vai ter gente que vai cair no trote."

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Paulo Scarpello, 79. O aposentado prefere procurar seu banco a usar o aplicativo Meu INSS
Imagem: Wanderley Preite Sobrinho/UOL

O vigia aposentado Oscar Alves de Brito, 73, aposta na impunidade. "Essa doença é velha, estão roubando faz anos. Cada mês eu recebo um valor diferente de aposentadoria", diz ele, que não vai usar o aplicativo para saber se foi lesado por falta de confiança. "É tudo enrolado. Não dá pra reclamar. Todo aposentado é roubado."

Ninguém vai conseguir o dinheiro de volta. Já era.
Oscar Alves de Brito, 73

'Aplicativo é melhor'

A psicanalista Cláudia Monte, 65, não enfrentou problemas no aplicativo para descobrir que não descontaram de sua aposentadora. "É o melhor método para verificar. As pessoas precisam aprender a mexer, por isso a educação no país tem que melhorar", afirmou. Ela lamentou, no entanto, pelos aposentados com baixa instrução. "A maior parte [60%] dos lesados mora no Nordeste. É preciso enviar assistentes sociais para chegar a essas pessoas."

As instituições têm que cavoucar constantemente, porque o ser humano se encanta com dinheiro e poder. É uma pena.
Claudia Monte, 65

A decoradora aposentada Ana Maria Honigger, 75, fez tudo sozinha pelo aplicativo. "Já entrei no aplicativo e conferi", disse. "Mas foi muito difícil. É ruim para quem não tem o hábito de usar. Eu uso bastante internet e mesmo assim às vezes eu peno pra mexer. Precisam oferecer um jeito mais fácil para idosos porque muitos não têm essa intimidade."

Ana identificou um desconto associativo em maio. "Esse mês descontaram R$ 70 de alguma coisa sem eu autorizar. Não me lembro o nome da associação, mas já falei com o advogado", disse. "Nos meses anteriores não descontaram."

Eles descontam de pouquinho porque se tiram R$ 1.000 todo mês, a pessoa percebe. A gente se surpreende como tem gente que pode fazer uma coisa dessa com aposentado.
Ana Maria Honigger, 75

A professora aposentada Eliane Fruman, 66, acompanha cada detalhe do escândalo. "Vejo pelo jornal e internet. É o assunto do momento. Todo mudo está falando."

Ela conferiu o Meu INSS já no primeiro dia. "Foi bem tranquilo, não tive problema nenhum", disse ela. "O governo precisa encontrar as pessoas que não sabem ou não têm internet. Se a pessoa não tiver tecnologia, ela não será ressarcida?", questiona.

O que está acontecendo é um absurdo, uma falta de respeito, de empatia. Tirar dinheiro de idoso é o fim do mundo.
Eliane Fruman, 66

"Ninguém à margem"

Segundo o INSS, haverá "busca ativa" para encontrar todos os prejudicados. "O INSS vai atrás dessas pessoas por meios próprios (...) de busca ativa dessas pessoas, não deixando ninguém à margem", afirmou na terça (14) o presidente do instituto, Giberto Waller.

Como não há prazo para pedir o ressarcimento, o executivo pediu calma. "Tenham calma. Começou uma correria para acessar o aplicativo, mas não tem prazo [para pedir a devolução pelo app], e todos serão ressarcidos", disse.

1,6 milhão já pediram reembolso

Entre quarta (14) e segunda-feira (16), 1.667.508 pessoas pessoas consultaram o aplicativo para saber se houve desconto. Desses, 1.635.536 disseram que não autorizaram o débito e pediram reembolso. Outros 31.972 autorizaram o desconto.

Quase todas as consultas foram pelo Meu INSS. Enquanto 1,5 milhão utilizaram o canal, 135 mil pessoas preferiram ligar na Central 135.

Até o momento, 41 entidades foram contestadas. "O INSS intima automaticamente as instituições para que, em 15 dias úteis, mostrem a regularidade [do desconto] ou realizem o pagamento devido corregido pelo IPCA (índice oficial da inflação no Brasil)", afirmou o presidente.

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