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Juro real é bem maior que a Selic, e é preciso olhar spread, diz Galípolo

Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central - Reprodução / Reinaldo Canato/Folhapress
Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central Imagem: Reprodução / Reinaldo Canato/Folhapress

Do UOL, em São Paulo

14/02/2025 12h37

O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse que as taxas de juros pagas pelas famílias e pelos empreendedores são bem maiores que a taxa básica de juros, a Selic, e que há a necessidade de se olhar para o spread bancário no país. Ele participou de um encontro com empresários na sede da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), na manhã desta sexta-feira (14).

O que ele disse

Juros reais estão descolados da taxa básica de juros. Ao tratar dos desafios atuais do país, Galípolo falou da necessidade de se difundir o crédito de baixo custo para a população e disse que o tema está relacionado a melhores garantias e redução da percepção de risco.

Quando olhamos para as taxas de juros pagas por empreendedores e famílias, eles estão descolados da taxa básica de juros, são bem maiores. Há uma agenda sobre o spread bancário e de como conseguir fazer o crédito baixo custo ganhe importância em relação ao de alto custo.
Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central

Presidente da Febraban disse que spread alto não interessa ao setor. Presente no evento, o presidente da Febraban, Isaac Sidney, disse que o spread alto como o atual não é do interesse do setor bancário. Ao final do encontro, Galípolo citou Isaac e disse que o setor bancário tem sido um parceiro do BC, inclusive na agenda de aumento da oferta de crédito de baixo custo para a população.

Juros altos com quase pleno emprego são desafio de uma geração. O presidente do BC falou sobre o fato de o Brasil conviver com taxas de juros altas e ter uma economia dinâmica, próxima do pleno emprego. "Esse tema me parece um desafio geracional, de como a gente consegue normalizar os canais de transmissão de política monetária, é algo de longo prazo, mais estrutural", disse.

Brasil cresceu mais que o projetado por quatro anos seguidos. Ao comentar o cenário nacional, Galípolo destacou que o país cresceu mais do que o esperado por quatro anos seguidos. Dentre as possíveis explicações para esse crescimento, ele cita as reformas ocorridas nos últimos anos, que podem ter gerado ganhos de produtividade, mas disse que o tema ainda precisa de mais análise. Outro ponto levantado pelo presidente do BC é que o pagamento de precatórios atrasados pode ter levado a um impulso para a economia.

Relação dívida/PIB foi melhor que o esperado. Ao tratar da questão fiscal, Galípolo disse que a relação dívida/PIB teve números melhores que o esperado. "O que me leva a intuir que talvez o que tenha ocorrido é menos um gasto fiscal adicional e mais que o tipo de gasto teve um impacto na economia maior que o esperado, e isso atribuo a uma política tributária e fiscal mais progressiva".

Cenário gerou pressão inflacionária que levou a um aumento dos juros. "Se somamos a economia mais resiliente, com mínimo de desemprego, o crescimento da renda elevado, anos excepcionais para a indústria, para a construção civil e serviços, com um cenário de desvalorização cambial acentuada, e impacto climáticos que afetaram a produção de alimentos, passamos a ver uma pressão inflacionária mais alta, e isso aí gabarita as razões para iniciar o ciclo de alta de juros", disse.

População não tem proteção contra a perda de poder aquisitivo. Galípolo ouviu apelos de empresários incomodados com a taxa de juros. Dentre eles estava Luiza Trajano, presidente do conselho de administração do Magazine Luiza. Ao final, o presidente do BC reforçou a importância de controlar a inflação e disse que a população não tem proteção contra a perda de poder aquisitivo da moeda.

Já foi dito que a maneira mais rápida de causar dano a um país é atacar a sua moeda. O Banco Central é o guardião da moeda. É óbvio que os juros afetam as diversas camadas da sociedade de maneiras distintas. Mas se tem alguém que não tem proteção contra a perda de poder aquisitivo é a população e é por isso que o mandato do BC é importante.
Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central

Cenário externo

Ainda existem incertezas sobre os impactos da política de tarifas de Trump. Sobre os impactos das políticas tarifárias do governo de Donald Trump nos Estados Unidos, Galípolo disse que ainda é preciso entender as medidas efetivas que serão tomadas e quais as repercussões dessas medidas. "Existe um prêmio considerável de incerteza de qual será a política e seus impactos e isso tem influenciado a dinâmica de preços dos ativos", disse.

Políticas de Trump podem tornar Brasil mais atraente a investidores, em comparação com o México. Sobre o cenário internacional, Galípolo disse que o crescimento da economia dos Estados Unidos após a pandemia fez com que o México, como um parceiro comercial mais próximo dos EUA, se tornasse mais atraente para investidores. Com as recentes políticas de Trump de guerra tarifária, o cenário pode se inverter.

Em 2024, a liquidez da economia americana provocou uma visão mais positiva sobre o que poderia acontecer com o México, em comparação com o Brasil. A partir da vitória de Trump, há uma inversão. A menor relação do Brasil com os EUA induziu a uma sensação por parte dos agentes de que eventualmente a política de tarifas pode prejudicar mais o México do que o Brasil. Não é que é melhor para o Brasil, mas talvez seja mais prejudicial para o México, o que pode levar a posições de investimento no Brasil.
Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central

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