Celulares não pagam taxas? Entenda as novas regras de Trump
Após estender o prazo das tarifas recíprocas para os países listados, Donald Trump abriu outra exceção para importação de semicondutores e produtos eletrônicos, como notebooks e celulares. Na última sexta-feira, um dia antes das tarifas de 145% em produtos chineses entrarem em vigor em solo norte-americano, a Casa Branca publicou a ordem executiva que trazia uma lista com "produtos isentos", dentre os quais os aparelhos celulares e os semicondutores.
Também conhecido como chips, os semicondutores são processadores altamente potentes capazes de gerar conexões mais rápidas em aparelhos eletrônicos. Com uma cadeia complexa, que envolve desde mineradores na República Democrática do Congo ao Brasil até o design das peças nos EUA e Europa, esses produtos são essenciais para indústria, sobretudo a automotiva, de celulares e do crescente segmento de inteligência artificial.
O que aconteceu
O controle alfandegário dos EUA isentou aparelhos celulares e notebooks. Na sexta-feira, a US Customs and Border Protection anunciou uma lista de aparelhos eletrônicos que não estariam sujeitos à imposição de tarifas de importação. Na ordem executiva, publicada em 2 de abril, sobre a regulamentação de importações com a tarifa recíproca para retificação de práticas comerciais globais, havia uma lacuna para possibilidade de exceções à regra tarifária.
Donald Trump diz que não irá recuar, apesar do recuo temporário. Ontem, domingo, ele comentou que não haveria tido "exceção tarifária", já que esses produtos ainda estariam sujeitos às primeiras taxas impostas por ele, de 20%, em razão da importação de fentanil. Além disso, Trump ressaltou que o time de planejamento comercial dos EUA estaria analisando um novo regime tarifário para o segmento. Nas redes sociais, Trump disse que ninguém sairia impune e que os produtos isentos estão "apenas sendo movidos para um 'balde' tarifário diferente".
Outros representantes do governo Trump se pronunciaram sobre a isenção. O secretário do comércio Howard Lutnick disse que os aparelhos eletrônicos "farão parte das tarifas setoriais de semicondutores, que estão chegando. Precisamos que essas coisas sejam feitas na América".
Planejamento mantido. Enquanto isso, Peter Navarro, principal mentor da política tarifária de Donald Trump, disse que o que tudo está dentro da mesma "estratégia" e se mostra confiante de que os países irão negociar melhores condições comerciais com os EUA. Expectativa essa que o representante comercial dos EUA e embaixador Jamieson Greer enfatizou: "Meu objetivo é fechar acordos significativos antes de 90 dias [prazo para as tarifas começarem a valer]".
Quais foram as reações à isenção de eletrônicos?
As tarifas de Trump também recaem nas empresas norte-americanas. Os especialistas ouvidos pelo UOL Economia entendem que é muito provável que as empresas de tecnologia tenham influenciado a decisão do presidente. "Apesar de não estar pública, é certeza que essa pressão está acontecendo", comenta Stefânia Ladeira, especialista em comércio exterior e gerente de produtos da Saygo Comex.
A China exige a reversão completa das tarifas e diz que a exceção para iPhones ainda é irrelevante. O Ministério do Comércio publicou um comunicado que dizia que a isenção de importação sobre produtos chineses ainda era um "pequeno passo". Atualmente, a China é um dos únicos países que já estão sendo obrigados a arcar com as tarifas de Trump, sendo taxados em 145% na maioria dos produtos.
Chineses saem ganhando. Para o professor de economia da Universidade Anhembi Morumbi, Rodrigo Simões, a China tem a paciência para esperar a presidência de Trump acabar e renovar as negociações com um novo governo. "A presidência de Trump abre as portas para a esquerda norte-americana e joga os países no colo da China", diz.
Os Estados Unidos deixaram de ser apenas um país industrializado para ser também um mercado consumidor. Além de enfatizar esse processo, Simões destaca que, por causa dessa característica, as empresas norte-americanas acabam sendo principais empresas taxadas quando o alvo são produtos de alto valor agregado, como aparelhos eletrônicos. Sobretudo, porque essas empresas migraram sua produção para países mais competitivos na cadeia global de produção. De fato, parte das justificativas de Trump para as taxações é a reindustrialização dos EUA.
Pela primeira nos EUA, Nvidia espera fabricar até US$ 500 bilhões em infraestrutura de IA. Segundo a empresa, o projeto será viabilizado em parceria com indústrias que vão construir fábricas no Arizona e no Texas. A produção dos chips Blackwell, considerados essenciais para sistemas avançados de inteligência artificial, já começou nas instalações da TSMC (Taiwan Semiconductor Manufacturing Company) em Phoenix. No Texas, fábricas que serão operadas com Foxconn, em Houston, e Wistron, em Dallas, devem entrar em operação em 12 a 15 meses.
A produção da Apple está concentrada na Ásia. Segundo o relatório de fornecedores da Apple de 2023, mais de 66% da produção da marca se concentra na China, Taiwan, Japão, Vietnã e Coreia do Sul. Os Estados Unidos são responsáveis por apenas 5%. Segundo Stefânia, é possível que as empresas norte-americanas realoquem a produção em países onde as taxas de importação sejam menores. Porém, ressalta que é improvável que a produção se concentre totalmente no EUA.
Antes das tarifas, a Apple importou um adicional de 5,3 milhões de iPhones da Chinas. Dados da consultoria IDC mostram que o aumentou chegou à 10% nos embarques no primeiro trimestre de 2025. Entre janeiro e março, a empresa enviou 57,9 milhões de unidades para os EUA. Porém, a Apple anunciou que investirá mais de US$ 500 bilhões nos EUA nos próximos quatro anos, com a expansão de instalações em dez estados e a criação de uma nova planta no Texas.