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Taxas são bravata de Trump para forçar negociações, dizem especialistas

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Imagem: Getty Images

Renan Honorato

Colaboração para o UOL, de São Paulo

13/02/2025 09h03

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou um conjunto de decisões que podem afetar a relação comercial com o Brasil. Na segunda-feira (10), o executivo decretou a imposição de tarifas de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio, eliminando isenções concedidas no governo anterior. A previsão é que o acordo passe a valer a partir de março.

Avaliação do governo e de especialistas

O governo federal encara o tarifaço como um blefe. Foi o que apurou a jornalista Letícia Casado no UOL. A avaliação do governo é que o decreto de Donald Trump faça parte de uma estratégia para forçar melhores condições comerciais em futuras negociações entre os países.

Negociação deve se dar no campo da diplomacia. Segundo Roberto Uebel, economista e professor de relações internacionais na ESPM, a diplomacia exerce um papel fundamental neste momento em que pronunciamentos precisam ser feitos enquanto negociações acontecem.

Essa política isolacionista não faz sentido para os EUA. Ao menos, é o que avalia o professor na EASP-FGV, Renan Pieri. Para ele, essa estratégia é uma carta em um jogo de negociações do presidente Trump. "Quando o Trump cria essa bravata, e vai para mesa negociar esses impostos, pode ser que os americanos ocupem uma posição melhor nas negociações", comenta. Na semana passada, o presidente pressionou o Canadá e o México a fornecerem dez mil soldados para o controle da fronteira em troca da redução de novas tarifas impostas.

A política externa de Donald Trump é contraditória. Na avaliação de Uebel, os Estados Unidos estão contradizendo os acordos bilaterais formalizados durante o primeiro mandato. Em 2020, o Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA, em inglês) substituiu o tratado de livre comércio da América do Norte, vulgo NAFTA. Com essas novas tarifas sobre aço, México e Canadá também podem ser afetados. "Nem a Coréia do Norte, um dos países mais fechados do mundo, é autossuficiente. É ingênuo imaginar que os EUA teriam essa autossuficiência em toda sua indústria", explica.

Como o Brasil chega à mesa de negociações?

Atrás apenas do Canadá, o Brasil é o segundo maior fornecedor de aço para os Estados Unidos. O país importa cerca de 312.293 toneladas mensalmente. Em 2024, o EUA importou mais de 5,6 milhões de toneladas de placas de aço, das quais, 3,4 milhões são de origem brasileira, segundo o Instituto Aço Brasil. Apesar disso, a balança comercial ainda é positiva para os Estados Unidos, já que o Brasil importa um conjunto maior de bens de alto valor agregado, como aparelhos eletrônicos.

O governo brasileiro precisa encontrar uma resposta adequada para as políticas de taxação que não prejudique ainda mais as relações comerciais do Brasil. Inclusive, que possam impactar outros setores, como o agronegócio.
Roberto Uebel, da ESPM

Apex Brasil e a Agência Brasileira de Cooperação precisam avaliar novos players. Segundo o especialista, essas agências do comércio precisam mapear possíveis parceiros comerciais alternativos, como Índia e China.

Busca de novos mercados como alternativa. "Se esse cenário das tarifas se concretizar, quais são as possíveis alternativas de promoção comercial do Brasil no exterior e de busca de novos mercados. Se tenho a lógica do setor privado, para onde posso exportar para suportar esse novo impacto tarifário", propõe Uebel. Ele ainda destaca a importância de fóruns multilaterais e eventos setoriais neste processo de mapeamento de alternativas de longo prazo.

Qual a justificativa de Trump para as tarifas?

Essa não é a primeira vez que Trump utiliza dessa estratégia. Em 2018, ainda em seu primeiro mandato, o presidente tinha imposto uma taxa de 25% sobre a importação de aço e de 10% em alumínio. Na época, o governo norte-americano criou uma lista de exceção com alguns países, como Canadá, México e Brasil. Em um momento da negociação, a taxação do alumínio foi de 145%.

Donald Trump taxa as relações em que os EUA têm desvantagem. Para Uebel, a postura do presidente Donald Trump está relacionada ao protecionismo e isolacionismo, que precedeu a Primeira Guerra Mundial. Neste cenário, a política das super taxações se relaciona às percepções pessoais de Trump do próprio país, em que, os Estados Unidos estariam em desvantagem nas relações comerciais mundiais.

Desde 1980, mais de 40 mil empresas decretaram falência nos EUA. Segundo o levantamento do Trading Economics, os protocolos de falência empresarial nos EUA aumentaram em 33%, totalizando 22 mil até setembro de 2024.

Trump tenta fragmentar a ordem multilateral para impor sua própria visão de mundo. Ele pensa que essas medidas podem atrair empresas norte-americanas que estão operando no exterior de volta para o país. Uma operação dessas não acontece da noite para o dia. Será que é viável que empresas como Nike, Puma e Adidas parem de produzir no leste asiático e voltem para os Estados Unidos? Acreditamos que não.
Roberto Uebel, professor de relações internacionais da ESPM

Trump mistura a geopolítica com a economia. Em meio as discussões sobre os deportados entre Trump e o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, foi avaliado um possível impacto no preço do café nos EUA, principal importador do grão colombiano. A projeção do Serviço Agrícola Estrangeiro do Departamento de Agricultura dos EUA, a safra do café na Colômbia é estimada em 12,9 milhões de sacas.

O EUA corre risco de inflação. Com as super taxas de Trump, a oneração dos custos recai principalmente no consumidor final, já que importadoras e redes de supermercado não costumam arcar com esse tipo de taxação.

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