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Contra tudo e contra todos: por que a Bolsa está em alta neste ano?

Lílian Cunha

Colaboração para o UOL

18/02/2025 16h00

Parece até superstição: foi só o ano virar de 2024 para 2025 que a Bolsa deixou o negativo e passou a subir. Depois de fechar o exercício anterior com baixa de 10,36%, o principal índice da Bolsa brasileira acumulava alta anual de 6,6% em reais e de 15,23% em dólares até 14 de fevereiro.

Mas se os gastos do governo continuam altos, o pacote de cortes não mudou essa situação, os juros continuam lá em cima, o que faz a Bolsa se valorizar tanto? Fatores internacionais, o bom desempenho do balanço das empresas no quarto trimestre e uma especulação sobre os próximos meses, segundo os especialistas, podem estar por trás dessa virada.

O que está acontecendo?

Antes mesmo da posse do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em 20 de janeiro, o Ibovespa já estava valorizando. Na primeira semana cheia do ano, de 6 a 10 de janeiro, o Ibovespa subiu 0,27%. Até a posse, a alta havia sido de 2,14%. Os dados são da Economatica.

O que mudou nesse período? O mercado todo previa que o ano ia ser ruim para a Bolsa. "Até a gente aqui tinha uma visão ruim. Mas, contra todos e contra tudo, o Ibovespa virou", diz Matheus Amaral, especialista em renda variável do Inter.

O fator principal foi a volta do investidor estrangeiro. "A gente achava que o estrangeiro iria para o mercado indiano ou para a Argentina, mas o fato é que a Bolsa brasileira estava muito barata para ser ignorada", explica Amaral.

A relação Preço x Lucro da Bolsa está em média em 7 vezes, diz o especialista. Essa relação é o Preço sobre Lucro, ou P/L. Quanto menor esse número, teoricamente mais barata está a ação. O cálculo é feito dividindo-se o preço do papel pelo lucro por ação. Na maior parte dos setores da economia, um P/L abaixo de 10 já pode ser considerado baixo.

Isso gerou um efeito bola de neve. O estrangeiro veio aproveitar os preços baixos e sua chegada fez o dólar cair. Com a moeda americana em baixa também internacionalmente, os retornos na Bolsa aumentam para o investidor de fora, o que torna o Brasil mais atraente.

Só em janeiro, o investidor internacional aplicou R$ 7,4 bilhões na Bolsa. Em dezembro, haviam sido R$ 903 milhões. No primeiro mês deste ano foi aplicado um quarto de tudo que as pessoas físicas colocaram na Bolsa em todo o ano de 2024.

Efeito Trump

Com a posse de Trump nos EUA e o tarifaço que ele impôs a vários países, esperava-se um efeito negativo no Ibovespa. Mas não foi o que aconteceu. "Parecia que o mercado ia estressar, mas, ao contrário, o investidor entendeu que Trump está disposto a negociar, a se sentar e tentar avaliar caso a caso de forma setorial. E o mercado acabou gostando disso", diz Alison Correia, analista de investimentos e sócio fundador da Dom Investimentos.

E aí veio o Copom?

Fevereiro chegou com a ata da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária). Nela, o Banco Central fala de um aumento em março, mas deixou a reunião de maio em aberto. Juros altos são ruins para a Bolsa, uma vez que encarece os financiamentos das empresas e aperta a situação econômica do consumidor. "Essa reunião em aberto sinalizou para o mercado que pode haver um alívio nos juros", diz Amaral. E toda vez que o mercado prevê isso, ele se adianta e compra ações.

Resultado das empresas

Neste mês, também começou a temporada de balanços das empresas, com os resultados do quarto trimestre de 2024. E ela tem sido positiva, até agora. "Em nossa opinião, esse recente movimento de alta da Bolsa pode sinalizar maiores expectativas em relação ao crescimento dos lucros na temporada de balanços em curso, ou mesmo uma eventual percepção de que as taxas de juros podem ter uma curva descendente mais forte a partir de 2026, o que, se concretizado, tende a favorecer o investimento em ações", publicou o BB Investimentos, sobre essa nova fase do Ibovespa.

E como pode ser daqui para frente?

A maré de ganhos pode continuar, segundo prevê o Itaú BBA. O banco prevê que as empresas devem apresentar nesta temporada bons números para o quarto trimestre de 2024, excluindo commodities, ou seja, produtos básicos, como minério de ferro. A economia chinesa no último trimestre do ano passado atrapalhou esse setor. As chuvas no Rio Grande do Sul também não foram boas, por exemplo, para a safra de soja. Mas os setores que devem crescer mais, segundo o Itaú, são o de empresas voltadas para a economia doméstica e o financeiro (bancos). Esses bons ganhos mostrados nos balanços podem ajudar o Ibovespa.

Mas é aconselhável ficar de olho no noticiário. "O Ibovespa é muito atrelado ao que acontece, então as coisas podem mudar a todo momento", diz o especialista do Banco Inter.

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