Ao UOL Haddad diz que PIB crescerá 2,5% em 2025 e defende equilíbrio fiscal
Em entrevista concedida ao Canal UOL hoje, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, demonstrou otimismo com a economia brasileira e defendeu o compromisso da administração Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com o equilíbrio fiscal. Também ressaltou o empenho para conseguir a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês e garantiu que o governo federal está preocupado com a inflação dos alimentos, mas que os preços devem se acomodar.
Crescimento econômico
Haddad prevê um avanço de 2,5% para o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro em 2025. "Acredito que nós podemos concluir os quatro anos do mandato do presidente Lula com uma taxa média de crescimento de 3%", afirmou.
O Brasil está crescendo mais do que 9% em três anos. Portanto, mais do que 3% por ano. Eu acredito que a economia brasileira tem condições de crescer, de forma equilibrada, a uma taxa próxima da média mundial. Não vejo razão para o Brasil crescer menos.
Fernando Haddad, ministro da Fazenda
Avanço da economia surgirá mesmo com juros em patamar recorde. Para Haddad, a taxa Selic em 14,75% ao ano, o maior nível desde 2006, não vai inibir o crescimento do PIB. "Neste ano, mesmo com juros altos, nós vamos crescer alguma coisa em torno de 2,5%", projetou o ministro.
Equilíbrio fiscal
O ministro também destacou o compromisso com as contas públicas. Haddad afirmou que a condução da política fiscal, cujo desequilíbrio poderia atrapalhar a redução dos juros, será preservada. "Nós continuamos perseguindo as metas do arcabouço fiscal. Fizemos isso no ano passado, vamos fazer isso neste ano, vamos fazer isso no ano que vem", afirmou.
As regras fiscais são para valer, o governo tem compromisso com isso.
Fernando Haddad, ministro da Fazenda
Para Haddad, o equilíbrio fiscal não deve impedir a distribuição de renda. "Vou fazer tudo o que for necessário para cumprir as metas estabelecidas pelo governo, para que as coisas se acomodem no patamar que eu considero satisfatório para a economia crescer com distribuição de renda", disse ele.
Ministro ironizou economistas que criticam a igualdade social no Brasil. Segundo Haddad, o Brasil atravessa o melhor momento de distribuição de renda da história recente. "Tem economista que quer saber das coisas dele, e se o povo estiver comendo mais, comendo menos, tanto faz. Eu não sou dessa escola", afirmou.
Inflação
Haddad diz que o avanço dos preços pode ser "acomodado". Ele considera que o arrefecimento da inflação passa pelo cumprimento das metas fiscais e a atuação do BC (Banco Central) com a definição das taxas de juros. "Nós tivemos uma desvalorização cambial no ano passado, em virtude de questões domésticas, mas também muito questões externas", observou.
Essa confusão que está no mundo, isso afeta todas as economias. Tem economia que está com uma inflação mais baixa que a nossa, mas com crescimento zero.
Fernando Haddad, ministro da Fazenda
Ele afirmou que grupo no ministério estuda a inflação do café. Ao comentar sobre os preços do grão, que saltou mais de 80% no acumulado dos últimos 12 meses, Haddad disse que as variações são acompanhadas pela equipe econômica. "Como nós vamos lidar com esse aumento de demanda internacional?", questionou.
Haddad avalia que a demanda da população por café não tem sido suprida pela produção, daí o aumento de preços. "Estamos tomando bastante café. Mas o que eu quero dizer, não é simples, porque um pé de café não é um pé de feijão. "Você tem três safras de feijão por ano, mas não tem um pé de café todos os anos", disse.
Reforma do Imposto de Renda
Haddad defendeu a isenção do IR a quem recebe até R$ 5 mil por mês. O ministro defendeu que o tema seja tratado com prioridade pelo Congresso Nacional por garantir a isenção a 15 milhões de brasileiros a partir da cobrança de 141 mil super-ricos.
É a primeira vez que um governo muito progressista apresenta uma proposta para fazer o mínimo de justiça e tem gente reclamando. Essa proposta tinha que ser aprovada em 15 dias.
Fernando Haddad, ministro da Fazenda
Mais ricos "escapam" do Imposto de Renda, diz Haddad. Na avaliação do ministro, a reforma proposta vai resultar na correção da tabela defasada contra nos últimos 30 anos, que pesa contra o trabalhador assalariado. "Nós já conseguimos taxar os fundos fechados, que eram aqueles fundos familiares que ninguém botava a mão", afirmou.
Escândalo no INSS
Haddad disse que investigação independente respinga contra o governo. A avaliação do ministro considera os descontos fraudulentos na folha de aposentados e pensionistas do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). Para o ministro, a CGU (Controladoria-Geral da União) provou independência ao entregar a investigação à Polícia Federal e não ao governo.
Quando a PF está envolvida, "não se trata mais de um governo", disse. "É uma instituição de Estado. É o Estado brasileiro reprimindo o crime", ressaltou o ministro. "Quem vai jogar o método de responsabilização é a autoridade competente", complementou durante a entrevista. Ele classificou o crime como "uma coisa indigna" que "enojou" o Brasil.
Quando você cria uma controladoria com autonomia, se amanhã um amigo teu, um parente, está fazendo uma coisa errada, ele vai junto. E graças a Deus que funciona assim.
Fernando Haddad, ministro da Fazenda
Ministro da Fazenda cobrou "punição exemplar" aos fraudadores. Haddad lembrou que os órgãos de controle já bloquearam recursos das associações envolvidas na fraude. "A questão penal não esgota o assunto. Nós temos a questão civil, da reparação. Nós vamos ter um procedimento de checagem para saber exatamente quem não autorizou e estabelecer o ressarcimento", disse.
Guerra comercial
Brasil não vai escolher entre China e EUA, afirmou o ministro. A avaliação considera que as duas maiores economias do mundo são importantes para o país. "A China é o maior parceiro comercial do Brasil hoje, há muitos anos já. Então, como você vai prescindir disso? Os Estados Unidos têm a tecnologia de ponta que ninguém domina no nível que eles dominam", ponderou.
O presidente Lula não vai fazer essa escolha [entre China ou Estados Unidos].
Fernando Haddad, ministro da Fazenda
O presidente Lula acredita no multilateralismo, disse Haddad. "Ele [Lula] pensa que o Brasil, sobretudo pela sua dimensão, peso específico, nem pode pensar em outra política que não seja multilateral. O fato de que, na mesma semana em que ele estava na China, eu estava nos Estados Unidos, deveria significar alguma coisa para um observador isento", reforçou.
Ele cobrou olhar generoso dos EUA para o para a América Latina. Haddad disse que a questão foi defendida por ele durante encontro com o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent. "Sob o meu ponto de vista, os Estados Unidos deveriam olhar com mais generosidade para a América Latina e para a América do Sul", disse ao avaliar que as regiões têm déficit comercial com os EUA.
Mercado de trabalho
Governo quer olhar "com atenção" para a escala de trabalho 6x1. A mudança em tramitação no Congresso foi defendia pelo presidente Lula em pronunciamento no dia 1º de maio, Dia do Trabalhador. "Quando você trata do dia a dia das pessoas, quando você puxa as bandeiras para o que é comum a todos nós, fica mais fácil interagir", disse Haddad.
Haddad reconheceu que o avanço tecnológico vai substituir funções. Ele classifica que existe a mudança da natureza do processamento de dados, o que vai impactar no mercado de trabalho. "Você está parando de ensinar à máquina o que é uma coisa e fazendo a máquina aprender o que é essa coisa. É outro mundo", avaliou o ministro da Fazenda.
Ele criticou as taxas de juros para os empréstimos a trabalhadores. O ministro disse acompanhar o tema "de perto e com cuidado" sobre o consignado para os profissionais com carteira assinada. "Nós estamos olhando para ver se tem alguma instituição financeira que está abusando, que está fazendo bullying com a pessoa. Pode estar acontecendo isso", relatou.
Ministro garantiu que a medida visa melhorar a vida das pessoas. "O que eu sei é que tem muita gente no agiota, tomando crédito a 5%, 6%, 7% ao mês", lamentou Haddad. Segundo ele, a medida derruba pela metade taxas do consignado para trabalhadores celetistas.
Tem um aprendizado do governo, tem um aprendizado da população, do próprio sistema bancário para nós evitarmos o superendividamento quanto utilizarmos uma ferramenta moderna.
Fernando Haddad, ministro da Fazenda
Data centers no Brasil
Haddad defendeu o processamento de dados em território nacional. "O Brasil tem energia limpa e barata, o Brasil tem um cabeamento superior aos seus vizinhos, de melhor qualidade. O país tem tudo para processar aqui os seus dados, inclusive por razão de segurança", afirmou. "Como é que você vai processar dados, por exemplo, protegidos por sigilo? Hoje os bancos já estão fazendo isso; estão mandando seus dados para os Estados Unidos, processando lá e trazendo as informações por inteligência artificial para cá."
E quando forem dados públicos? Quando você vai fazer processamento de dados de contribuinte ou de dados do SUS, como é que você vai processar isso tudo fora? Não só nós vamos ter que ter data centers no Brasil, como alguns data centers terão que ser protegidos em virtude do tipo de dado que ele processa.
Fernando Haddad, ministro da Fazenda